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29/Jul/2022

Brasil está em busca da autossuficiência em trigo

Com história ainda breve no Cerrado brasileiro, o trigo cultivado na região começa a ganhar fama internacional. Estudos realizados desde as décadas de 1980 e 1990 pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) com o intuito de trazer mais produtividade e qualidade para o cereal apresentam bons resultados. A expectativa é de que, em poucos anos, o Distrito Federal seja autossuficiente na produção de trigo. A cultura do trigo chegou ao Brasil durante a imigração europeia, no século XIX, e se instalou na Região Sul do País, que possui clima mais favorável para o plantio do cereal. Com temperaturas mais baixas, a região responde atualmente por 90% de toda a produção nacional. Mas, o cenário tende a mudar. No Distrito Federal, o trigo também já ganhou muito espaço, principalmente na região agrícola do PAD-DF, localizada a 60 Km da área central de Brasília. A média de produtividade na região, de acordo com a Embrapa Cerrado, já chega a 6 mil quilos por hectare e a produção neste ano deve evoluir de 3,1 mil hectares para 3,6 mil hectares, em comparação com 2021.

Daqui a cinco anos, o Distrito Federal será autossuficiente no trigo, com um produto de excelente qualidade. A região já produz os melhores trigos em termos de qualidade industrial para panificação. Então, as próprias padarias da região ficam muito satisfeitas quando recebem farinhas desenvolvidas localmente. O sucesso foi possível graças aos trabalhos desenvolvidos pela Embrapa. No início dos anos 1970, a média de produtividade do trigo no País era de 600 quilos por hectare. Com o início das pesquisas, ainda na década de 1970, no Rio Grande do Sul, a empresa conseguiu expandir a produção para 3.000 quilos por hectare, o que representou cinco vezes mais produtividade. O mesmo movimento vem sendo feito no Distrito Federal. Para conseguir a excelência na qualidade e produtividade, os pesquisadores tiveram que buscar soluções no exterior. Foram trazidas variedades do México que foram cruzadas com os materiais do Sul e foram selecionadas e criadas variedades para a região do Cerrado do Brasil Central.

Além disso, até a época de plantio e colheita do cereal foi alterada. Enquanto na Região Sul, o trigo é conhecido como “de inverno”, na Região Centro-Oeste a variedade foi adaptada para conseguir suportar climas mais quentes, como o do Cerrado, e passou a ser chamada de “trigo de primavera”, ou “trigo tropical”. Com essas variedades, foi possível partir de 2.000 quilos por hectare para entre 5.000 e 6.000 quilos por hectare. Hoje, já se atinge 9.000 quilos por hectare. É um recorde mundial, inclusive de produtividade, com a cultivar BRF 264 (variedade produzida pela Embrapa), que é uma das últimas cultivares que foram lançadas, e com uma excelente qualidade de grão para produção de pães. Atualmente, a guerra entre Rússia e Ucrânia (dois dos maiores exportadores de trigo do planeta) tem gerado dificuldades para o abastecimento do cereal em diversos países, inclusive no Brasil, que ainda é o oitavo maior importador de trigo do mundo. A Argentina é a principal exportadora para o País, com 87% de todas as importações de trigo.

Outros países, como Canadá, Rússia e Ucrânia, também vendem parcelas significativas do cereal para o Brasil. Por conta disso, o tradicional pão francês, derivado do trigo, tem sumido aos poucos da mesa do brasileiro. Com os desafios impostos pela guerra, a grande ambição atual da pesquisa de trigo no País é conseguir a autossuficiência em breve. Estima-se que o consumo total de trigo no Brasil seja de 12,7 milhões de toneladas e a previsão é de que esse número chegue a 14 milhões nos próximos anos. Atualmente, a produção estimada para 2022 é de 8 milhões de toneladas de trigo, suficiente para atender 62% de toda a demanda do País. A Embrapa Trigo de Passo Fundo (RS) destaca que o cenário é positivo e que o Brasil caminha para ser autossuficiente dentro de um período de 10 anos. Pela atratividade ao produtor e pelo avanço nas técnicas de melhoramento genético, o cenário será possível em breve. O Brasil vai ser autossuficiente no trigo em menos de uma década e vai contribuir também com a exportação para a segurança alimentar de parte do mundo.

Para alcançar o objetivo, é necessário expandir a fronteira agrícola do trigo. Dessa forma, Brasília foi escolhida para sediar o 15º Fórum Nacional de Trigo, que ocorreu no dia 28 de junho. A ideia de realizar o evento na capital federal deve-se à expansão do trigo tropical pela região e à proximidade de outros atores da cadeia produtiva. Em Brasília, há a grande fronteira que pode ser explorada e o trigo compor os sistemas de produção, sem necessidade de abrir um metro quadrado sequer de novas áreas. O trigo vai entrar em sucessão à soja e ao milho, que são as principais culturas de verão, para compor o sistema de produção dos sistemas irrigados para melhoria de solo da biorremediação e como fonte alternativa de renda. Isto permite dinamizar a economia local. Embora haja uma perspectiva de crescimento para os próximos anos, o trigo deve enfrentar outro problema. Identificada pela primeira vez no Brasil, a Brusone é uma doença de difícil controle, causada pelo fungo Pyricularia oryzae e pode causar deformação, rugas e diminuição dos grãos de trigo e, consequentemente, levar à perda de boa parte das produções.

A Brusone já se espalhou por plantações de trigo em Bangladesh, na Zâmbia e em outros países da Ásia e da África. Para evitar uma disseminação ainda maior da doença, a Embrapa trabalha para conseguir variedades do cereal mais resistentes ao fungo. É preciso fazer tratamentos preventivos para evitar a entrada dessa doença nas lavouras de trigo. A Embrapa está desenvolvendo variedades mais resistentes a essa doença, para diminuir o custo de produção com aplicação de fungicidas, para o controle dessa doença. Além de já estar presente nas Regiões Sudeste e Centro-Oeste, o trigo avança para as Regiões Norte e Nordeste do País. A Semevinea Genética, empresa dedicada ao melhoramento genético do trigo, desenvolve uma série de estudos para conseguir expandir com qualidade a produção do cereal nessas regiões. Com clima quente e seco na maior parte, o Nordeste tem apresentado um cenário desafiador para os produtores. Atualmente, as pesquisas se concentram na região oeste da Bahia, Ceará, Maranhão e Piauí.

A introdução e o desenvolvimento de cultivares de trigo para essas regiões de terceiro ciclo será o mais desafiador, em função das características do ambiente serem bem distintas do cerrado. Encontrar uma plataforma adaptativa ideal para essas latitudes será o paradigma do trigo verdadeiramente tropical. Em Roraima, no extremo norte do País, testes de expansão do trigo também já estão sendo realizados, e com resultados surpreendentes. O objetivo do trabalho foi descobrir se o trigo tropicalizado do Cerrado se adaptaria ao cerrado de Roraima. Então, foi feito e o experimento. Foram plantados três materiais no início de dezembro e, com 66 dias, as plantas já estavam aptas a serem colhidas, segundo a Embrapa Roraima. Em função disso, percebeu-se que existe a possibilidade de explorar a cultura nessa região. Os tabus estão sendo quebrados com o melhoramento genético. Então, nos anos 1980 ou 1990 não seria possível plantar em Roraima, porque a genética é outra.

Embora seja um Estado que possua boa parte do território coberto pela Floresta Amazônica, é possível expandir a cultura do trigo na região sem desmatar a floresta. Essa é a proposta que a Embrapa tem a trazer para a Região Amazônica. Alternativas para as pessoas poderem ter qualidade de vida. Então, é preciso levar tecnologia para o produtor que mora na Amazônia. Essas novas fronteiras agrícolas podem ser o diferencial para a autossuficiência brasileira. Mesmo diante de todas as dificuldades que as regiões apresentam, o futuro do trigo deve acompanhar a migração do cereal para áreas mais afastadas dos centros tradicionais na Região Sul do País. A autossuficiência de trigo no Brasil tem sido objeto de muita polêmica, pois o País produz de tudo e o trigo tem sido o “patinho feio”. A aposta é que a produção de trigo de sequeiro (sem irrigação) nas regiões não tradicionais, como o Cerrado e as regiões de latitudes menores, como o Nordeste e Norte, devem se constituir nos atores determinantes dessa autossuficiência. Área não falta para isso, a questão passa pela estruturação da cadeia produtiva de trigo como um todo. Fonte: CR. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.