16/Jan/2025
A recém-colhida safra de trigo, estimada pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) em 7,889 milhões de toneladas e pelo mercado em 7,5 milhões de toneladas, abaixo da temporada anterior, deve levar o Brasil a manter importações firmes neste ano. Ao mesmo tempo, as exportações tendem a recuar em virtude da menor produção e da competição por espaço nos portos com a proximidade dos embarques de soja. No ano passado, o País importou 59% mais trigo que ano anterior, ou 6,648 milhões de toneladas, maior volume desde 2018, e exportou 20% mais, 2,832 milhões de toneladas. Para 2025, a indústria moageira nacional deve importar entre 6 milhões e 7 milhões de toneladas, e exportar no máximo 1,5 milhão de toneladas. Segundo a StoneX, dada a quebra na produção, o Brasil deve importar de 6 milhões a 6,5 milhões de toneladas de trigo neste ano, dentro da média histórica. Neste ano, será preciso importar mais em virtude da quebra do que pela qualidade.
O mercado já se antecipou às compras do cereal externo porque não tinha esperança de boa colheita com perdas por seca, geada e chuvas. Observa-se um ritmo mais acelerado nas internalizações que o visto em 2024. As importações devem continuar firmes e intensas até meados de maio e junho, impulsionadas também pela competitividade dos preços do trigo argentino e pela entrada da safra argentina no mercado. A consultoria Trigo & Farinhas estima que a indústria moageira deva importar 7 milhões de toneladas até dezembro. A safra será de, no máximo, 7,8 milhões de toneladas. A quebra neste ano foi maior, portanto, será preciso importar mais, mesmo com dólar na casa dos R$ 6,00. O trigo importado chega hoje entre US$ 280,00 e US$ 290,00 por tonelada no Porto de Paranaguá (PR), o equivalente a cerca de R$ 1.710,00 por tonelada. Os embarques devem se concentrar no primeiro semestre deste ano, antes da entrada da produção local. Entre as origens, neste ano a indústria moageira nacional tende a ficar mais voltada à produção da Argentina, que tem maior volume disponível para exportação, de boa qualidade, a preços atrativos e custos logísticos competitivos em relação a fornecedores de fora do Mercosul.
Há indícios de que as licenças de exportação da Rússia serão limitadas em 11 milhões de toneladas entre fevereiro e junho, enquanto o país poderia exportar o dobro. É um corte significativo que vai aumentar, sobretudo, o preço do trigo russo, diminuindo sua competitividade ante o argentino para a indústria moageira nacional. A restrição russa combinada ao aperto de estoques da Ucrânia pode elevar as cotações internacionais do trigo para acima de US$ 250,00 por tonelada. Além da queda das compras de trigo russo, a indústria está recebendo maior volume de cereal do Paraguai e deve manter o abastecimento em bons volumes do Uruguai. Talvez possa chegar mais trigo dos Estados Unidos, mas vai depender das políticas do próximo presidente, Donald Trump. A Argentina, sem dúvidas, será o grande fornecedor de trigo. O Itaú BBA avalia que a boa safra da Argentina deve suportar as importações do Brasil. A expectativa para a entressafra em 2024/2025 é de que a importação siga em bons patamares, visto que a Argentina deve ter um saldo exportável superior a 12 milhões de toneladas, 70% maior que o do último ano.
Na exportação, analistas vislumbram que o Brasil deve voltar a comercializar neste ano volumes dentro da média histórica, de aproximadamente 1,5 milhão de toneladas por ano. Além da menor produção e consequente menor excedente exportável, haverá competição por espaço no Porto de Rio Grande (OS), principal porta de saída do trigo nacional, em virtude da entrada da safra de soja do Rio Grande do Sul e estoques elevados remanescentes da temporada passada. Esse volume de soja estocada pode ter que sair já em março, antes da janela tradicional de sazonalidade que é a partir de abril. Além disso, ainda há impactos das enchentes com um terminal desativado em Rio Grande. Por outro lado, o cereal nacional pode ficar mais atrativo em dólar em virtude da queda do Real. Neste ano, a maior parte do trigo a ser exportado tende a ser tipo pão, já que a safra nacional, apesar de menor, deve ser de qualidade superior à passada.
O Brasil exporta trigo para ração há anos com volumes recorrentes sobretudo para Sudeste Asiático e, mais recentemente, ganhou o mercado também para moagem, mostrando que o cereal tem qualidade. A maior qualidade da produção nacional deve limitar os embarques. Se chover na colheita da próxima safra, o País vai exportar mais. Caso a qualidade se mantenha, o Brasil deve embarcar no máximo 2 milhões de toneladas. O ritmo de exportação deve ganhar tração até a primeira quinzena de março, em virtude da entrada da safra nacional de soja. O País terá que embarcar 1,5 milhão de toneladas entre janeiro e fevereiro. A janela de exportação de trigo vai geralmente de novembro a março. O trigo para exportação é cotado atualmente em torno de R$ 1.330,00 por tonelada CIF Porto de Rio Grande para embarque em fevereiro, o equivalente a US$ 225 a US$ 226 por tonelada. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.