14/Dez/2022
Em seu mais recente relatório de oferta e demanda mensal, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) diminuiu em cerca de 2 milhões de toneladas a sua previsão da safra global de trigo. Isso se deve principalmente à revisão para baixo das safras da Argentina e do Canadá que, juntas, mais do que compensaram o ajuste para cima da safra da Austrália. Ainda assim, os preços do cereal caíram novamente, pelo menos por um breve momento, logo após a publicação do relatório. O contrato futuro mais líquido negociado na Bolsa de Chicago se aproximou da mínima de 14 meses de US$ 7,20 por bushel, atingida há uma semana. Na Euronext, o preço caiu cerca de 15% desde o início do mês passado a 300 euros por tonelada, seu nível mais baixo desde que a Rússia declarou guerra à Ucrânia. A principal razão para a queda dos preços provavelmente foi a melhora nas perspectivas de exportação para a região do Mar Negro: o USDA manteve suas previsões de safra para a Ucrânia e a Rússia inalteradas, mas elevou sua estimativa para as exportações.
Isso provavelmente ocorreu porque as exportações russas aceleraram recentemente e porque o acordo de grãos foi prorrogado. No entanto, os riscos de abastecimento em relação à região do Mar Negro permanecem altos. Ambos os lados queriam fazer emendas, mas claramente não conseguiram chegar a um acordo sobre elas, razão pela qual ele foi prorrogado sem modificações por mais 120 dias. Enquanto a Ucrânia queria ter incluído mais um porto no tratado e o estendido por mais um ano, a Rússia tentava facilitar a exportação de seus fertilizantes. Não há certeza de que o acordo será renovado facilmente quando expirar em março, até mesmo dada a ameaça de uma nova escalada do conflito militar, o que significa que a incerteza sobre a continuidade do corredor de grãos pode aumentar significativamente a qualquer momento, elevando os preços. Também é possível que o acordo volte a ser temporariamente suspenso, como aconteceu em novembro.
Outro fator altista para o cereal é a diminuição da oferta de trigo da Ucrânia por causa da guerra. O Ministério da Agricultura da Ucrânia alertou recentemente que a área de plantio de trigo de inverno deve ser quase 40% menor do que no ano passado, o que também deve resultar em menores exportações. Até o momento, as exportações do cereal ficaram aquém do nível da temporada anterior em pouco mais de 50%, sem sinais de melhora significativa. Em vista da última queda de preço, as projeções de preço do trigo foram reduzidas, embora ainda se espere que os preços subam nos próximos trimestres em virtude dos riscos de oferta em meio à guerra na Ucrânia. Supondo, no entanto, que o corredor de grãos se estenda além de meados de março, a incerteza diminuiria. Como resultado, os preços na Bolsa de Chicago poderiam cair de forma duradoura para a marca de US$ 8,00 por bushel e suas contrapartes da Euronext poderiam chegar a 280 euros por tonelada até o fim do próximo ano.
O relatório mensal do USDA também reduziu em 6,5 milhões de toneladas a safra global de milho, principalmente em virtude da menor oferta ucraniana. Isso foi parcialmente compensado por uma previsão mais alta para as exportações de milho do país devastado pela guerra, mas foi anulado por revisões para baixo das exportações de milho dos Estados Unidos e da Rússia. Como resultado, as exportações como um todo foram ajustadas para baixo em cerca de 1 milhão de toneladas. Os preços de ambos os cereais subiram no início desta semana por causa dos ataques aéreos russos que interromperam o fornecimento de energia e forçaram o Porto de Odessa a suspender temporariamente suas operações, incluindo as exportações de grãos. Isso confirma a visão de que a incerteza em torno do corredor de grãos continuará alta em virtude do conflito militar entre a Rússia e a Ucrânia e que um prêmio de risco sobre os preços do trigo é, portanto, justificado. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.