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08/Mar/2022

Guerra Rússia-Ucrânia e o mercado global do trigo

O mundo começa a avaliar as lições de o impacto do conflito entre a Rússia e a Ucrânia. Uma das consequências da crise bélica é a disparada dos preços de produtos agrícolas e energéticos. Quais os efeitos para o mercado do trigo, no Brasil e no mundo? A Rússia é o maior exportador mundial de trigo e a Ucrânia o 4º. Juntos, são responsáveis por cerca de 30% do mercado mundial de exportação do trigo, de 210 milhões de toneladas. É inevitável que a crise da Ucrânia afete diretamente os preços do trigo à nível mundial. Os efeitos negativos sobre o mercado de trigo dependerão da duração da crise bélica. Se o conflito armado se prolongar com a resistência armada da Ucrânia, continuará a suspensão dos embarques nos portos ucranianos e os importadores concentrarão suas demandas nos demais exportadores como Estados Unidos, Austrália, Canadá e Argentina.

Isto poderá manter os preços em níveis elevados. O mercado global de trigo, nos 2 últimos anos, foi fortemente afetado por crises climáticas nos países líderes e pela Covid-19, com novos hábitos de consumo, que provocaram impacto no posicionamento de estoques de segurança e fretes marítimos com aumento de até 3 vezes em seu custo. Por tudo isso, o mercado mundial de trigo tem apresentado grande dificuldade em precificar o cereal, pois isto depende da duração e abrangência da crise. Esta visão do mercado tem gerado oscilação nos preços. No dia 23 de fevereiro, a Bolsa de Kansas teve aumentou de 5% no primeiro momento da crise, e no dia 25 de fevereiro recuou quase todo este aumento. Na Argentina, maior fornecedor do Brasil, os preços também estão oscilando. Será necessário assim, maior definição do desmembramento da crise para posicionamento do mercado.

As análises feitas pela Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), até o momento, indicam que o Brasil não terá problemas de abastecimento do cereal no curto prazo, pois a Argentina já sinalizou ter trigo suficiente para atender as necessidades brasileiras, embora o produto, já vendido, esteja na mão das tradings. O volume vindo da Rússia é muito pequeno (em 2021 não houve importação dessa procedência) e não há registro de compras do trigo da Ucrânia. A situação, porém, pode se modificar no segundo semestre, dependendo da evolução da crise bélica. Em relação aos preços no mercado global e no mercado interno, a tendência recente de preços elevados vai continuar. As Bolsas de Chicago e Kansas batem recordes no preço do trigo, agora acima de US$ 400,00 por tonelada. Os custos de produção, inclusive dos fertilizantes, e de transporte vão continuar altos.

Um fator que pode aliviar um pouco esse aumento, mas longe de ser significativo, é a queda no valor do dólar em relação ao Real nos últimos dias, o que pode compensar, de certa forma, os aumentos recentes na Bolsa de Chicago. Mas, a tendência é que o patamar de preços fique bem elevado, nos próximos quatro ou cinco meses, com previsão de se estabilizar ou começar a cair a partir do mês de julho/agosto, com a entrada da safra do Hemisfério Norte. Outro fator que deve continuar a ser monitorado é a questão dos fertilizantes. O Brasil importa de 80% a 85% dos fertilizantes que consome em sua produção agrícola. Cerca de 28% desse total é oriunda da Rússia e de Belarus. Essa vulnerabilidade é inaceitável pela importância do setor do agronegócio no conjunto da economia nacional. O investimento russo em plantas de produção de fertilizantes no Brasil provavelmente não deverá se materializar. É urgente a definição de uma estratégia para o incremento da produção de insumos químicos e fertilizantes no Brasil para reduzir a dependência do mercado externo.

O mercado de trigo enfrentou muitas questões nos últimos anos, como a pandemia, o frete e agora as incertezas e imprevisibilidades geradas pelo conflito. Novamente, o País está vivendo um período de grandes desafios para todo o setor do trigo. Mais do que isso, esse conflito é um momento de muita tensão e incerteza para o mundo, que deve ser acompanhado com cautela e atenção por todos. O trigo no Brasil foi e continua sendo uma questão de segurança alimentar, por conta da dependência externa, pois o País segue muito vulnerável. 60% da demanda interna de trigo é atendida por importação externa e desse total 85% é originário de um único país, a Argentina. Urge a definição de uma política nacional do trigo, como proposto ao Ministério da Agricultura pela Abitrigo, e o apoio à iniciativa da Embrapa visando ao aumento da produção interna em novas áreas, como o norte do Cerrado. Fonte: Rubens Barbosa. Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo). Fonte: Broadcast Agro.