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06/Nov/2023

Quebras de safra e aumento da importação de trigo

O Estado do Paraná pode voltar ao posto de maior produtor nacional de trigo nesta safra. A liderança foi conquistada pelo Rio Grande do Sul no ciclo passado com a combinação de colheita recorde no Estado e prejuízos nas lavouras paranaenses pelas chuvas contínuas, além de o trigo ter perdido espaço para o milho de segunda safra no Paraná. Neste ano, a conjuntura se inverteu: apesar dos impactos das enchentes do último fim de semana nas lavouras de trigo paranaense, o cereal no Estado foi menos afetado que o do Rio Grande do Sul pelas chuvas contínuas e frequentes ciclones. Ainda resta aguardar o avanço da colheita no Rio Grande do Sul, que dará o real tamanho da quebra nas lavouras, para confirmar se a safra paranaense vai superar ou não a gaúcha. As projeções atuais indicam que o Paraná deve produzir 3,86 milhões de toneladas, enquanto o Rio Grande do Sul tende a colher entre 3,5 milhões de toneladas e 4 milhões de toneladas, com tendência de viés baixista. Há uma safra com qualidade muito boa no Paraná de modo geral, a despeito de doenças fúngicas registradas no sul do Estado e nos Campos Gerais.

A maior parte da quebra já está contabilizada no Estado ante o potencial produtivo de colheita de 4,6 milhões de toneladas, segundo o Sindicato da Indústria do Trigo do Paraná (Sinditrigo-PR). Apesar do risco climático, não há grandes mudanças nas previsões. A tendência é o Paraná se consolidar como grande produtor de farinha e o Rio Grande do Sul como grande exportador de trigo, lembrando que o Estado produz 30% da farinha consumida no País. Mesmo que a previsão para a safra paranaense possa sofrer novos cortes em virtude dos estragos causados pela enxurrada recente - há relatos de acamamento e alagamento de lavouras -, a avaliação dos executivos é de que a produção no Estado está consolidada visto que a colheita alcançou 89% da área semeada. A projeção de outubro mostrava uma retração de 780 mil toneladas em relação ao potencial, porém a maior parte da queda era referente a doenças que atingiram a cultura nas regiões que não estão sofrendo com o excesso de chuvas e que já haviam finalizado a colheita do cereal. Sendo assim, devemos observar futuramente novas retrações de produção.

Com a atualização dos números de produção da previsão de safra em 30 de novembro, as novas perdas deverão ser creditadas exclusivamente ao excesso de chuvas, segundo o Departamento de Economia Rural da Secretaria de Abastecimento e Agricultura do Paraná (Deral). No Rio Grande do Sul, o cenário de produção ainda é incerto em meio às adversidades climáticas e parte significativa do cereal ainda em campo. De acordo com a Emater, 58% das lavouras foram colhidas e a qualidade do cereal segue afetado pelo elevado nível de umidade na planta. A produtividade e a qualidade do produto não atendem às expectativas iniciais e continuam a diminuir à medida que a colheita avança. Na região de Caxias do Sul, o excesso de chuvas em setembro e outubro interferiu, de forma considerável, no desenvolvimento de doenças nas lavouras de trigo, o que provavelmente resultará em redução do rendimento e na queda da qualidade dos grãos. Na região de Ijuí, as produtividades das lavouras variam amplamente, de 900 quilos a 2.500 quilos por hectare, dependendo do período de semeadura, das variedades e dos níveis de tecnologia adotados.

De acordo com a Emater, não houve ajuste de preço no cereal com PH abaixo de 78, o que preocupa os produtores. O Sindicato das Indústrias de Trigo do Rio Grande do Sul (Sinditrigo-RS) concorda que a dinâmica de produção pode ser revertida, já que o Rio Grande do Sul saiu de um potencial produtivo de 5,5 milhões de toneladas a 6 milhões de toneladas para uma safra de 3,5 milhões de toneladas a no máximo 3,9 milhões de toneladas, sendo destas 1,5 milhão de toneladas a 2 milhões de toneladas do tipo ração. A safra do Paraná está indo bem, enquanto o Rio Grande do Sul está bem problemático no trigo. O cenário é muito mais grave que o da safra passada porque o Paraná teve 1,5 milhão de toneladas de cereal ruins, enquanto a safra gaúcha deve fechar com 3 milhões de toneladas de cereal ruins. A perspectiva é de chuvas menos intensas no Estado nas próximas semanas, mas com tendência de que o volume fique mais próximo do piso, de 3,5 milhões de toneladas. A indústria moageira vê também uma mudança na dinâmica do mercado, com moinhos gaúchos passando a se abastecer do cereal paranaense.

Em virtude da qualidade na safra passada do Paraná, ao longo de todo este ano observou-se fábricas moageiras do Estado demandando volumes expressivos de trigo gaúcho. O consumo interestadual na temporada passada é estimado em 1 milhão de toneladas que saíram do Rio Grande do Sul para o Paraná. Os moinhos gaúchos já estão recorrendo ao trigo tipo pão do Paraná para fazer a mescla da farinha. A perspectiva deste ano é que, com o efeito climático no Rio Grande do Sul e com a competitividade do cereal produzido no Paraná, tanto os moinhos gaúchos quanto os paulistas busquem maior volume no Estado. A demanda nacional, especialmente do tipo pão com PH acima de 78, tende a ser transferida para o Paraná. O trigo paranaense gira em torno de R$ 1.200 por tonelada tipo pão a ser retirado nos Campos Gerais ou no norte do Estado. O abastecimento pela indústria gaúcha de trigo paranaense tende a não ser tão expressivo quanto o visto neste ano, mas deve ocorrer. Não na mesma proporção porque o preço do cereal argentino está próximo ou até mais atraente que o do paranaense, em virtude do ICMS e do custo do frete.

O trigo argentino chega no Estado em média a R$ 1.350 por tonelada CIF moinho. O trigo gaúcho é cotado em média a R$ 1.100 por tonelada FOB interior. A estimativa é de que as importações de trigo pelos moinhos locais possam dobrar nesta safra, saindo de 200 mil toneladas em média para 400 mil toneladas, ou 20% da moagem do Estado ante 10% visto nos últimos anos. Embora deva haver trigo na quantidade necessária para a moagem no Estado, de 2 milhões de toneladas, os moinhos tendem a importar mais cereal argentino para compensar a qualidade que falta no cereal gaúcho. Uma das principais preocupações do Estado é a liquidez do cereal tipo ração, já que a demanda internacional é limitada por este tipo de grão de qualidade inferior. A previsão do sindicato é de que sejam exportadas pelo menos 1 milhão de toneladas do cereal gaúcho. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.