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03/Mar/2022

Preços do trigo seguirão firmes no mercado interno

Os preços do trigo no mercado brasileiro tendem a se manter firmes no curto prazo. O mercado interno já vinha com preços fortes e agora deve continuar com esse movimento. A sustentação vem dos riscos quanto ao fornecimento do cereal pela Rússia e Ucrânia, decorrente do conflito em andamento entre os dois países. Os países do Leste Europeu estão entre os maiores players mundiais de trigo. A Rússia é líder mundial na exportação do cereal, enquanto a Ucrânia é a quarta maior exportadora global da commodity. Pelo fato de o Brasil ser majoritariamente dependente da importação de trigo (60% do volume processado pela indústria moageira anualmente é adquirido no exterior), os valores internos do cereal refletem as cotações internacionais, a paridade de importação e o comportamento do dólar ante o Real. Já os fatores domésticos, oferta e demanda local, podem frear uma disparada maior das cotações do cereal nacional. A indústria já não consegue absorver o nível atual das cotações e o consumo está estável com menor poder de compra da população.

A tendência é de encarecimento do cereal, mas não acredito em disparada no mercado local. Em contrapartida, os preços do trigo importado têm menor limitação para a alta, pois refletem as cotações externas e o balanço mundial de oferta e demanda. Em relação ao cereal argentino, por exemplo, se houver maior demanda para compensar o trigo russo ou ucraniano, moinhos terão de pagar mais para garantir o produto. A estimativa é de que a indústria moageira possui pelo menos dois meses de estoque de cereal. É um cenário que dá para administrar e os moinhos tendem a buscar garantias com os fornecedores. Sobre a possibilidade de desabastecimento de trigo no Brasil, não há risco no momento. Se não houver um cenário extremo de se tornar uma guerra maior ou do conflito permanecer por meses, limitando a oferta da região do Mar Negro, não haverá risco de desabastecimento no Brasil. Nesse estágio atual, em princípio, o Brasil continua com a oferta de trigo argentino para consumo até a entrada da próxima safra.

O volume importado da Rússia ainda é muito pequeno e os moinhos adquirem apenas em cenário de preços interessantes. Do total importado anualmente pela indústria moageira, 85% do cereal internalizado é argentino. No ano passado, de 6,224 milhões de toneladas importadas, apenas 28,009 mil toneladas vieram da Rússia. A maior parte, 5,433 milhões de toneladas, foram de cereal argentino, de acordo com dados do Agrostat (sistema de estatísticas de comércio exterior do agronegócio brasileiro). O País não adquire trigo da Ucrânia. Para os preços internacionais do trigo, a tendência é de manutenção das cotações firmes com viés de alta. O contrato futuro do cereal para maio negociado na Bolsa de Chicago avançou 7% ao longo da última semana como reflexo da apreensão do conflito. A alta vai depender de como se desenvolverão os próximos passos, especialmente se haverá ou não uma reação militar da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e da efetivação das sanções impostas pela União Europeia, pelos Estados Unidos e pelo G7.

Por outro lado, uma reversão nos fatos, como um cessar-fogo entre os países, pode frear a sustentação das cotações. Nos próximos dias, o mercado tende a continuar estressado até haver alguma resolução diplomática ou o conflito piorar. Há muita especulação. A reação dos preços pode ser prolongada também conforme for o remanejamento da demanda de países consumidores de trigo para outras origens. O comprador de trigo de cargas que chegariam em fevereiro e março, terá que recorrer a cereal de outro lugar tanto para alimentação humana quanto animal, porque o exportador russo pode não conseguir atender. Entre os eventuais fornecedores que poderiam compensar parte da ausência de trigo russo do mercado, pode-se citar a Argentina e a Austrália, já que houve perdas nas safras do Canadá e dos Estados Unidos. A Europa, em situação de preocupação com conflito, pode ficar de fora do mercado. Só Estados Unidos e Canadá não conseguiriam atender a toda demanda do mundo até a entrada da safra da América do Norte, em meados de julho e agosto.

A região do Mar Negro responde por um terço do mercado global de trigo. Segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), a exportação da Rússia na safra 2021/2022, que ainda está sendo comercializada, é projetada em 35 milhões de toneladas, enquanto a da Ucrânia está prevista em 24 milhões de toneladas, totalizando 59 milhões de toneladas de um volume mundial de 206 milhões de toneladas. Estima-se que a Rússia faltaria exportar 16,83 milhões de toneladas de trigo e a Ucrânia outros 7,18 milhões de toneladas. Mesmo que as sanções não englobem o cereal, há insegurança tanto dos exportadores quanto de importadores de transportar as cargas pelo Mar Negro com rumores de sequestro de navios e de embarcações sendo atingidas por mísseis. Se houver um conflito maior ou se estender, pode afetar também a oferta da União Europeia, travando a região como um todo. Outro ponto que agrava o problema é o fato de que a região do conflito, a fronteira entre Rússia e Ucrânia, trata-se de área produtoras, com a maior parte das lavouras de trigo de ambos os países. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.