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07/May/2024

Potencial da produção de trigo no Cerrado brasileiro

A produção de trigo no Brasil, por questões de adaptação ao clima, historicamente sempre ficou concentrada no Sul do País. Cultura de inverno, era assim chamada a produção no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. Durante mais de um século, essa era a região onde se concentrava a pequena produção brasileira do trigo. Com o passar dos anos, surgiram outras áreas produtivas, sem rivalizar com o Sul. Hoje o trigo pode ser encontrado em Mato Grosso do Sul, São Paulo, Bahia e outros Estados. A grande novidade é o trigo no Cerrado. Na década de 90, uma epidemia de brusone afetou diversos países sul-americanos, inclusive o Brasil nos anos 2008, 2012 e 2019. A Embrapa nas suas pesquisas avançou no combate à praga com resultados positivos.

O trabalho da Embrapa, nos últimos anos, na pesquisa e na aplicação de novas técnicas e sementes, na área do trigo, além do combate à praga, em uma região de clima totalmente diferente do Sul, está resultando em uma revolução na cultura do produto no País. Com sede e campo experimental de Passo Fundo e um Núcleo Avançado de Pesquisa e Transferência de Tecnologia para o trigo tropical em Uberaba (MG), o centro da Embrapa desenvolve ações direcionadas às culturas de inverno, entre elas o trigo. O trabalho está organizado em três núcleos técnicos: melhoramento e biotecnologia; manejo e nutrição de plantas e proteção de plantas. Nos últimos seis anos, a área plantada com trigo na região do Cerrado cresceu significativamente (110%), saltando de 65 mil para 136 mil hectares.

Esse forte e rápido crescimento evidencia o potencial do Cerrado para a produção do cereal e abre novas perspectivas para os produtores rurais e para a economia do País. Goiás, Minas Gerais e o Distrito Federal têm sido os que mais estão se beneficiando desse avanço tecnológico, com Goiás liderando o ranking de área cultivada, com cerca de 80 mil hectares. O Cerrado dispõe de condições privilegiadas, como altitude, clima e solos favoráveis, somadas à produção estratégica na entressafra dos estados do Sul. Esses fatores têm sido responsáveis pelo avanço da triticultura na região. Segundo especialistas, a região do Cerrado tem capacidade para expandir sua produção de trigo em até um milhão de hectares, o que representa uma excelente oportunidade para os produtores.

Essa oportunidade, se aproveitada pelo setor do agro, vai propiciar a diversificação das atividades e o aumento da rentabilidade. O trabalho não será fácil e exigirá investimento em pesquisa e tecnologia nos próximos anos para a utilização de novas variedades adaptadas às condições do Cerrado e o aprimoramento das técnicas de manejo, como está sendo desenvolvido pela Embrapa. Nos últimos anos, segundo a Conab, a produção chegou a perto de 11 milhões de toneladas, em 2021/2022, tendo caído para cerca de 9,6 milhões em 2023, e 8,1 milhões de toneladas em 24 em função das condições climáticas nos Estado do Sul do País. Técnicos da Embrapa projetam um substancial incremento da produção no Cerrado, sendo que os mais otimistas chegam a prever cerca de 20 milhões de toneladas.

Caso isso efetivamente ocorra, o Brasil terá uma redução na sua dependência de importações do exterior. Em vista da configuração geográfica do País, mesmo com uma produção do nível projetado pela Embrapa, o Brasil continuará a importar quantidades menores de trigo, sobretudo da Argentina, por razoes comerciais. Além disso, será aberta a possibilidade de ampliação das exportações que já estão entre 2,5 e 3 milhões de toneladas, como consequência do impacto da guerra da Ucrânia sobre os países do Oriente Médio e no Norte da África, importadores de trigo ucraniano e que agora buscam novas fontes de suprimento. Sem falar no aumento de empregos e renda no campo e nas cidades da região propiciando um maior crescimento econômico no Cerrado.

No contexto do setor que hoje representa o fator mais dinâmico da economia, o agronegócio, a triticultura apresenta-se como uma novidade positiva e que abre oportunidades de investimento e de emprego. É possível prever um período de transição, com oscilação no preço do produto no mercado, por fatores internos e externos, que poderá nos próximos 5 a 10 anos representar mais um elemento de estímulo para o crescimento da produção agrícola no Brasil e uma oportunidade para a ocupação de um espaço no mercado internacional. As trágicas chuvas que tanto afetaram o Rio Grande do Sul chegaram antes do início do plantio do trigo, em fins de maio, e, se espera, não deverão afetar a produção em 2024/2025. Fonte: Rubens Barbosa. Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo). Broadcast Agro.