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23/Mai/2022

Boas perspectivas para safra de trigo da Região Sul

Os preços remuneradores do trigo e a demanda aquecida pelo cereal animam os produtores e estimulam o plantio da cultura neste ano no País, que deve crescer cerca de 3%. Na Região Sul, que concentra a produção, a semeadura começou em abril pelo Paraná e segue para o Rio Grande do Sul, onde os trabalhos se encerram em julho. No Paraná, mesmo com o plantio em andamento, as leituras divergem quanto ao tamanho da área a ser ocupada pelas lavouras do cereal. No Rio Grande do Sul, há maior consenso quanto ao avanço da área ocupada pelas lavouras de trigo neste ano no Estado, de pelo menos 15%. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estima que a área plantada com trigo este ano no País deve crescer 3%, para 2,822 milhões de hectares. Para Paraná e Rio Grande do Sul, os dois maiores Estados produtores de trigo do País, a Conab prevê área plantada com o cereal este ano 3,3% inferior e 9,7% superior, respectivamente.

A produção brasileira é estimada em 8,131 milhões de toneladas, 5,9% maior que no ano anterior. Segundo a Conab, até o dia 14 de maio, a semeadura do cereal alcançava 16,2% da área projetada para o País. No Paraná, apesar do plantio já ter atingido 43% da área estimada pelo governo estadual, o tamanho das lavouras ainda é uma incógnita. O Estado tem o milho 2ª safra como alternativa para cultivo de inverno e, por isso, as lavouras de trigo disputam o espaço com a área do milho. O Departamento de Economia Rural (Deral), da Secretaria de Abastecimento e Agricultura do Estado (Seab), prevê redução anual de 5%, para 1,167 milhão de hectares, patamar acima da média histórica dos últimos cinco anos, de 1 milhão a 1,1 milhão de hectares. O recuo deve-se, principalmente, a maior destinação de áreas que seriam cultivadas com o trigo para o plantio de milho 2ª safra. A perda de área de trigo para milho safrinha deve ocorrer principalmente no oeste e em parte do norte do Estado.

Os produtores do sul do Estado decidem tardiamente o quanto vão destinar de área para trigo e estão aumentando área com trigo, mesmo assim não será suficiente para compensar a retração em outras regiões. Neste ano, o milho apresenta rentabilidade elevada e teve a possibilidade de plantio em janela ideal e, com isso, ganhou área sobre trigo. Os fatores a favor do milho pesaram mais na decisão de plantio do produtor que os de trigo. Entre estes fatores, o maior risco e suscetibilidade do trigo a problemas climáticos, a melhor relação entre custo e preço recebido do milho e a maior produtividade do milho por área. Hoje, o milho tem custo de produção por hectare relativamente semelhante ao do trigo e preços parecidos, porém a produtividade do milho por hectare é quase o dobro a do trigo. O preço de ambos varia atualmente em torno de R$ 100,00 por saca de 60 Kg, enquanto milho tem potencial de produção de cerca de 6 mil quilos por hectare e o trigo de aproximadamente 3 mil quilos por hectare.

Atualmente, 98% das lavouras do Estado estão em boa condição. A projeta é de aumento anual de 20% no volume a ser colhido, com potencial de produção de 3,860 milhões de toneladas. Neste ano, o plantio começou bem, diferentemente do ano passado, com umidade adequada do solo. Mesmo com redução de área, a expectativa é de uma boa safra. O frio intenso da última semana é benéfico para a cultura em desenvolvimento. As temperaturas baixas favorecem a aclimatação e estimulam o perfilhamento, pois as lavouras ainda não chegaram em estágios críticos para o frio. Além disso, temperaturas negativas controlam a população de insetos e plantas que poderiam gerar prejuízos ao cereal. A Organização das Cooperativas do Estado (Ocepar) vê de manutenção a incremento de 5% na área a ser plantada no Estado. A região sul do Paraná, onde não há possibilidade de plantar milho 2ª safra pelas condições climáticas, tende a semear área entre 8% e 10% maior de trigo.

No total, a previsão é de aumento de 5% na área, para próximo a 1,250 milhão de hectares e produção de aproximadamente 3,5 milhões de toneladas. Por enquanto, a perspectiva é de uma boa safra de trigo. Metade das lavouras de trigo do Paraná estão localizadas no centro-sul do Estado, sem possibilidade de cultivo de 2ª safra. Onde pode ser plantado milho 2ª safra, o produtor está preferindo milho a trigo, mas o aumento do sul vai compensar a perda de área no norte e no oeste. As cotações atraentes do grão, tanto no mercado internacional quanto no doméstico, são impulso para investimento dos produtores no cereal, especialmente após a guerra entre Rússia e Ucrânia. O cenário mostra que a situação deve demorar para se regularizar e, com isso, a tendência é de sustentação dos preços nos patamares atuais. Por isso, produtor está apostando no trigo, onde não tem opção de plantar milho 2ª safra.

No Rio Grande do Sul, as estimativas do setor produtivo sinalizam que o Estado deve alcançar novamente o posto de maior produtor nacional do cereal. A Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul) estima aumento de 15% a 20% na área a ser plantada no Estado, para cerca de 1,450 milhão de hectares. O aumento será significativo e distribuído em todas as regiões do Estado. Há chances de o Estado ter a maior área cultivada do País. O maior apetite do produtor para investir na cultura vem da alta contínua dos preços do cereal e da busca do produtor por recuperação de renda, após a quebra da safra de verão (1ª safra 2021/2022). Somente estes dois fatores levam o produtor a aumentar a área. Fora isso, a demanda contribui para o cenário positivo, com trigo do Estado sendo exportado até mesmo para países que nunca tinham demandado e consumo doméstico mantido. A produção de trigo do Rio Grande do Sul, considerando condições climáticas favoráveis, pode atingir de 4 milhões a 4,2 milhões de toneladas este ano.

Se confirmado, o volume será de 21% a 27% superior aos 3,3 milhões de toneladas colhidos na safra passada. A implantação das lavouras já iniciou no Estado, pela região de São Borja, mas os trabalhos de campo ainda são incipientes, limitados pela elevada umidade e chuvas dos últimos dias. A semeadura ganha fôlego no Estado, sazonalmente, no mês de junho. Assim que houver uns quatro a cinco dias de sol e o solo absorver a umidade, o plantio avança. Neste momento, o frio intenso é benéfico às lavouras. A Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado do Rio Grande do Sul (FecoAgro/RS) projeta que a área semeada no Estado tende a crescer cerca de 15%. O produtor nunca quis tanto plantar trigo como hoje. Os preços do cereal se mantêm elevados, impulsionados pela guerra entre Rússia e Ucrânia e pelas possíveis restrições da Índia, além de o agricultor ter saído da maior frustração de safra de soja da história do Estado.

A quebra das lavouras de soja e milho safra de verão (1ª safra 2021/2022) será fator decisivo para o maior investimento dos produtores do Rio Grande do Sul na cultura, fazendo com que o cultivo do cereal, apesar do risco elevado, se torne uma das poucas alternativas de rentabilidade. O produtor precisa urgentemente de renda. Este cenário exige maior investimento na cultura mesmo com o custo de produção elevado. Há um aumento grande no custo de produção, mas o agricultor tem a necessidade de produzir. É sua única renda e ele não teve a renda esperada na principal cultura, a soja. Se mantidos estes patamares de preços, o cereal entregará resultado positivo, ainda que com custo de produção mais alto. A Emater-RS, responsável pelas estimativas oficiais do Estado, deve divulgar seus primeiros números para a safra de trigo do Estado no próximo mês. A entidade publica tradicionalmente as previsões para a safra de inverno em junho, quando o produtor finaliza a tomada de decisão de plantio.

Os representantes do setor produtivo enxergam, contudo, que a liberação de crédito do Plano Safra 2021/2022, com validade até 30 de junho, para custeio da safra pode ser um impasse para a expansão das lavouras do cereal no Estado. Hoje, o maior desafio é o crédito. Infelizmente, não há crédito disponível para o produtor plantar trigo. Será um fator inibidor de expansão de área. Se o crédito for resolvido, o aumento da área plantada pode superar os 15%. A preocupação é grande, em meio à conjuntura de descapitalização do produtor após a quebra da safra de verão (1ª safra 2021/2022). A suplementação de R$ 868,5 milhões para o Plano Safra foi aprovada pelo governo, mas os recursos ainda necessitam chegar nas instituições financeiras. A área pode crescer até mais à medida que os financiamentos para custeio, os recursos para equalização, cheguem rapidamente aos agentes financeiros. Se a liberação dos recursos represados for resolvida rapidamente, poderá ser um incentivo a mais para produção. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.