07/Jan/2025
O ano de 2025 se inicia com menor disponibilidade de trigo no mercado interno. No segundo semestre de 2024, a queda na produção foi compensada parcialmente pela crescente importação. Assim, é de se esperar que as compras externas sigam aquecidas no primeiro semestre de 2025, com preços crescentes. No campo, os maiores valores do cereal podem fazer com que produtores brasileiros mantenham ou até mesmo elevem a área com trigo na próxima temporada. A maior disponibilidade de trigo na Argentina pode favorecer as importações do Brasil, mas deve haver disputa com outros compradores externos. Rumores indicam que a China está negociando o produto argentino e pautando a redução das ‘retenciones’, atualmente em 12% de tarifa ad valorem. Nesta temporada, a China deve ser a quarta maior importadora mundial, com o volume de 11 milhões de toneladas, segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA).
Possíveis alterações de políticas de exportação e importação dos Estados Unidos diante do novo governo também podem alterar a dinâmica de transações de trigo no mercado mundial. De acordo com a previsão da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a produção brasileira de 2024 (8,06 milhões de toneladas) ficou em linha com a de 2023, devido à redução na área cultivada (11,9%, para 3,06 milhões de hectares) e ao crescimento na produtividade (13%, para 2,63 toneladas/hectare). Mesmo considerando o estoque inicial em agosto/2024, com o consumo de 11,9 milhões de toneladas, o déficit interno deve ser de 3,3 milhões de toneladas, o que exigirá aumento das importações, assim como verificado em 2024. Porém, o ano se inicia com preços maiores que os registrados no mesmo período de 2024. Como os custos estimados não subiram na mesma intensidade, a rentabilidade calculada é maior, o que pode ser um fator de atratividade aos produtores.
Mas, é preciso considerar a concorrência com outras culturas, incluindo o milho de 2ª safra em vários Estados, que também está mais atrativo. Os maiores aumentos de custos ocorreram em regiões do Rio Grande do Sul. Tomando-se como referências as médias de custos de setembro-outubro/2024 em relação às de setembro-outubro/2023, em Carazinho (RS), o custo operacional cresceu 8,5%; em Xanxerê (SC), 5,5%; no oeste do Paraná, 2%; e, em Guarapuava (PR), 0,7%. Em todas as regiões, os preços de comercialização tiveram avanços maiores, de 30% a 34%, mostrando que a relação custo/benefício melhorou. Mesmo assim, em Xanxerê, a receita ainda ficaria abaixo do custo, enquanto nas demais regiões haveria receita líquida operacional positiva, com taxa entre 15% e 25%. No mesmo período de 2023, os retornos calculados eram negativos.
Ressalta-se, contudo, que tanto na Região Sul quanto na Região Sudeste, certamente o risco climático pode ser um limitador para maiores investimentos na cultura. No Cerrado, a área com trigo deve crescer a taxas maiores que as registradas nas Regiões Sul e Sudeste, mas a região representa uma parcela bem pequena da oferta nacional. Produtores da Bahia, de Goiás e de Minas Gerais são os que mais vêm incrementando o cultivo de trigo sob irrigação no Cerrado brasileiro. A Bolsa de Cereais de Buenos Aires estima a safra de trigo da Argentina em 18,6 milhões de toneladas, 23% acima da temporada 2023/2024 (15,1 milhões de toneladas). Em termos mundiais, dados do USDA indicam produção de 792,947 milhões de toneladas na safra 2024/2025, com alta de 0,2% em comparação à anterior. Entre os 16 maiores produtores mundiais, são esperados menores volumes na União Europeia (-10,2%), na Rússia (-10,9%), na Ucrânia (-0,4%), na Turquia (-9,5%) e no Reino Unido (-21,0%).
Para o consumo mundial, o USDA prevê 802,47 milhões de toneladas em 2024/25, elevação de 0,6% em relação a 2023/2024. Os dados do USDA chamam a atenção ao apontarem redução de consumo em 8 dos 16 maiores consumidores. Os estoques finais devem somar 257,88 milhões de toneladas, queda de 3,6% em relação à temporada anterior, sendo os menores desde 2015/2016. A relação estoque/consumo mundial deve passar para 32,3%. As transações internacionais podem registrar os menores volumes desde a temporada 2021/2022, a 213,5 milhões de toneladas. Assim, as transações mundiais deverão representar 26,9% da produção mundial. São esperadas maiores exportações por parte dos Estados Unidos (19,9%), Canadá (1,3%), Austrália (11,1%), Argentina (51,0%) e Cazaquistão (18,9%). As importações são mais pulverizadas entre países. Fonte: Cepea. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.