16/Jun/2025
A liquidez do mercado continua baixa com negociações apenas de lotes pontuais. Os moinhos recebem trigo importado em meio à entressafra nacional e seguem retraídos nas negociações. Os produtores voltam as atenções para as atividades de campo da próxima safra. Neste cenário, as cotações do trigo em grão seguem pressionadas desde abril, quando atingiram os maiores valores do ano. O indicador Cepea/Esalq apresenta queda de 1,9% no preço pago ao produtor no Paraná e de 1,6% para trigo do Rio Grande do Sul em um mês. No Rio Grande do Sul, a comercialização é da mão para boca. De um lado, a indústria moageira está retraída diante da menor moagem, dos preços de farinha descolados, das cotações do cereal e das margens apertadas.
De outro, o cereal argentino mantém alta competitividade ante o trigo local, o que atrai a demanda dos moinhos. O trigo argentino é cotado a R$ 1.550,00 por tonelada CIF moinho de qualidade superior, enquanto o produto do Rio Grande do Sul gira em torno de R$ 1.300,00 por tonelada FOB interior. Além disso, há pouco volume disponível no Brasil em meio à entressafra nacional e com baixa qualidade. Ainda no Rio Grande do Sul, os agentes acompanham também o progresso do plantio da safra nova. As chuvas registradas no Estado atrapalharam a semeadura, mas a expectativa é de que 25% da área esteja semeada. No máximo, 1 milhão de hectares serão semeados.
O plantio está levemente atrasado, mas nada que prejudique o andamento da safra. As estimativas oficiais da safra de trigo de 2025 do Estado serão apresentadas nesta semana pela Emater-RS. A Emater-RS informou que 12% da área prevista para o Estado já foi semeada. A excessiva umidade no solo e as chuvas atrapalharam o plantio da cultura em diversas regiões, até mesmo causando erosão. Os agricultores aguardam condições climáticas melhores para avançar na operação. O desenvolvimento dos cultivos está estagnado devido à alta nebulosidade. O plantio deverá se intensificar à medida que as condições climáticas permitirem os trabalhos de campo.
No Paraná, o mercado de trigo segue travado, com pouca liquidez e forte pressão exercida pelo cereal importado, especialmente o argentino. A entrada de produto de fora, somada à retração da indústria em novos negócios, tem limitado as negociações mesmo em meio à entressafra. Na região de Ponta Grossa, o trigo CIF moinho está cotado entre R$ 1.450,00 e R$ 1.500,00 por tonelada, mas apenas volumes pequenos têm sido movimentados. O moinho deixa claro: acima de R$ 1.450,00 por tonelada só se for trigo argentino. O trigo brasileiro só entra se estiver abaixo disso ou muito perto, e mesmo assim tem que chegar rápido. Além do diferencial de preço, muitas cooperativas e tradings internalizaram trigo nos últimos meses. Com o dólar em queda, esse produto ficou ainda mais atrativo.
A conta logística também pesa. Embora parte do cereal argentino ainda chegue por caminhão via fronteira, cresceu o volume recebido por porto, especialmente em Paranaguá (PR) e São Francisco do Sul (SC). O problema da greve da Receita Federal nas aduanas atrasou muito o trânsito por rodovia. Com isso, tem compradores preferem retirar no porto e levar direto. No mercado interno, a indústria opera com estoques e segue em ritmo lento. Há muitos moinhos em manutenção, ou carregando, ou em expurgo. Poucos estão comprando agora. Quando há alguma sinalização, os preços indicados são de R$ 1.450,00 por tonelada, para entrega em julho e pagamento em agosto. Só ocorrem negócios pontuais.
Os produtores não cedem facilmente. Para vender FOB na região de Ponta Grossa, só a R$ 1.500,00 por tonelada. Em áreas com milho 2ª safra, há exceções: alguns produtores buscam liberar espaço e aceitam vender a preços mais baixos, mas o custo do frete limita o negócio. Sai do campo entre R$ 1.430,00 e R$ 1.440,00 por tonelada e chega no moinho por R$ 1.450,00 por tonelada. As indicações para a safra nova também não animam. Os moinhos indicam R$ 1.400,00 por tonelada CIF para novembro e até R$ 1.450,00 por tonelada CIF para outubro, mas o produtor se mantém cauteloso. Com redução de área e clima ainda incerto no final do ciclo, estes agentes estão retraídos. O cenário climático no Paraná é positivo até o momento.
De acordo com boletim divulgado pelo Departamento de Economia Rural (Deral/Seab), as chuvas dos últimos dias chegaram no momento certo e beneficiaram o plantio e o desenvolvimento inicial das lavouras. A estimativa atual é de que 78% dos cerca de 850 mil hectares previstos já estejam semeados. A área é 25% menor que a da safra anterior, mas os técnicos do governo estadual apontam boas condições sanitárias e baixa incidência de pragas até agora. O aumento da entrada de trigo importado nas principais regiões produtoras já se refletiu na balança comercial. O Brasil importou 3,092 milhões de toneladas de janeiro a maio deste ano, crescimento de 11,9% ante igual período do ano passado, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex).
É o maior volume para o período adquirido pelo País em 24 anos dada a menor disponibilidade interna do grão na safra atual. Com isso, em 12 meses, chegaram ao Brasil quase 7 milhões de toneladas, quantidade que, por sua vez, não era registrada há seis anos. Neste fluxo, os moinhos nacionais seguem com estoques satisfatórios, sem necessidade de compras intensas neste período de entressafra brasileira. O avanço na disponibilidade de trigo da Argentina nos últimos dois anos favorece as compras brasileiras, chegando a 2,3 milhões de toneladas no acumulado deste ano. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.