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25/Sep/2023

Preços do trigo pressionados e negociações lentas

Os moinhos da Região Sul do País seguem abastecidos e demandando pouco trigo nos últimos dias. Além disso, com safras abundantes esperadas para breve no Paraná e no Rio Grande do Sul, não há muito apetite comprador pela safra velha por parte da indústria. Os produtores carregam estoques de soja, milho e da safra anterior do trigo e vão liberando lotes de um ou outro grão ao sabor da variação de preços. Nos últimos dias, os produtores estão preferindo negociar milho ao trigo. Mesmo com as vendas praticamente travadas, a tendência é de queda de preços, em função da baixa demanda e da expectativa de uma safra cheia.

O que pode valorizar o cereal no médio prazo é a safra do Rio Grande do Sul, que enfrentou excesso de chuvas na primeira quinzena de setembro e já teve o potencial produtivo afetado, segundo a Emater-RS. No Paraná, na região dos Campos Gerais, os preços do trigo continuam cedendo à medida que a colheita avança no norte e oeste do Estado. Os moinhos estão abastecidos e demandam pouco cereal, no aguardo de volumes mais substanciosos da safra nova. Quando a colheita começar no centro-sul e no sul do Paraná, como nos Campos Gerais, haverá maior pressão sobre a cotação.

As indicações de compra giram em torno de R$ 950,00 por tonelada colocada no moinho em Ponta Grossa, para entrega imediata e pagamento no fim de outubro/início de novembro, valor R$ 50,00 por tonelada abaixo do indicado na semana passada. Porém, os produtores indicam entre R$ 1.200,00 e R$ 1.300,00 por tonelada FOB, nos mesmos prazos. Os produtores não liberam lotes porque estão vendo os preços internacionais do trigo na Bolsa de Chicago, que têm subido, mas, no Brasil, a previsão de safra cheia, pressiona o preço.

À medida que a colheita de trigo avança e os preços caem, os produtores têm preferido vender o milho 2ª safra de 2023, cuja colheita também foi recorde, deixando o trigo estocado. Os moinhos estão abastecidos e na expectativa de uma safra boa para ser colhida ainda este ano. Por enquanto, a safra do cereal no Paraná está indo bem e não tem sido afetada por excesso de chuvas, como no Rio Grande do Sul. Quanto ao trigo da safra 2024, não há indicações de preços. Os negócios antecipados com trigo no Paraná só começam a ocorrer em março ou abril.

No Rio Grande do Sul, na região de Passo Fundo, os moinhos também estão abastecidos de trigo e no aguardo da safra nova do cereal, que começa a ser colhida na região a partir de novembro. Assim, rodam poucos lotes no spot. A indicação de compra é de R$ 1.150,00 por tonelada FOB, para retirada imediata e pagamento em 30 dias, para o trigo tipo pão. Mesmo com o mercado parado, o preço subiu um pouco, entre R$ 50,00 e R$ 70,00 por tonelada, por necessidade de compra de um único moinho. De maneira geral, porém, não tem saído negócio. Para o trigo da safra 2024 não há indicações de preço. O mercado vai esperar a safra nova, inclusive por causa do excesso de chuvas ocorrido no Estado em setembro, para ver a necessidade ou não de negociar lotes futuros.

A Emater-RS confirmou, em relatório, que os cultivos no Rio Grande do Sul já perdem potencial produtivo em algumas regiões por causa do excesso de chuvas. As plantas apresentam menor porte em comparação a anos anteriores. Além disso, os sintomas de danos causados por geadas, chuvas excessivas e doenças têm se agravado em plantas no estágio de enchimento de grãos. Há também preocupação com o surgimento de doenças, como giberela e brusone. Na média do Estado, 8% das lavouras de trigo estão em desenvolvimento vegetativo; 39% em período de floração; 42% em enchimento de grãos e 11% em maturação.

Algumas lavouras do nordeste do Estado, semeadas antes do período recomendado, foram colhidas, mas não são estatisticamente significativas. As incertezas quanto à safra do Rio Grande do Sul limitam o fechamento de novos acordos no mercado. Na sua estimativa mais recente, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) prevê produção de 10,82 milhões de toneladas neste ano, mas ressaltou que as condições climáticas seguiriam sendo monitoradas e que a cultura ainda era ponto de atenção da safra 2022/2023. A Conab está em campo verificando a safra no momento para o próximo levantamento de 10 de outubro. A partir dessa análise, de fato, será possível ver o que aconteceu nas lavouras.

Sem sombra de dúvidas, preocupa, mais que o ciclone extratropical, a continuidade do excesso de chuvas neste momento. O excesso de chuvas pode afetar a produção do Rio Grande do Sul por reduzir a luminosidade e a temperatura, elementos que podem diminuir a produtividade do cereal. Há uma intensidade de El Niño no próximo trimestre que vai coincidir com período de colheita no Rio Grande do Sul. O Estado deverá ser mais afetado que o Paraná, que já possui parte das lavouras colhidas. Isso pode afetar a produtividade e, principalmente, a qualidade do grão na colheita. Esse é o ponto de observação até a colheita final do trigo.

Quanto às importações do cereal, neste ano, até agosto, o Brasil adquiriu do exterior 4,23 milhões de toneladas de trigo, 34,44% menos em comparação com igual período do ano passado, quando 2,773 milhões de toneladas foram internalizadas, de acordo com dados do Agrostat (sistema de estatísticas de comércio exterior do agronegócio brasileiro). O desempenho vem em linha com o esperado pelo mercado em virtude da safra recorde brasileira, que diminuiu a necessidade de os moinhos recorrerem ao cereal externo. O valor desembolsado com as compras do cereal no período caiu 37,98%, para US$ 913,112 milhões em relação ao US$ 1,472 bilhão gastos de janeiro a agosto do ano passado.

O preço médio do trigo importado cedeu 5,35%, passando de US$ 347,92 por tonelada em média de janeiro a agosto de 2022 para US$ 329,29 por tonelada em igual período deste ano, números que refletem a valorização do cereal no mercado externo após a crise com a guerra entre Rússia e Ucrânia. Do volume total importado no acumulado do ano, 1,637 milhão de toneladas foram de cereal argentino, metade das 3,582 milhões de toneladas importadas da Argentina nos oito meses do ano passado. Na sequência, aparece o cereal russo (476.668 toneladas) e o uruguaio (432.516 toneladas). O Brasil importa anualmente de 50% a 60% do volume consumido internamente de trigo, de aproximadamente 12 milhões de toneladas.

As exportações brasileiras de trigo recuaram 16,74%, na comparação anual do mesmo período, para 2,054 milhões de toneladas ante 2,467 milhões de toneladas de igual período do ano passado. Os embarques geraram receita de US$ 659,943 milhões de janeiro a agosto deste ano. O valor foi 13% menor que o obtido no ano anterior, de US$ 758,957 milhões. O preço médio do cereal exportado no período foi de US$ 321,28 por tonelada ante US$ 307,68 por tonelada dos oito meses acumulados de 2022, alta de 4,42%, o que reflete a valorização externa da commodity. No acumulado do ano, os três principais destinos do produto brasileiro foram Indonésia (637.204 toneladas), Arábia Saudita (270.142 toneladas) e Equador (169.284 toneladas).

Em agosto, a indústria moageira nacional importou 279.535 toneladas de trigo, 47,87% inferior ao internalizado em igual mês de 2022. O valor desembolsado recuou 65%, para US$ 82,784 milhões. O preço médio foi de US$ 296,14 por tonelada. No mês passado, o País exportou 189 toneladas de trigo, com receita de US$ 46.028,00. A janela de exportação de trigo tradicionalmente termina em abril. Para os próximos meses, a expectativa do mercado é de que as importações continuem fracas. Já o desempenho das vendas externas vai depender da reação das cotações do cereal e da entrada da safra no mercado. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.