07/Nov/2023

A indústria do trigo realizou, no fim de outubro, no interior de São Paulo, seu 30º Congresso Internacional em meio a grandes desafios internos e externos. Externamente, o mundo vive em meio de duas guerras, das quais uma delas, na Europa, com impacto no mercado internacional do trigo. Internamente, a expansão da produção do trigo traz grandes oportunidades, mas também grandes desafios para todo o setor. Na oportunidade, contando com a presença de mais de 560 participantes e com 21 empresas expositoras, a indústria discutiu as principais questões relacionadas com a atual situação do mercado interno e do cenário internacional, sobre inovação e tecnologia e sobre gestão empresarial.

A nova geração na gestão do negócio do trigo, as preocupações ambientais no dia a dia das empresas e a inteligência artificial nos negócios, em geral, e do trigo, em particular, foram outras questões examinadas durante os dois dias do encontro. A discussão sobre a evolução do mercado interno do trigo mostrou um crescimento da produção que, segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), deverá aproximar-se de 11 milhões de toneladas. As chuvas bem acima da média no Rio Grande do Sul vão afetar a produtividade e a qualidade do produto nas lavouras do Estado. Santa Catarina e Paraná também sofreram com as chuvas. Apesar disso, o Paraná projeta uma safra de 4,5 milhões de toneladas, com forte recuperação em relação ao ano passado quando produziu 3,5 milhões de toneladas.

Alguns Estados estão registrando forte crescimento da produção. São Paulo deve produzir cerca de 520 mil toneladas, com melhor produtividade e qualidade em relação aos anos anteriores. No Cerrado, Minas Gerais, Goiás, Bahia e Distrito Federal, a produção deve igualmente crescer. A logística é uma preocupação crescente, especialmente no tocante à armazenagem, que, segundo levantamento da Abitrigo, registra um déficit para os moinhos de mais de 400 mil toneladas. Foram mostradas projeções para o período 2023/2024, indicando a importação de 5,2 milhões de toneladas, a exportação de 2,2 milhões de toneladas (inferior à de 22/23) e consumo interno de 12,5 milhões de toneladas. Argentina, Rússia, Paraguai, Uruguai e Estados Unidos foram os exportadores para o mercado brasileiro. No mercado internacional indicou-se um equilíbrio entre a produção global no período 2022/2023: produção de 783,4 milhões de toneladas contra consumo de 792,8 milhões de toneladas. Estados Unidos, Rússia e China mantiveram e aumentaram suas produções, enquanto a Austrália e a Argentina tiveram significativa baixa e a Europa e a Ucrânia apresentam produção estável.

A China e a Índia continuam como os maiores produtores mundiais, mas com pouca influência no mercado internacional porque sua produção se destina quase que exclusivamente ao mercado interno. Os preços do mercado internacional, que subiram fortemente depois da guerra na Ucrânia, voltaram ao nível de fevereiro de 2022, com forte volatilidade em função das condições climáticas nos principais produtores, das incertezas derivadas da abertura ou fechamento de corredor de exportação do trigo ucraniano pela Rússia e da ação dos fundos de investimento em commodities nas bolsas de mercadorias, em especial em Chicago e Kansas. A percepção da nova geração que começa a assumir direção dos moinhos foi trazida por três diretores de moinhos. As diferenças de interesses e de satisfação no trabalho foram discutidas, mostrando como a nova geração de dirigentes das empresas da indústria do trigo lidam com as realidades da geração Z. A questão da sustentabilidade no cotidiano nas empresas foi abordada com a apresentação do projeto das empresas do grupo Klabin nos Estados do Sul do Brasil.

As metas estabelecidas para os cuidados da conservação da floresta e para a execução dos projetos de desenvolvimento econômico e social com as comunidades locais apresentadas mostraram um caminho a ser seguido no cumprimento da ESG pelas empresas e pelos seus funcionários. As exposições sobre o impacto da inteligência artificial nos negócios mostraram a preocupação da indústria em atualizar-se nos novos instrumentos tecnológicos para melhor entender as transformações por que estão passando as economias de todos os países. No caso da indústria do trigo, como poderá evoluir o consumo do produto com as mudanças de hábitos com o envelhecimento da população e quais os efeitos sobre a localização dos centros de venda com o rápido esvaziamento de áreas da cidade e o aparecimento de regiões mais dinâmicas e populosas. Fonte: Rubens Barbosa. Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo). Broadcast Agro.