09/Fev/2022
Segundo o Itaú BBA, o conflito geopolítico entre Rússia e Ucrânia traz desdobramentos para o fornecimento de grãos e fertilizantes, com riscos iminentes à cadeia de trigo. O encaminhamento da resolução entre os países membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e o governo russo continua turvo. Caso a situação agrave, há risco de redução da oferta do trigo global. Com exceção dos Estados Unidos, que mandam tropas e suprimentos, a posição de alguns países da União Europeia é de evitar tensões militares e limita-se a ameaças por meio de sanções comerciais. A Rússia é líder mundial na exportação de trigo, enquanto a Ucrânia é a quarta maior exportadora global do cereal. Os países também têm relevância na exportação de milho, ocupando, respectivamente, o sexto e o terceiro lugar mundial.
Foram traçados dois cenários que trazem riscos quanto ao fornecimento global de trigo. O primeiro é a preocupação com possíveis combates bélicos em caso de invasão da Ucrânia pelo leste e pela Crimeia (região que área concentra cerca de 49% das lavouras de trigo do país). Podendo afetar a produção dos trigais que estão atualmente na região. O segundo cenário é o de eventuais sanções econômicas à Rússia, como tentativa de blindar os conflitos militares. Nesta hipótese, as exportações de commodities poderiam ser restringidas e, entre elas, as vendas internacionais de trigo. Vale destacar que os embarques do cereal russo representam 19% das vendas globais de trigo. E, caso haja problemas climáticos na safra norte-americana, o balanço global da commodity poderá ficar ainda mais apertado sem a região do Mar Negro como origem de compras.
Mesmo que estes cenários não se concretizem, a postergação de uma resolução diplomática entre os países pode gerar clima de insegurança comercial e jurídica nas negociações entre compradores e os dois países, gerando atrasos nas compras e embarques de trigo na região. Nesta conjuntura de incertezas e possível aperto global do balanço de trigo, as cotações internacionais do trigo já têm sido influenciadas. A parte compradora tem aumentado a volatilidade adicional aos preços internacionais, visto que, caso haja qualquer interrupção do fluxo de commodities no Mar Negro, serão bloqueados cerca de 30% (Ucrânia + Rússia) das exportações globais do cereal. Uma "corrida" pelos compradores para aumento dos estoques, visando reduzir os riscos de reposição da commodity, também é citada como fator altista aos preços globais do cereal, já que, caso Rússia e a Ucrânia saíam da mesa de negociações do cereal, o balanço global ficaria similar à safra 2013/2014.
Foram apontados os reflexos do eventual aperto na oferta global e da alta dos preços internacionais do trigo ao Brasil. Pelo fato de ser majoritariamente importador do cereal, internalizando cerca de 60% do volume consumido internamente, o País está sujeito diretamente aos preços internacionais do trigo, que influenciam no custo de aquisição da matéria-prima pela indústria. Esse cenário de preços globais aquecidos, combinados com o câmbio depreciado, desafiam as margens da indústria, visto que os preços da farinha não conseguem acompanhar o ritmo das cotações do trigo, que têm ganhado força nos últimos meses. As cotações domésticas do cereal subiram 84,6% em janeiro ante igual mês do ano passado, enquanto o preço da farinha (base Paraná) avançou 59% no mesmo período. E se os preços continuarem subindo, estímulos adicionais poderão ocorrer para as vendas externas do trigo doméstico e enxugar ainda mais o balanço interno, o que faria com que as cotações domésticas ganhassem mais força.
Dessa forma, para os moinhos o cenário é desafiador. De um lado, o adiamento das compras poderá gerar aquisição do cereal em preços mais elevados, enquanto de outro lado, antecipar as compras para este momento pode também levar a uma aquisição a preços mais elevados caso os conflitos se resolvam rapidamente. Parte da indústria moageira está com estoques garantidos para estes primeiros meses do ano, em patamares de preços inferiores aos praticados atualmente, mas ainda elevados historicamente. O desafio será o repasse de custos aos varejistas e consumidores, visto que mesmo que os preços recuem, no curto prazo as cotações do cereal tendem a não arrefecer aos patamares pré-pandemia. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.