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10/Jan/2022

Tendência de preços sustentados do trigo em 2022

O câmbio elevado, os custos de importação e a alta dos preços do trigo no mercado internacional têm sustentado as cotações internas do cereal. A volatilidade do dólar e as cotações no mercado internacional devem contribuir para um quadro de estabilidade, com leve viés de alta no curto prazo para os preços domésticos. Dessa forma, o aumento da disponibilidade interna do produto provocado pela colheita no Paraná e no Rio Grande do Sul – principais produtores nacionais – não foi capaz isoladamente de causar uma redução nos preços. A safra nacional de trigo atingiu produção recorde em 2021, mesmo com adversidades climáticas durante o desenvolvimento da lavoura, sobretudo geada e seca. Desta forma, a safra atingiu 7,8 milhões de toneladas no Brasil. A maior disponibilidade de trigo no mercado interno não foi suficiente para pressionar os preços, já que a alta cambial, a paridade de importação, a menor oferta mundial e a aquecida demanda externa mantiveram as cotações elevadas.

Apesar da maior disponibilidade de trigo no mercado interno, a importação seguiu em alta no segundo semestre do ano passado. Comparando-se o volume de trigo importado do ano-safra iniciado em agosto/2020 até dezembro do mesmo ano com agosto/2021 até dezembro/2021, o volume já foi 4,8% superior, atingindo 2,23 milhões de toneladas. A importação nesta safra permanece prevista em 6,2 milhões de toneladas. Já a exportação brasileira de trigo entre agosto/2021 e julho/2022 foi elevada para 1,2 milhão de toneladas, justificada pelo maior volume a ser embarcado pelo Rio Grande do Sul, tendo em vista o elevado preço internacional e a maior aceitação externa do cereal com menor PH. Assim, o estoque final, em julho/2022, foi novamente reduzido e deverá ser de 410 mil toneladas, superior às 147 mil toneladas estimadas para julho/2021. Assim, a previsão é de que o País continue importando volumes representativos em 2022, mesmo com a maior produção nacional.

O Brasil ainda é dependente das importações do cereal para abastecer o mercado interno, negociando principalmente com os países vizinhos, com destaque para a Argentina. Além disso, as exportações também deverão ser maiores, tendo em vista a menor oferta global e os elevados preços externos. Devido ao grande volume de trigo importado pelo Brasil, o acompanhamento do câmbio é essencial, já que impacta diretamente o preço da commodity. O dólar deverá seguir se valorizando em 2022, encarecendo a importação. De acordo com os dados da Secex, em 2021, o preço médio das importações (FOB) foi de R$ 1.437,56/tonelada, contra R$ 1,139,12/tonelada em 2020. Desta forma, os preços deverão continuar em altos patamares em 2022, tanto no Brasil, quanto no exterior. No mercado nacional, produtores deverão realizar negócios no período de entressafra no início do ano no País, quando normalmente os preços são superiores, e espera-se redução nos valores apenas com a entrada da safra de inverno do Hemisfério Norte.

Avaliando-se as atividades de campo, na última temporada, o Rio Grande do Sul ultrapassou a produção de trigo do Paraná, estado que normalmente possui a liderança nacional. A safra no Rio Grande do Sul apresentou boa produtividade, qualidade satisfatória, com alto volume de grãos com PH acima de 78 e remuneração favorável ao produtor. Em relação à próxima safra de trigo nacional, a expectativa é que os produtores continuem optando por aumentar a área com o cereal, como ocorreu na temporada anterior, influenciados pelos altos valores pagos no mercado atualmente, mesmo com o maior custo de produção, com destaque para insumos. Entretanto, o clima seco na região Sul deve novamente adiantar a colheita de soja, o que pode atrair o produtor para culturas concorrentes em área, como o trigo. Em termos mundiais, o USDA, em relatório divulgado em dezembro, elevou a estimativa de produção global da safra de trigo 2021/2022, agora apontada em 777,9 milhões de toneladas.

Assim, a produção global deverá ser 0,3% superior à temporada anterior. Segundo dados do USDA, o maior crescimento na produção foi para a Austrália, sendo 2,1% acima da safra de 2020/2021, atingindo 34 milhões de toneladas. Entretanto, as produções da Rússia e do Canadá, importantes produtores e exportadores mundiais, foram fortemente reduzidas na safra 2021/2022. Quanto ao consumo, está estimado em 789,3 milhões de toneladas, acréscimo de 0,9% entre 2020/2021 e 2021/2022. Os estoques mundiais devem ser de 278,2 milhões de toneladas, 4% inferiores ao da safra 2020/2021 e os menores desde 2016/2017. Em relação às exportações da safra 2021/2022, o USDA prevê 208,8 milhões de toneladas transacionadas, elevação de 4,5% frente à safra anterior. Na Argentina, a produção de trigo atingiu 21,5 milhões de toneladas na safra 2021/2022, recorde para o país, e aumento de 26,5% frente à temporada anterior (17,0 milhões de toneladas). Fontes: Cepea, Broadcast Agro e Cogo Inteligência em Agronegócio.