15/Aug/2023
A fabricante de alimentos M. Dias Branco apresentou lucro líquido de R$ 217,9 milhões no segundo trimestre deste ano. O resultado é 6,7% menor na comparação com igual período de 2022, quando a empresa reportou lucro líquido de R$ 233,5 milhões. O Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) atingiu R$ 376,8 milhões, avanço de 5,5% frente aos R$ 357,1 milhões do segundo trimestre do ano passado. A margem Ebitda ficou em 13,2%, ante 14,3% de um ano antes, recuo de 1,1 ponto porcentual. A alavancagem da empresa (relação entre dívida líquida e Ebitda) ficou em 1,2 vez, ante 1,3 vez reportada em igual período do ano passado. A receita líquida avançou 14,1% na mesma base comparativa, alcançando R$ 2,849 bilhões, ante R$ 2,497 bilhões do segundo trimestre de 2022. O crescimento de dois dígitos da receita é atribuído pela companhia, em comunicado para a imprensa e investidores, ao aumento de 5% do preço médio dos produtos na comparação anual do período e ao incremento de 8,5% do volume de vendas.
A empresa citou o aumento de preço médio nas duas principais categorias (biscoitos e massas), a ampliação dos volumes em todas as categorias e o crescimento de 65,5% da receita de "outras linhas de produtos" (cookies, granolas, categorias das linhas Latinex e Jasmine) como destaques para o incremento da receita. Tanto as Regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, chamada pela companhia de região de ataque, quanto a região de Defesa, formada pelas Regiões Norte e Nordeste, apresentaram alta de 14% na receita líquida na mesma base comparativa. Do montante total da receita líquida, R$ 45,6 milhões vieram da receita da empresa no exterior, o que inclui exportações e a operação no Uruguai. Sobre a alavancagem, a M. Dias afirmou que a redução do nível de endividamento é reflexo da geração de caixa recorde no período, de R$ 512 milhões, que levou ao caixa total de R$ 1,2 bilhão, somado ao maior Ebitda.
Quanto ao avanço do Ebitda, a companhia ressaltou que a margem Ebitda foi crescente ao longo do segundo trimestre, encerrando o mês de junho em 15,6% em virtude da melhora sequencial de margem bruta e do desempenho das vendas. O resultado da M. Dias Branco mostra a tendência de consolidação da empresa iniciada há um ano, após a normalização do consumo de produtos derivados de farinha de trigo. A M. Dias Branco registrou aumento de 8,5% no volume de vendas de seus produtos no segundo trimestre deste ano na comparação com igual período do ano passado. O volume vendido pela companhia passou de 418,5 mil toneladas para 454,1 mil toneladas. Tanto o segmento de biscoitos quanto o de massas, principais categorias da empresa, avançaram 0,8% no volume vendido, enquanto o segmento de "outros alimentos" (categoria que engloba produtos de maior valor agregado) subiram acima da média. De biscoitos, a companhia comercializou no período 133,1 mil toneladas contra 132,1 mil toneladas do segundo trimestre do ano passado.
As vendas de massas saíram de 89,4 mil toneladas para 90,1 mil toneladas. Em relação ao trimestre anterior, as vendas da companhia aumentaram 12,7%, seguindo a tendência de sazonalidade no consumo destes produtos e a recomposição sequencial dos volumes. Apesar do maior volume vendido, a M. Dias diminuiu sua participação de mercado de massas na comparação entre o segundo trimestre de 2023 e o de 2022, enquanto avançou em biscoitos. Em massas, sua participação em volume decresceu 2,9 pontos porcentuais, para 28,1%, atribuída pela empresa a um preço médio superior ao do mercado e à redução na gramatura de itens do portfólio de 500g para 400g. No segmento de biscoitos, a participação aumentou 2,1%, para 29,9%. Em farinha de trigo, a participação de mercado da M. Dias em volume vendido saiu de 9,2% no segundo trimestre do ano passado para 10,1% no segundo trimestre deste ano, avanço de 0,9%. Em valor, houve crescimento anual de participação de mercado em biscoitos e farinha e queda em massas.
A M. Dias manteve a liderança no mercado nacional em massas e biscoitos no período. O preço médio de todas as categorias aumentou 5% na comparação anual dos trimestres, para R$ 6,30 por quilo. Em biscoitos, o incremento no preço médio dos produtos foi de 11,8%. Em massas, de 9,5%. Em farinha e farelo, houve queda de 2,8%, e em margarinas e gorduras, o preço médio recuou 3,3%. O preço médio de outras linhas de produtos (bolos, snacks, mistura para bolo, torradas, produtos saudáveis, molhos e temperos) aumentou 7,2% entre o segundo trimestre do ano passado e o deste ano. Acompanhando o aumento no volume de vendas, a produção da M. Dias passou de 683,4 mil toneladas no segundo trimestre de 2022 para 695,7 mil toneladas processadas no segundo trimestre deste ano. A capacidade total de produção foi ajustada de 1,112 milhão de toneladas para 1,078 milhão de toneladas. O nível de utilização da capacidade total de produção subiu 3%, de 61,5% para 64,5%, resultado do aumento dos volumes vendidos, segundo a empresa.
Ainda como fatos relevantes do segundo trimestre deste ano, a companhia destacou a manutenção da elevada verticalização dos dois principais insumos: farinha de trigo e gordura vegetal em, respectivamente, 99,6% e 100%. No período, a empresa investiu R$ 71,9 milhões, 11% acima do valor investido em igual intervalo de 2022. Do montante, 76,5% foram destinados para manutenção e 23,5% direcionados para ampliação de capacidade. Os principais aportes foram investimentos em sistemas. Após um trimestre com crescimento de dois dígitos na receita líquida, de 14,1%, e de 9% no volume vendido, a M. Dias Branco, líder em massas e biscoitos, espera redução de custos para o segundo semestre do ano e demanda firme. Com exceção do açúcar, deve haver queda nos preços do trigo e do óleo de palma na comparação ano contra ano. O menor custo do trigo demorou a ser observado na M. Dias porque a empresa tem quatro meses de estoque, mas, para os próximos trimestres, a empresa deve capturar maior redução dos custos de forma gradual.
Com a queda dos preços das commodities, o custo variável da empresa passou de R$ 3,70 por Kg para R$ 3,60 por Kg em um trimestre contra R$ 3,30 por Kg do segundo trimestre do ano passado, aumento puxado sobretudo pela alta dos preços das commodities em virtude da guerra entre Rússia e Ucrânia. A companhia encerrou o segundo trimestre com custo de R$ 890,00 por tonelada de trigo, sua principal matéria-prima. O custo do 2º trimestre de 2022 ainda foi pré-guerra e o atual pós-guerra, mas desde o primeiro trimestre segue trajetória gradual de queda. Há pouco espaço para aumento de preços neste momento. Em relação ao volume vendido, que subiu tanto na comparação entre o segundo e o primeiro trimestre (+12,7%) quanto na comparação anual entre os segundos trimestres (+8,5%), a M. Dias espera demanda firme e vê normalidade nos mercados. Os dois principais mercados, biscoitos e massas, crescem tanto em valor quanto em unidades vendidas.
A demanda está firme por vários motivos: recuperação econômica, incentivos para consumo e estratégia das empresas do setor. Em valor, deve haver até crescimento do mercado em geral, enquanto em volume mercado deve ficar estável no ano. Ainda não é possível estimar eventuais reflexos da reforma tributária, que prevê desoneração de impostos sobre produtos da cesta básica, na demanda do setor. Ainda não se sabe qual será o texto final e qual a cesta básica definida. Um ponto positivo é que ela terá uma transição ao longo de vários anos, o que dará tempo para a indústria avaliar seus impactos favoráveis e desfavoráveis. Sobre eventuais mudanças na localização do parque fabril, com provável fim de incentivos fiscais para determinadas regiões, ainda não há clareza sobre o caminho a ser seguido, de mudança ou não. Mudanças no parque fabril envolvem decisões importantíssimas de capex e de médio e longo prazo. Será preciso ter a certeza do texto final para reavaliar, o que pode exigir mudanças ou não.
No exterior, onde exporta especialmente para a América Latina e atua com a uruguaia Las Acacias, a M. Dias avalia que o desempenho está dentro do esperado e vê manutenção do ritmo ao longo do ano. Las Acácias reporta um desempenho um pouco melhor. As exportações estão abaixo na comparação com o ano passado, em virtude do impacto do câmbio, pois a apreciação do real ajuda nos custos e diminui receita de exportações. A soma das frentes está dentro do esperado. Em relação a novas fusões e aquisições, mesmo com o crescimento dos indicadores financeiros, a estratégia da empresa de foco na integração das três empresas adquiridas nos últimos dois anos será mantida, mas com o radar atento a eventuais movimentações. Olhando especialmente o balanço da empresa, há espaço para movimentos inorgânicos, mas o momento é de integração e de capturar oportunidades nos negócios principais no curto prazo.
Entretanto, negócios nas frentes de novas categorias, internacionalização e maior rentabilidade seguem sendo observados pela M. Dias. O conflito entre Rússia e Ucrânia ainda causa instabilidade na região do Mar Negro, uma das principais fornecedoras de trigo para o mundo. Essa questão pode ser resolvida no curto e médio prazo, mas ela requer um pouco de atenção. Apesar da eventual instabilidade no fornecimento de trigo por estes países, a M. Dias vê "ventos favoráveis" para a redução do custo médio do cereal adquirido pela empresa. A M. Dias tem capacidade de estocagem maior que os concorrentes. Em virtude da dinâmica do Mar Negro, os concorrentes devem sofrer com aumento do preço do cereal nas próximas compras, mas a M. Dias com hedge de trigo e câmbio vai surfar essa onda, enquanto os concorrentes terão de ajustar o preço em virtude do aumento do preço do trigo. A empresa ainda tem estoque com custo médio interessante em relação aos concorrentes.
A companhia calcular ter, em média, reservas suficientes de trigo para volume utilizado em quatro meses. A M. Dias encerrou o segundo trimestre com custo de R$ 890 milhões de trigo, sua principal matéria-prima, em comparação com R$ 775,3 milhões reportados em igual período do ano passado e R$ 866 milhões do primeiro trimestre deste ano. O preço médio de aquisição do cereal em junho ficou em US$ 314,00 por tonelada ante US$ 343,00 por tonelada do valor no mercado. O cenário favorável para a redução de custos é visto também no óleo de palma, outro importante insumo na produção de biscoitos. A M. Dias encerrou o segundo trimestre com preço médio de aquisição do óleo e palma em US$ 1.637,00 por tonelada em junho em comparação com US$ 1.045,00 por tonelada do valor no mercado. A M. Dias Branco, líder nacional em massas e biscoitos, não prevê reajustes no preço final de seus produtos, a não ser no caso da farinha que está mais conectada com o preço da commodity.
Nas outras categorias, não há programação de novas precificações. Apesar do aumento de 5% no preço médio dos produtos da companhia na comparação anual do segundo trimestre, não houve reajuste de preço relevante no período e sim efeito da redução de peso das unidades de alguns tipos de massa comum de 500g para 400g. Não houve precificação relevante. Foi capturado aumento de preço nas massas em virtude da redução da embalagem. Essa captura, iniciada no segundo trimestre, deve continuar. A empresa cogitou uma tabela de aumento de 7% nos preços no primeiro trimestre deste ano, mas o reajuste não se concretizou em virtude da queda do preço das commodities. Neste trimestre, parte dos descontos foi gradualmente diminuindo, o que contribuiu para o aumento de preço trimestral, além do carry-over (transferência) do ano anterior. Havendo ambiente, é possível reduzir ainda mais esse desconto. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.