12/Nov/2024
Após um revés nos resultados no terceiro trimestre deste ano, a M. Dias Branco, fabricante de alimentos, mira na recuperação da participação de mercado no acumulado do ano. Os resultados da companhia vinham sinalizando para ganhos de rentabilidade, crescimento no volume comercializado e avanço em market share. Mas o câmbio, a pressão dos custos de produção e a instabilidade macroeconômica frearam o desempenho positivo visto no primeiro semestre, quando o Ebitda (lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização), lucro líquido e margem Ebitda superaram os do ano passado. Agora, a empresa está regulando melhor a precificação, tentando fazer aumentos mais suaves nos preços finais dos produtos e deve ver, até o fim do ano, uma recuperação de market share, principalmente em biscoitos.
Em massas, o cenário é um pouco mais difícil, com maior sensibilidade ao repasse dos preços. A participação de mercado da empresa ficou em 32,5% em biscoitos e 28,8% em massas ao fim do primeiro semestre. Os números atualizados dos três últimos meses não foram divulgados, com a empresa passando a detalhar participação de mercado apenas no acumulado do ano. O aumento do custo das matérias-primas adquiridas, combinado com a desvalorização do Real, foram determinantes para o desempenho mais fraco da empresa no período. As matérias-primas importadas representam 60% do custo da companhia. Ao fim do segundo trimestre, a M. Dias já havia sinalizado ao mercado de que via o câmbio como um "fator surpresa" para os resultados do ano.
As questões macroeconômicas que afetaram a companhia não são estruturais, mas estão sendo duradouras. Ao fim de 2023, o dólar estava cotado em cerca de R$ 4,80, agora está batendo R$ 5,80, aumentou R$ 1,00 em menos de ano com instabilidade muito longa. A empresa vê esse câmbio perto de R$ 6,00 como estrutural, mas está demorando a voltar a um patamar mais adequado. Outro fator que aumenta a instabilidade no mercado é o crescimento da taxa básica de juros, a Selic. As redes varejistas estão diminuindo estoques, comprando menos, porque os juros voltaram a subir, alcançando 11,25% ao ano, com previsões de que possa chegar entre 12% e 12,25%. Não é estrutural, mas, antes de cair, vai subir e demorar a estabilizar, o que está afetando os custos financeiros das companhias.
Do lado da demanda, também não há incentivos de alta. Com a inflação, a renda do consumidor está sendo corroída. O mercado não cresce muito. O consumidor está mantendo as compras, mas não aumenta. Dados da Nielsen mostram que em valor vendido o mercado de biscoitos ficou estável em um ano com acréscimo de 1% em volume, enquanto o mercado de massas avançou 1% em valor vendido e cresceu 5% em volume na comparação anual do terceiro trimestre do ano. Do lado dos custos, a M. Dias afirmou observar aumento dos preços globais tanto do trigo quanto do óleo de palma no último trimestre, com tendência de manutenção destes patamares até o fim do ano. Não é uma alta expressiva, mas também não há tendência de queda com possível estabilidade em patamar acima do que terminou o ano passado.
Para o trigo, há déficit global entre balanço de consumo e demanda. é preciso esperar o cenário de clima na América do Norte, mas a previsão é de sustentação em patamares firmes ou possível aumento de preços. Para fazer frente à inflação dos custos, a M. Dias lançou mão de reajustes pontuais nos preços finais dos seus produtos, entretanto vê que há resistência da capacidade do consumidor em absorver os incrementos nos preços finais dos produtos. A companhia encerrou o trimestre com preço médio de R$ 5,70 por Kg. Mesmo com esse impacto de custo, o consumidor não está totalmente aberto para absorver esse aumento. Esses reajustes de preço para compensar um custo mais alto terão que ser suavizados ao longo do tempo para o consumidor ter condição de absorver melhor.
A empresa deve seguir com reajustes pontuais e suaves nos preços finais dos produtos. Em contrapartida, o dólar mais forte ante o Real pode contribuir para a receita da companhia proveniente das exportações. As exportações estão crescendo mais de 10% e para 2025 devem manter este avanço de dois dígitos. O câmbio ajuda na receita de exportações, porém a exportação representa menos de 5% do faturamento da empresa, portanto esse efeito positivo não contribui de forma importante para o resultado total da companhia. A empresa vê espaço para impulsionar receitas de exportação em mercados que já atua, sobretudo nos Estados Unidos e nos países da América do Sul, com vendas de biscoitos e massas. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.