09/Jan/2023
O Brasil pode se consolidar neste ano como um importante player nas transações internacionais de trigo. Atualmente, o País é um grande importador, mas o setor nacional deve aproveitar as oportunidades postas diante da menor oferta argentina e dos problemas logísticos no Mar Negro e elevar sua participação nas exportações mundiais. O Brasil pode se tornar o 10º maior exportador global da commodity na temporada 2022/2023. Apesar de a oferta de trigo da temporada 2022/2023 continuar crescendo pelo quarto ano seguido, os estoques mundiais devem se reduzir pela terceira temporada consecutiva. Especialmente nas últimas três temporadas, enquanto o consumo mundial cresceu 5,8%, a produção aumentou apenas 2,5%. No mesmo período, as transações internacionais avançaram 8,5%. Com isso, a relação estoque/consumo mundial deve passar para 34,1%, a terceira redução anual seguida e a menor desde 2014/2015.
Para esta temporada, em que a colheita já está finalizada no Hemisfério Norte e praticamente consolidada no Hemisfério Sul, o USDA prevê importantes reduções de produção na União Europeia, Índia, Paquistão, Ucrânia e Argentina. No agregado mundial, a oferta deve crescer 0,2%, para 780,6 milhões de toneladas. Por outro lado, a situação da Covid-19, os altos preços do cereal e a concorrência com a oferta de milho podem limitar a demanda pelo trigo por parte da China, Índia, Irã, Ucrânia e Estados Unidos. Assim, no agregado mundial, a demanda deve somar 789,5 milhões de toneladas, 0,5% a menos que na temporada anterior. Mesmo assim, as transações mundiais devem crescer 2,0%, para 208,6 milhões de toneladas, representando 26,2% da produção mundial, a maior relação da história.
Neste ambiente, a Bolsa de Chicago aponta preços firmes e em alta para os contratos com vencimento até o primeiro semestre de 2024, evidenciando que o mercado sinaliza necessidade de uma outra boa safra em 2023/2024 para equilibrar os estoques mundiais. O setor brasileiro deve sentir impacto importante da menor oferta da Argentina. A safra no país vizinho está prevista, até o momento, em 12,5 milhões de toneladas, a menor desde 2013/2014, devido ao clima desfavorável. Com isso, espera-se que a Argentina exporte apenas 7,5 milhões de toneladas, contra 16,3 milhões de toneladas na temporada passada e o menor volume em nove anos. Para o Brasil, após atingir volume recorde em 2022, é de se esperar que a área destinada à cultura siga em crescimento, resultando em colheita elevada. Tradicionalmente, a demanda interna de trigo é atendida pelas importações. Da temporada 2001/2002 até 2022/2023, as importações representaram 58,6% do consumo doméstico.
Entretanto, nas últimas três temporadas, a produção nacional superou os volumes de importação, o que tinha ocorrido em apenas 6 das últimas 19 temporadas. Com a maior produção do País, a estimativa de exportação deverá ser de 3 milhões de toneladas (entre agosto/2022 e julho/2023), ainda 1,5% abaixo da safra passada – mas estes dados podem ser revistos, com crescimento no volume a ser exportado. A estimativa de importação é de 6,1 milhões de toneladas de agosto/2022 a julho/2023, 0,3% superior ao da temporada anterior. O ano de 2023 vai se iniciar com um dos maiores volumes de disponibilidade interna da história. Esse é um cenário importante, diante dos preços internacionais em alta e das dificuldades que o Brasil encontrará para importar trigo no primeiro semestre deste ano. Com a maior disponibilidade de trigo nacional, o volume de importação foi reduzido. O volume de trigo importado de agosto/2022 a dezembro/2022 soma 1,850 milhão de toneladas, 22% inferior ao de agosto/2021 a dezembro/2021.
A previsão é de que a produção de trigo no País continue aumentando em 2023, especialmente diante dos elevados preços praticados nos mercados interno e externo. Desta forma, deverá seguir reduzindo, ao longo do tempo, o volume necessário importado para suprir a demanda interna, ao mesmo tempo em que se eleva o excedente exportável. O volume importado de trigo ainda é alto, e acompanhar o câmbio é fundamental, devido ao impacto direto no preço. Em 2022, o preço médio das importações (FOB) foi de R$ 1.879,80 a tonelada, contra R$ 1.437,56 a tonelada em 2021. Em 2023, as cotações de derivados deverão continuar acompanhando o movimento do trigo. Além disso, para os farelos, deve-se ficar atento ao mercado de milho, já que são substitutos na ração animal. Ressalta-se que a menor safra na Argentina preocupa moinhos brasileiros. Fonte: Cepea. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.