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31/Mai/2022

Argentina: cadeia produtiva rejeita trigo transgênico

Apesar da liberação pelo governo argentino para o plantio em escala comercial do trigo geneticamente modificado (OGM) da variedade HB4, produtores, exportadores do cereal e moinhos locais resistem ao uso e comercialização do produto. O principal motivo da rejeição pelo setor triticultor argentino, que tem receio quanto à não aceitação do cereal transgênico pelos consumidores. Pelo fato de a Argentina ser o primeiro do mundo a permitir o cultivo de trigo transgênico, o setor teme impactos de mercado decorrentes da autorização de semeadura da variedade em larga escala, concedida em 12 de maio pelo Ministério da Agricultura da Argentina. O Brasil, por exemplo, principal mercado do cereal argentino que compra anualmente cerca de 50% do trigo exportado pelo País, não aceita importação de trigo transgênico, mas permite uso e internalização de farinha de trigo proveniente da variedade HB4 desde novembro do ano passado. Uma das entidades contrárias à aprovação do cereal OGM, que rechaça a decisão governamental de permitir plantio em escala comercial, é o Centro de Exportadores de Cereais (CEC).

Para a entidade, esta resolução coloca em risco as exportações do trigo argentino para todo o mundo. Na prática, o Brasil não aprovou o trigo em grão, portanto nesse país, como no resto do mundo, este trigo não é aprovado. Por isso, o setor deve tomar medidas preventivas na Argentina para evitar a presença do HB4 nas remessas. A CEC garante que os exportadores argentinos venderão apenas trigo convencional (livre de transgenia) ao Brasil e que se comprometerão com a execução de testes anteriores ao embarque das cargas, ainda nos portos. Nas cláusulas de compra de trigo dos produtores, a entidade vai trabalhar para evitar riscos de adquirir cereal OGM. Neste ano 2021/2022, houve sucesso no controle. Não houve uma única remessa com problemas e a exportação ficou entre 14 e 15 milhões de toneladas de trigo para o mundo, o que significa que os controles portuários funcionaram, e, por isso, serão mantidos. A opinião é compartilhada pela indústria moageira argentina. No mercado interno, não há aprovação e intenção de uso imediato do cereal transgênico por parte dos moinhos, segundo o presidente da Federação Argentina da Indústria Moageira (Faim). Toda a moagem e exportação é de farinha de trigo livre de transgenia.

Isso não significa que, num futuro, de modo que a questão avance no país e se flexibilize, os moinhos passem a receber esta variedade de farinha à medida que outros países aprovem o cereal. Há preocupação em mostrar ao cliente que não o setor não está moendo trigo transgênico e que não vai moer cereal HB4, exceto se encontrar situação no mercado interno que permita. Dadas as disparidades entre as liberações argentinas e de outros mercados, talvez, futuramente, os moinhos tenham de adotar moagem de trigo separada para mercado doméstico e externo. O setor lutou muito para conquistar mercados no exterior e não quer perdê-los. Os clientes podem ficar tranquilos porque a indústria moageira não está recebendo o trigo HB4. Um destes mercados é o Brasil, que compra farinha de trigo argentina para produção de derivados do cereal. No Brasil, a indústria de panificação, representada pela Associação Brasileira da Indústria da Panificação e Confeitaria (Abip), diz que não irá comprar o produto derivado de trigo transgênico.

Já a indústria de massas, biscoitos, bolos e pães industrializados passou de contrária à favorável ao produto, em novo posicionamento da Associação Brasileira das Indústrias de Biscoitos, Massas Alimentícias e Pães & Bolos Industrializados (Abimapi). Deve demorar para haver trigo geneticamente modificado disponível no mercado argentino. O próximo passo a ser dado pela empresa detentora da tecnologia, a Bioceres, tende a ser no sentido de alcançar a liberação total da comercialização do cereal OGM no país. A comercialização do grão transgênico na Argentina depende da permissão de uso e importação de trigo transgênico no Brasil, que, por enquanto, aceitou apenas a entrada de farinha de trigo proveniente do cereal OGM. Levará muito tempo para que isso ocorra. Neste momento, a indústria moageira argentina não recebe, não mói e não vende farinha de trigo OGM. A decisão do governo argentino surpreendeu a indústria moageira local que estava acompanhando o andamento do processo junto às autoridades e instituições do país.

A situação mudou radicalmente, porque o setor estava recebendo trigo com cláusula de restrição de que a mercadoria não poderia conter variedade HB4 e os clientes estavam cientes. A partir de agora, a tendência é que o governo trabalhe para que as empresas que compram farinha equalizem suas certificações de variedade. No momento, a indústria moageira continua não recebendo este tipo de trigo por mais que o plantio comercial esteja autorizado. Os produtores também não receberam bem a medida. A Associação Argentina de Trigo (Argentrigo) considera a decisão governamental precipitada, tendo em vista que tanto a exportação quanto a indústria moageira doméstica não mostram interesse de adquirir o cereal OGM. Não há uma grande intenção de plantar HB4. No entanto, a Bioceres afirma que a produção continuará sob sua propriedade, com o modelo de acordos com os produtores, e sob rígidos protocolos de plantio, colheita e manejo pós-colheita. O setor produtivo permanecerá atento ao desenrolar da questão. O plantio do cereal para testes está liberado na Argentina desde outubro de 2020, mas o aval para venda das sementes da variedade aos triticultores foi dado somente em maio deste ano.

A semente é tolerante à seca e resistente ao herbicida glufosinato de amônio. No momento, o País está plantando a safra 2022/2023, em área estimada de 6,6 milhões de hectares, com produção projetada em 20,5 milhões de toneladas. Desta forma, sementes comerciais da variedade HB4 tendem a estar disponíveis no mercado argentino somente para o próximo ciclo. A Bioceres, empresa de biotecnologia detentora do cultivar, até o momento, ainda não iniciou a comercialização da variedade e estaria avaliando prazos para começar a venda. Contudo, na divulgação recente de seus resultados financeiros, afirmou que esperava geração de receita de aproximadamente entre US$ 10 milhões e US$ 12 milhões na próxima temporada de plantio a partir da venda do cultivar. Na temporada passada, a Argentrigo estimou que 160 mil toneladas de cereal HB4 (com transgenia) tenham sido semeados no país, de forma experimental e sob responsabilidade da Bioceres. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.