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28/Jul/2023

Mercado global de grãos e a situação no Mar Negro

A não renovação do acordo de exportações pelos portos do Mar Negro e o ataque a estruturas no Rio Danúbio, importante rota para as exportações ucranianas, aumentaram as preocupações com o abastecimento mundial de cereais (principalmente trigo e milho) e com possíveis reflexos inflacionários. Ainda é cedo para se estimar o impacto dos desenvolvimentos recentes da guerra sobre as exportações de grãos da Ucrânia nos próximos meses. Após o pânico no início desta semana, as cotações internacionais do milho e do trigo devolveram parte das altas. No ano passado, a entrada em vigor do Acordo Iniciativa de Grãos foi fundamental para arrefecer a alta das cotações dos grãos, mas, atualmente, além da situação no Mar Negro, o mercado monitora o contexto da oferta em outros players importantes e o ritmo da demanda. Quando o conflito começou, no fim de fevereiro de 2022, especulava-se qual seria o impacto não somente nas exportações ucranianas, mas também na produção do país.

Realmente, houve uma queda importante da produção: a safra de milho caiu de 42 milhões de toneladas para 27 milhões de toneladas na passagem do ciclo 2021/2022 para o 2022/2023, enquanto a produção de trigo recuou de 33 para 21,5 milhões, segundo dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA). Contudo, as perspectivas para as exportações não apontavam para uma queda expressiva, com o país recorrendo aos estoques para manter seu nível de embarques. Em contrapartida, para a safra 2023/2024, além de as estimativas indicarem mais um recuo da produção, as exportações também cairiam em decorrência da menor disponibilidade dos grãos ucranianos. Esse aparente acirramento do conflito poderia causar impacto ainda maior na produção e nas exportações ucranianas. Mesmo assim, passado o impacto inicial, o mercado passou a olhar também para as alternativas, que poderiam “substituir”, pelo menos parcialmente, os cereais da Ucrânia. Por exemplo, no caso do trigo, a situação tenderia a se agravar consideravelmente caso a Rússia, maior exportadora do cereal, não consiga escoar sua produção.

Atualmente, o trigo russo está com preços baixos, e tem registrado descontos significativos em relação ao cereal norte-americano, mesmo com a alta recente. Já a safra brasileira recorde de milho, que está pesando sobre os preços domésticos, seria uma alternativa de origem aos importadores, pois além da elevada disponibilidade, é uma fonte mais estável atualmente em relação à Ucrânia. Se olharmos para além da questão do conflito no Mar Negro, podemos citar outros exemplos em que a oferta muito grande em alguma região, mesmo com problemas em outras, “evitou” uma tendência de alta dos preços das commodities agrícolas. Considerando novamente a situação do milho, a Argentina sofreu perdas expressivas de safra no ciclo 2022/2023 devido ao La Niña, mas que foram ofuscadas pelo recorde produtivo aqui no Brasil. Além disso, a safra dos Estados Unidos começou com perspectivas muito positivas e houve a surpresa com um aumento expressivo da área plantada.

No caso da soja, também pode-se citar o recorde brasileiro de produção, em 157,7 milhões de toneladas, segundo a StoneX, que compensou as perdas de quase 60% na safra argentina e pesou sobre os preços da oleaginosa nos últimos meses. Atualmente, existem preocupações com o tamanho da safra norte-americana 2023/2024, que está em andamento, destacando a surpresa contrária à do milho com o corte importante na área plantada. Pelo lado da demanda, o desempenho econômico mais fraco ao redor do mundo contribuiu para segurar os preços das commodities e contrabalançar choques de oferta, como quebras e mesmo a continuidade da guerra entre Rússia e Ucrânia. Dessa forma, por mais que a Ucrânia seja um player muito importante no mercado mundial de grãos e o tamanho de suas exportações e produção continuem sendo acompanhadas de perto, outros fatores de oferta e demanda também exercem grande influência sobre o direcionamento das cotações. Um ponto de atenção nos próximos meses é o El Niño, que pode ter um efeito tanto positivo quanto negativo sobre as lavouras, a depender do país/região considerado. Fonte: Ana Luiza Lodi. Broadcast Agro.