15/Fev/2022
Estimativas oficiais divulgadas neste mês mostram que os altos preços do trigo no mercado brasileiro tendem a manter elevadas a área e a produção nacional do cereal, que, inclusive, pode ser novamente recorde. Os produtores, especialmente os da Região Sul do País, devem ser atraídos pelos maiores preços de comercialização do cereal e, dessa forma, semear em áreas que tradicionalmente ficam sem cultivo na safra de inverno. No relatório deste mês, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) indicou que a safra 2021/2022 somou 7,68 milhões de toneladas, estável frente ao relatório de janeiro, mas com forte alta de 23,2% em relação à temporada anterior. A área nacional cresceu 17% sobre a da safra 2020, atingindo 2,73 milhões de hectares. Além disso, a produtividade seguiu apontada em 2,803 toneladas por hectare, 5,3% superior à de 2020/2021 (2,663 toneladas por hectare). A Conab realizou ajustes positivos na estimativa para a importação total de agosto/2021 a julho/2022, para 6,8 milhões de toneladas.
Ainda, a disponibilidade interna (estoque inicial + produção + importação) foi estimada em 14,62 milhões de toneladas, 13,7% acima da safra anterior. Do lado da demanda, a estimativa de consumo interno é de 12,55 milhões de toneladas, 5,5% maior que na temporada anterior. A exportação brasileira de trigo prevista de agosto/21 a julho/22 também foi novamente elevada e está estimada em 1,9 milhão de toneladas pela Conab, com maior aceitação externa pelo grão de menor PH. Por isso, o estoque final, em julho/2022, foi reduzido para 176,5 mil toneladas. Quanto à nova temporada 2022/2023, por enquanto, está mantida a área de 2021 e a produtividade média deve ser 2,6% maior, o que resultaria em produção nacional de 7,9 milhões de toneladas do grão. Entre agosto/2022 e julho/2023, devem ser importadas 6,5 milhões de toneladas e exportadas, 1 milhão de toneladas de trigo.
Em termos mundiais, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), em relatório divulgado em fevereiro, reduziu em 0,3% a estimativa de produção global da safra de trigo 2021/2022 frente aos dados indicados em janeiro, igualando o volume da temporada 2020/2021, em 776,4 milhões de toneladas. Enquanto a produção da União Europeia cresceu 11,9 milhões de toneladas em relação à temporada anterior, atingindo 138,9 milhões de toneladas, a Rússia e o Canadá reduziram 9,8 milhões de toneladas e 13,5 milhões de toneladas, respectivamente. Assim, as produções destes dois países serão de 75,5 milhões de toneladas e de 21,6 milhões de toneladas, respectivamente. Quanto ao consumo mundial, a estimativa passou para 788,08 milhões de toneladas em fevereiro, altas de 0,1% sobre os dados de janeiro e de 0,7% sobre os da temporada passada. Os estoques mundiais foram previstos 0,6% menores em relação ao relatório de janeiro e devem totalizar 278,2 milhões de toneladas, mas queda de 4,0% no comparativo com a safra 2020/21, o mais baixo desde 2016/2017.
Assim, a relação estoque/consumo piorou, saindo de 35,6% para 35,3%. Em relação às exportações da safra 2021/2022, o USDA prevê volume de 208,45 milhões de toneladas sendo transacionadas, 0,8% superior ao relatório passado, com aumento do volume com origem na Índia, Argentina e Brasil. Apesar disso, em comparação à safra anterior, as exportações foram reduzidas, com volumes representativos pelo Canadá, Estados Unidos e Rússia. Quanto às importações, o volume foi elevado este mês (em relação a janeiro/2022) com maior demanda do Iraque, Síria, Marrocos, Indonésia, Cazaquistão e Reino Unido. No mercado interno, as negociações de trigo ocorreram em linha com o interesse e necessidade de o produtor liberar espaço para armazenagem da safra de verão (1ª safra 2021/2022), a qual está sendo colhida atualmente. Nos últimos sete dias, os preços apresentam reajustes negativos no mercado de lotes (negociação entre empresas), influenciados pela desvalorização da moeda norte-americana.
As cotações registram baixa de 0,9% no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, 0,15% em São Paulo, mas alta de 0,31% no Paraná. No mercado de balcão (preços pago ao produtor) os valores apresentam avanço de 0,14% no Paraná, 0,10% em Santa Catarina e se mantêm estáveis no Rio Grande do Sul. Segundo o Ministério da Agroindústria da Argentina, as cotações FOB no Porto de Buenos Aires registram valorização de 2% nos últimos sete dias, a US$ 313,00 por tonelada. Nos Estados Unidos, o contrato Março/2022 do Soft Red Winter da Bolsa de Chicago apresenta alta de 4,5% nos últimos sete dias, a US$ 7,97 por bushel (US$ 293,12 por tonelada). Na Bolsa de Kansas, o mesmo vencimento do trigo Hard Winter tem avanço de 4,9%, a US$ 8,24 por bushel (US$ 302,86 por tonelada). Os valores estão sendo impulsionados por preocupações quanto à possível invasão pela Rússia na Ucrânia, dois importantes produtores e exportadores de trigo, e por possíveis dificuldades de exportação da região se isso realmente ocorrer. Além disso, o clima seco em regiões produtoras dos Estados Unidos também sustenta os preços. Fonte: Cepea. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.