ANÁLISES

AGRO


SOJA


MILHO


ARROZ


ALGODÃO


TRIGO


FEIJÃO


CANA


CAFÉ


CARNES


FLV


INSUMOS

11/Sep/2024

Mudanças climáticas favorecem pragas no trigo

As mudanças climáticas estão favorecendo o fungo causador da brusone, doença que ataca folhas e espigas de trigo e reduz a qualidade do cereal. Segundo pesquisa da Embrapa Trigo, publicado na Nature Climate Change, a doença tem potencial de afetar 13,5 milhões de hectares e risco de reduzir em 13% a produção mundial de trigo. A brusone é considerada a doença de importância econômica mais recente identificada em trigo no mundo. Ela é causada por um fungo, o Pyricularia oryzae Triticum (Magnaporthe oryzae patótipo Triticum) e pode comprometer até 100% do rendimento de uma lavoura. De acordo com a Embrapa Trigo (RS), no estudo “Production vulnerability to wheat blast disease under climate change (Vulnerabilidade da produção de trigo à brusone sob mudanças do clima)”, o desenvolvimento do fungo causador da doença é favorecido por altas temperaturas e umidade, condições presentes em países de clima tropical e subtropical.

O que tem chamado a atenção é a incidência da doença também em condições de clima frio ou mesmo com baixa umidade. Nos últimos anos, lavouras com brusone têm sido observadas ao norte de Bangladesh, onde o fungo sobrevive ao clima seco e às baixas temperaturas durante a safra de trigo, especialmente em função de as temperaturas mínimas terem subido nos últimos anos. As temperaturas mais elevadas no inverno do Rio Grande do Sul também resultaram em surtos localizados de brusone na safra de trigo 2023 no Estado, principalmente na região noroeste, onde as temperaturas mínimas estiveram acima de 15ºC ao longo da safra. Num cenário de mudanças climáticas globais, com aumento de temperaturas e variação do regime de chuvas, o fungo vai encontrar novos ambientes para se instalar. A dispersão dos esporos do fungo pode ser pelo vento ou pelo comércio internacional por meio de grãos e sementes contaminadas.

Recentemente, a doença foi encontrada em lavouras de Santa Rosa, na região oeste do Estado. Diferentemente de outras regiões do País, o Rio Grande do Sul tem muita umidade e pode encontrar a doença nesta safra que está sendo marcada em outras regiões pelo tempo extremamente seco. É preciso continuar o manejo. O fungo é um velho conhecido do arroz, já que os primeiros relatos de brusone na cultura datam de 1600 na China. A Embrapa Recursos Genéticos inclusive testa atualmente usar a mutação genética para combater a doença no cereal. Em trigo, o microrganismo causador da brusone foi identificado pela primeira vez no Brasil, em 1985, em lavouras no Paraná, mas a doença rapidamente disseminou-se para outros Estados (Mato Grosso do Sul, São Paulo, Goiás e Minas Gerais), além de diferentes países da América do Sul. Conforme informações do Centro Internacional de Melhoramento de Milho e Trigo (CIMMYT), uma epidemia de brusone afetou 3 milhões de hectares com trigo na América do Sul na década de 1990.

Em 1996, o primeiro surto de brusone na Bolívia resultou em quase 80% de perdas na produção. No Paraguai, a primeira epidemia ocorreu em 2002, quando foram registradas perdas de produção de mais de 70%. No Brasil, ocorreram perdas por brusone em trigo nos anos de 2009 e de 2012, quando danos acima de 40% comprometeram lavouras na fase de espigamento no Paraná, em Mato Grosso do Sul e em São Paulo. Nos anos seguintes, cresceu a incidência de brusone também nos Estados da Região Sul do Brasil, com registros frequentes no Rio Grande do Sul e no centro-sul do Paraná. Na Argentina, décimo maior produtor mundial de trigo, a brusone apareceu em 2007, em lavouras ao norte do país, mas foi em 2012, quando ela chegou à província de Buenos Aires, principal polo da triticultura argentina, que a doença acendeu o alerta vermelho para o risco de perdas nas lavouras. Em 2023, o problema foi registrado pela primeira vez no Uruguai.

A partir dos cenários do futuro do clima, projetados pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), pesquisadores das áreas agronômicas e da ciência da computação utilizaram técnicas de modelagem e simulação para estimar os possíveis impactos da disseminação da brusone nos diversos continentes onde o trigo é cultivado. Os pesquisadores utilizaram o modelo DSSAT Nwheat, desenvolvido na Universidade da Flórida (EUA) com atualização colaborativa por diversos centros de pesquisa no mundo, analisando variáveis como aumento das temperaturas, umidade relativa do ar e elevação do CO² na atmosfera. Para estimar cenários, foram utilizados registros históricos de dados entre 1980 e 2010, projetando mudanças climáticas para o período de 2040 a 2070. Em todos os cenários, ficou claro que a brusone pode chegar a todos os continentes, com exceção da Antártida. Nos países da América do Sul onde o problema já ocorre, as áreas de trigo vulneráveis à doença passariam de 13% para 30%.

As projeções indicam o risco de a doença chegar às lavouras de trigo dos Estados Unidos, México e Uruguai (América); Itália, Espanha e França (Europa); Japão e sul da China (Ásia); Etiópia, Quênia e Congo (África); Nova Zelândia e oeste da Austrália (Oceania). Apesar de as condições ambientais do Hemisfério Norte ainda não se mostrarem favoráveis à brusone, em um cenário de aumento das temperaturas e da umidade é provável a incidência da doença nas lavouras de trigo, especialmente em regiões próximas ao Mar Mediterrâneo. Da mesma forma, no sul da China, onde o cultivo do trigo tem crescido nos últimos anos. Nas condições atuais, a brusone já representa ameaça a 6,4 milhões de hectares de trigo no mundo. Em um cenário de mudanças climáticas, por volta de 2050, a doença poderia afetar 13,5 milhões de hectares, resultando em redução de 13% na produção mundial de trigo, com perdas que podem chegar a 69 milhões de toneladas por ano. Existem diversas iniciativas no mundo tentando conter a doença, desde o melhoramento de plantas, biotecnologia, estratégias de controle químico e manejo da cultura, mas ainda não conseguimos sucesso total capaz de erradicar o problema da brusone das lavouras de trigo', dizem os pesquisadores. Fonte: Globo Rural. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.