16/Dec/2025
Relatório divulgado neste mês pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) reforça o cenário de ampla disponibilidade global do trigo na temporada 2025/2026 e mantém a pressão sobre as cotações externas do cereal. O reajuste positivo na oferta, acompanhado por um crescimento mais moderado do consumo, elevou os estoques globais e limitou a recuperação dos preços, apesar das tensões geopolíticas na região do Mar Negro. A produção mundial de trigo para a temporada 2025/2026 deve alcançar 837,81 milhões de toneladas, volume 1,1% superior ao projetado em novembro e 4,6% acima do registrado em 2024/2025. O avanço reflete, sobretudo, revisões positivas nas estimativas da União Europeia, Índia, Rússia, Canadá, Austrália e Argentina entre os relatórios de novembro e dezembro. O consumo global também deve crescer, porém, em ritmo menos intenso do que a produção. A demanda é estimada em 822,97 milhões de toneladas, alta de 0,5% em relação a novembro e de 1,5% na comparação anual. Destacam-se aumentos no consumo da União Europeia, Argélia, Indonésia e Canadá.
Com produção acima do consumo, os estoques finais mundiais foram revisados positivamente, totalizando 274,87 milhões de toneladas, 1,3% acima da projeção do mês anterior e 5,7% superiores aos da temporada 2024/2025. As transações internacionais também tendem a avançar. O comércio global foi estimado em 218,71 milhões de toneladas, incremento de 0,5% de novembro para dezembro e de 7% frente à temporada passada, com destaque para maiores exportações do Canadá, da Austrália e da Argentina, além do aumento das importações da Indonésia, da Argélia e das Filipinas. Diante da maior oferta global, os preços internacionais estão pressionados. Na Bolsa de Chicago, o contrato Dezembro/2025 do trigo Soft Red Winter registra recuo de 0,6% nos últimos sete dias, para US$ 5,34 por bushel (US$ 196,40 por tonelada). Na Bolsa de Kansas, o Hard Winter tem recuo de 4,7%, a US$ 4,98 por bushel (US$ 183,26 por tonelada). As perdas, contudo, são limitadas pelo aumento das tensões geopolíticas na região do Mar Negro.
No Brasil, com a aproximação do encerramento da temporada de 2025, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) revisou para cima a estimativa de produção, refletindo ajustes positivos para Santa Catarina e Paraná. Apesar de adversidades pontuais em algumas regiões, o clima, de modo geral, favoreceu o desenvolvimento da cultura ao longo do ciclo. A produção nacional foi estimada pela Conab em 7,961 milhões de toneladas, 3,6% acima da projeção de novembro e 0,9% superior à de 2024. A produtividade média foi calculada em 3,257 toneladas por hectare, avanços de 3,6% frente ao relatório anterior e de expressivos 26,3% em relação à safra passada. A área permaneceu estável na comparação mensal, mas recuou 20,1% em relação à temporada anterior. Com o aumento da produção, os suprimentos totais devem atingir 16,04 milhões de toneladas. As exportações foram revisadas positivamente em 10% de novembro para dezembro, totalizando 2,24 milhões de toneladas.
Mesmo considerando o avanço da demanda total, o estoque de passagem para agosto/2026 foi estimado em 1,987 milhão de toneladas, o maior volume desde 2020. Conforme divulgado no dia 12 de dezembro, o governo federal autorizou a Conab a promover leilões para incentivar a comercialização e o escoamento do trigo, com recursos de R$ 67 milhões. A iniciativa é voltada a produtores de Estados em que os preços de mercado estão abaixo do mínimo e contempla o escoamento de trigo em grão das safras 2024/2025 e 2025/2026, por meio de Pepro (Prêmio Equalizador Pago ao Produtor Rural) e PEP (Prêmio para Escoamento de Produto). No mercado interno, os preços no Rio Grande do Sul e no Paraná permaneceram próximos da estabilidade na semana passada. Agentes seguem retraídos no mercado spot, diante de volumes confortáveis de abastecimento e da preferência por voltar às negociações a partir de janeiro. A dificuldade de consenso entre compradores e vendedores também contribuiu para a baixa volatilidade das cotações.
Nos últimos sete dias, os preços no mercado balcão (valor pago ao produtor) se mantêm estáveis no Paraná, tem alta de 0,12% no Rio Grande do Sul, mas queda de 1,06% em Santa Catarina. No mercado de lotes, as cotações apresentam baixa de 0,22% no Rio Grande do Sul e 0,71% em Santa Catarina, enquanto registram alta de 0,16% no Paraná e 1,3% em São Paulo. O governo argentino anunciou a redução das retenciones (imposto de exportação de grãos), medida que tende a aumentar a competitividade do país no mercado global. Para o trigo, a tarifa foi reduzida em 2%, de 9,5% para 7,5%. Quanto aos preços, os valores FOB divulgados pelo Ministério da Economia apresentam recuo de 1% nos últimos sete dias, a US$ 207,00 por tonelada. Segundo a Bolsa de Cereais de Buenos Aires, dados de 11 de dezembro indicam que a colheita de trigo na Argentina atingiu 60,2% da área cultivada. Fonte: Cepea. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.