06/Dez/2022
Em novembro de 2022, o Brasil projetava a maior safra de trigo da sua história, com mais de 10 milhões de toneladas. Enquanto isso, na Argentina, em virtude da forte estiagem e das geadas no país, projeta-se uma das menores safras, da ordem de 9,5 milhões de toneladas na hipótese mais pessimista e cerca de 11 milhões na melhor, depois da produção de 22 milhões de toneladas em 2021/2022. Se isso de fato ocorrer, pela primeira vez, a safra brasileira de trigo vai ser maior do que a argentina, o que seria muito improvável pensar no curso das últimas décadas. A colheita da safra argentina começou em novembro e se estende até janeiro. Usualmente, a negociação para a compra do trigo de procedência da Argentina ocorre no começo do ano e, caso se confirme a redução de cerca de 40% da safra, a disponibilidade terminará em maio de 2023. Esse cenário é desafiador para os moinhos, considerando um menor estoque global em função dessa e de outras quebras pelo mundo e a busca por novas fontes de trigo em outros países.
Por essa razão e pela continuidade dos conflitos entre Rússia e Ucrânia, os preços do grão no mercado internacional ainda enfrentam instabilidade, o que segue afetando as cotações e os negócios por aqui. A Rússia deverá colher uma safra recorde de cerca de 100 milhões de toneladas. A Ucrânia conseguirá exportar grande parte de sua produção de grãos, graças à prorrogação por seis meses do acordo com a Rússia, moderado pelas Nações Unidas e pela Turquia, para manter o corredor de segurança que permite a saída da produção ucraniana pelo mar Negro. Até outubro, o acordo permitiu a exportação de 4,2 milhões de grãos. A Ucrânia espera exportar 20 milhões de toneladas de trigo em 2022/2023. A safra norte-americana do trigo está projetada para ser menor do que a de 2021/2022 e os estoques terão pequena redução, mas isso não afetará a disponibilidade de exportação para o mercado externo. O aumento da produção no Brasil, em áreas não tradicionais, e o estímulo pelo programa da Embrapa no norte do cerrado compensam, até certo ponto, a dificuldade de fornecimento pela quebra da produção argentina.
O Brasil deve manter suas exportações de trigo e alguma parcela do trigo será utilizada para forragem. Por isso, os moinhos terão de buscar a diferença entre o que virá da Argentina e a demanda interna atendida pela produção doméstica, pela importação da Rússia, dos Estados Unidos e dos países do Mercosul. A estimativa de importação do Brasil está na mesma linha dos anos anteriores, ao redor de 6,1 milhões de toneladas. Informa-se, por exemplo, que sete navios com trigo russo deverão chegar ao Brasil nos primeiros meses do próximo ano, aumentando significativamente a participação da Rússia como fornecedora do Brasil. Segundo projeções do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), o Brasil deve importar 6,2 milhões de toneladas em 2022/2023. Em 2021/2022, foram compradas 6,582 milhões de toneladas. Os estoques ao início de 2022/2023 são estimados em 443 mil toneladas. A produção é projetada em 9,4 milhões de toneladas. Assim, a oferta é prevista em 16,043 milhões de toneladas.
As exportações devem passar de 3,105 milhões de toneladas em 2021/2022 para 3,3 milhões em 2022/2023. O consumo do país é estimado em 12 milhões de toneladas. Os estoques finais devem ficar em 743 mil de toneladas. A produtividade recorde de trigo no Brasil, no entanto, é um resultado positivo em meio às questões externas que influenciam a nossa cadeia. Estados como São Paulo e Rio Grande do Sul colhem as maiores safras já registradas por eles, o que estimula o consumo interno de farinha nacional e ainda proporciona resultados positivos de exportação ao País. A expectativa das cotações do trigo nas Bolsas de Chicago e Kansas continuarão em níveis mais elevados do que eram registrados antes da guerra em fevereiro passado e permanecerão voláteis em função de fatos novos na guerra e de condições climáticas nos principais produtores mundiais. Fonte: Rubens Barbosa. Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo). Broadcast Agro.