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05/Jul/2022

Guerra seguirá afetando o mercado global do trigo

Após quatro meses de guerra, não há sinal de que o conflito entre a Rússia e a Ucrânia possa terminar no curto prazo. A tendência é de uma guerra prolongada. Nessa perspectiva, o mercado de commodities, em especial o de trigo, continuará a ser bastante afetado, com oscilação no preço dos produtos no mercado internacional mantendo uma perspectiva de alta. Desde o início da operação militar, o preço do trigo subiu mais de 25% e mais de 75% desde o ano passado. A Rússia e a Ucrânia representam cerca de 30% das exportações globais de trigo, 18%, de milho e 77% de óleo de girassol. No caso do trigo, a situação interna na Ucrânia se agravou. A economia ucraniana vai sofrer uma contração de 45% em 2022 e alguns fatores tornam a situação ainda mais negativa para o mercado. 30% da produção agrícola do país está concentrada na área de confronto armado e de território agora ocupado pela Rússia.

A força naval russa está bloqueando os portos ucranianos no Mar de Azov e no Mar Negro, impedindo a saída de 90% da produção agrícola. O governo ucraniano acusa a Rússia de confiscar e, gradualmente exportar, cerca de 22 milhões de toneladas em grande parte de trigo. Com a intervenção da ONU, tentou-se, sem sucesso, abrir um corredor de exportação para os produtos ucranianos e agora começa a ser falado que os navios fretados pelos ucranianos poderiam ser escoltados por forças norte-americanas ou da Otan, o que poderia propiciar algum incidente e a escalada do conflito fora do território da Ucrânia. Nesse contexto, a perspectiva da produção agrícola da Ucrânia é muito negativa, visto que, com o plantio e as colheitas afetadas, este ano as safras serão fortemente prejudicadas, nada indicando que essa situação se altere significativamente nos próximos dois ou três anos, mesmo com o fim das hostilidades em algum momento no futuro.

No caso da Rússia, o primeiro exportador mundial de trigo, não houve interrupção do escoamento de sua safra, mas as dificuldades de transporte aumentaram, não só pelo problema nos portos, mas também pela dificuldade de encontrar navios. O impacto sobre o mercado internacional, portanto, deverá continuar com a desorganização do mercado de commodities e de energia. A perspectiva é de incerteza com a oscilação dos preços internacionais. Fatores conjunturais, como clima nas principais regiões produtoras, a queda da demanda pelo fechamento na China, o preço do frete, a recessão e as altas taxas de juros, além da ação dos fundos de investimento, poderão influenciar na oscilação para cima ou para baixo nas bolsas de mercadorias internacionais. Os mercados mais afetados pelo aumento do preço e pela dificuldade de abastecimento são os países do norte da África, do Oriente Médio e alguns da Ásia, tradicionais compradores da Rússia e da Ucrânia.

A ameaça de uma crise de alimentos tem sido repetidamente denunciada por organizações multilaterais como a FAO, a OMC e a ONU. Alguns países, como Sri Lanka e a Somália já estão com dificuldades de aquisição de produtos essenciais para a alimentação, em vista dos altos preços das commodities e da energia (gás e petróleo). Enquanto isso ocorre no exterior, nacionalmente, a burocracia continua a dificultar o processamento normal das importações pela indústria. Situações como a dificuldade de promover o desembaraço marítimo, inclusive por interpretações conflitantes de um mesmo órgão em lugares diferentes, o entrave de caminhões carregados de grãos na fronteira com o Paraguai com a operação "tartaruga" de fiscalização e a greve da Receita Federal representaram obstáculos para o cereal e causam problemas para os moinhos. Fonte: Rubens Barbosa. Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo). Fonte: Broadcast Agro.