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05/Abr/2022

Brasil não deve ter problemas com abastecimento

A guerra da Rússia na Ucrânia está tendo forte impacto na economia global e de todos os países e desorganizando os mercados de energia (gás e petróleo) e de commodities (trigo, soja, milho, óleo de girassol). A Rússia é o maior exportador mundial de trigo e a Ucrânia ocupa a 4ª posição neste ranking. Juntos, são responsáveis por cerca de 30% do mercado mundial de exportação do trigo, o que corresponde a 210 milhões de toneladas. É inevitável que a crise da Ucrânia afete diretamente os preços do trigo em nível mundial. Os dois países são também responsáveis pela exportação de 18% do milho e 77% do óleo de girassol. São responsáveis por mais de 40% da alimentação calórica no mundo pela produção e exportação de arroz, trigo e milho. O mercado global de trigo, nos dois últimos anos, foi fortemente afetado por crises climáticas nos países líderes e pela Covid, que impactou o posicionamento de estoques de segurança e fretes marítimos, cujos valores sofreram aumento de até três vezes. Por tudo isso, o mercado mundial de trigo tem apresentado grande dificuldade em precificar o cereal, pois isto depende da duração e da abrangência da crise.

Esta visão do mercado, agravada pelo início da guerra Rússia-Ucrânia, tem gerado oscilação e aumento nos preços (mais de 20% entre fevereiro e março), além de incerteza quanto ao abastecimento mundial do cereal. O maior efeito da guerra e da desorganização do mercado global incidem sobre os países do norte da África, do Oriente Médio e os países mais pobres da Ásia e da América Latina. Se o conflito se estender, pode acarretar uma crise alimentar e mesmo fome nessas regiões. O acompanhamento do mercado interno mostra que, até aqui, o Brasil não terá problemas de abastecimento do cereal, apesar de a Argentina passar por uma política de limitação de exportações e aumento de suas vendas para outros destinos, que não o Brasil. O trigo no Brasil foi e continua sendo um problema sério, por conta da dependência externa, pois o País segue muito vulnerável. 60% da demanda interna de trigo é atendida por importação e, desse total, 85% é originário de um único país, a Argentina. Da Rússia, apesar de potencial fornecedor ao Brasil, houve apenas um registro de compras em 2021, mas foi importante no abastecimento brasileiro em 2020. A Ucrânia não fornece trigo ao Brasil.

Na qualidade de presidente da Abitrigo mantive reunião com a ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Brasil (Mapa), Tereza Cristina, para uma conversa sobre o panorama e os desafios do mercado do trigo nacional. Tendo em vista o atual cenário do conflito entre a Rússia e a Ucrânia, foram examinados as perspectivas e os impactos da situação para o mercado do trigo e a preocupação com o substancial aumento do preço e o peso que isso representa para a indústria, além de ser mencionado que cada empresa vai decidir o que fazer, salientando que é difícil evitar algum repasse para o preço da farinha. Foram mencionadas as vulnerabilidades expostas pela pandemia e pela guerra no agronegócio brasileiro (trigo e fertilizantes e concentração no comércio exterior de poucos produtos em poucos mercados). A necessidade de redução da dependência externa com o aumento da produção do grão em solo brasileiro foi um dos assuntos debatidos na reunião. A Abitrigo reforçou a importância do apoio do Mapa ao projeto da Embrapa, que visa o aumento da área plantada no norte do Cerrado, recentemente aprovado pelo Mapa.

Além disso, também foi abordado o fato de o Ministério ter lançado recentemente a Política Nacional de Fertilizantes, em vista da vulnerabilidade do Brasil nessa área, o que se observa, também, no mercado do trigo. Outro tema debatido no encontro foi a importação de 750 mil toneladas de trigo sem a cobrança da Tarifa Externa Comum (TEC) e a perspectiva de utilização de toda a cota e ser necessária maior quantidade a ser importada se a Argentina não puder fornecer a demanda prevista no Brasil. Nesse caso, o governo teria de examinar a possibilidade de isentar a TEC de volumes acima daquela tonelagem até o final do ano. O conflito armado está afetando todos os países. O mundo está vivendo uma situação que tem forçado os governos a tomar medidas excepcionais e de emergência para resguardar seus interesses. O Brasil não será diferente. Fonte: Rubens Barbosa (Associação Brasileira da Indústria do Trigo - Abitrigo). Fonte: Broadcast Agro.