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05/Sep/2023

Panorama para trigo nos mercados interno e externo

A pandemia e agora o conflito entre a Rússia e a Ucrânia expuseram de forma dramática as vulnerabilidades de todos os países em áreas sensíveis e estratégicas. No caso do Brasil, no agronegócio, duas vulnerabilidades apareceram de imediato: a dependência externa de fertilizantes (85% da demanda interna é importada) e do trigo (60% do consumo doméstico é importado) e, nos dois casos, a grande parte da importação é oriunda de um único país (Rússia e Argentina, respectivamente). Por outro lado, surgem oportunidades que deveriam ser aproveitadas pelo governo e pelo setor privado. No agronegócio, a dependência do setor exportador de poucos mercados e poucos produtos gera uma incerteza para o futuro de um setor que hoje representa 48% das exportações totais do Brasil, com ingresso de 79,32 bilhões de dólares.

A expansão da produção de etanol, além do aumento da produção de fertilizantes e seus insumos, e da busca de autossuficiência no trigo, fortaleceriam ainda mais o setor e seria um reforço para a segurança alimentar. É urgente a definição de uma estratégia para o incremento da produção de insumos químicos e fertilizantes no Brasil para reduzir a dependência do mercado externo e a definição de uma política nacional do trigo e apoio a iniciativas visando ao aumento da produção interna em novas áreas, como o norte do Cerrado. No caso do trigo, a redução de quase 30% da exportação da Rússia e da Ucrânia como consequência da guerra desorganizou o mercado internacional do produto e fez com que o preço aumentasse significativamente desde o início do conflito. O recente acordo entre a Rússia e a Ucrânia, intermediado pela Turquia e pelas Nações Unidas, ainda demandará tempo para ser implementado. Com isso, as altas cotações internacionais do trigo continuarão a oscilar, dependendo de fatores conjunturais.

O setor da triticultura nacional está aproveitando a oportunidade que se abriu. As projeções para 2022/2023 são bastante promissoras. A produção deve ter uma alta de 17%, alcançando 9,05 milhões de toneladas, a área plantada deve aumentar 6,6% chegando a 2,92 milhões de hectares, com a melhora na produtividade de cerca de 10%. Respondendo à oportunidade dos altos preços, a exportação deve subir acima dos 3 milhões de toneladas. Recentemente, a Embrapa divulgou programa de estímulo à produção de trigo no norte do Cerrado, com técnicas e sementes diferenciadas, inclusive transgênicas. Segundo informação divulgada pela empresa, a meta da Embrapa Trigo é promover o aumento de 300 mil hectares nesta safra, um crescimento de 11%. Somente este aumento traria impactos para a balança comercial brasileira na ordem de R$ 1,35 bilhão, isto é, o Brasil não precisa enviar para o exterior R$ 1,35 bilhão com as importações de trigo.

+ 100 mil hectares no Cerrado = 300 mil toneladas de trigo = R$ 450 milhões na balança comercial

+ 200 mil hectares no Sul = 600 mil toneladas de trigo = R$ 900 milhões na balança comercial

+ 300 mil hectares de trigo no Brasil = 900 mil toneladas = R$ 1,35 bilhão na balança comercial

Em maio de 2022, a Embrapa Trigo aprovou junto ao Ministério da Agricultura um Termo de Execução Descentralizada (chamado de TED do Trigo Tropical), com uma proposta de agenda para a expansão do cultivo na região tropical. Oito ações compõem o plano que envolve a organização da produção de sementes, transferência de tecnologia, governança de cadeia, comunicação, zoneamento agrícola, fortalecimento de iniciativas locais, sistema de informações sobre a dinâmica municipal de produção de trigo e ações de pesquisa para brusone. As ações foram orçadas em R$ 2,9 milhões e deverão viabilizar as atividades desenvolvidas nos próximos 36 meses. O TED segue no aguardo de liberação financeira do Ministério da Agricultura. O Brasil também tem aumentado suas exportações de trigo.

O Rio Grande do Sul exportou em 2021 um volume de 2,6 milhões de toneladas para os mercados de 14 países (Indonésia, Vietnã, Arábia Saudita, Marrocos, Paquistão, Israel, Venezuela, Turquia, Uruguai, África do Sul, Egito, China, Sudão e Equador). Nos primeiros 4 meses de 2023 (janeiro a abril), foram exportados 2,17 milhões de toneladas. Pesquisas no Brasil, inclusive da Embrapa, e no exterior, mostram que a aplicação de técnicas especiais no cultivo traz um benefício ambiental pela absorção de gás carbono no ciclo da safra de trigo. Segundo referido pelo biólogo Fernando Reinach, teria sido descoberto na China um gene capaz de aumentar em cerca de 50% a produção de trigo e de arroz por hectare. Chamado de OsDREB1C, se confirmado seu efeito na produção, o gene poderá ser um fator muito positivo para o setor no Brasil e para a segurança alimentar no mundo. Fonte: Rubens Barbosa. Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo). Broadcast Agro.