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22/Nov/2021

Moinhos e indústrias não querem trigo transgênico

A indústria brasileira de farinha de trigo e a de biscoitos, massas e pães industrializados não vão adquirir farinha argentina proveniente de cereal transgênico, mesmo após a liberação comercial do produto. Segundo a Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), os moinhos não vão importar farinha transgênica para mescla com nacional. Associação Brasileira das Indústrias de Biscoitos, Massas Alimentícias e Pães & Bolos Industrializados (Abimapi) reforça afirmando que as indústrias não têm interesse em adquirir farinha de trigo geneticamente modificado (OGM). A compra de trigo e de farinha de cereal convencional do país vai continuar normalmente, segundo as entidades. A Argentina fornece 85% do volume importado anualmente pelo Brasil, que internaliza cerca de metade do consumido internamente. A importação e a comercialização de farinha de trigo geneticamente modificado (OGM) da variedade HB4 foi aprovada pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio).

O cultivo desta variedade é permitido desde outubro do ano passado na Argentina. Por lá, ainda há questões a serem resolvidas, como a liberação local da comercialização do trigo transgênico para moagem. Na prática, a indústria moageira argentina está impossibilitada de exportar a farinha porque não pode processar o cereal OGM. A Abitrigo encaminhou, no dia 17 de novembro, ofício ao Ministério da Agricultura pedindo que a pasta convoque o Conselho Nacional de Biossegurança para rever a decisão da CTNBio (órgão que é subordinado ao conselho). A CTNBio examina o pedido do ponto de vista da segurança alimentar. A oportunidade e conveniência é examinada pelo governo. Caso o conselho não seja convocado, a decisão da CTNBio entra em vigor 30 dias após sua publicação, ou seja, seria válida a partir de 12 de dezembro. A Abimapi, que responde por um terço do consumo de farinha nacional, apoia o pedido de revisão.

As entidades reconhecem a avaliação técnica da CTNBio, de que a farinha de cereal transgênico é segura para alimentação humana, mas questionam o impacto comercial da medida. Trata-se de uma decisão técnica que foi tomada sem pesquisa de opinião pública sobre a aceitação da farinha de trigo transgênico e que pode trazer consequências mercadológicas para o setor. Não há vantagem econômica ao setor e sim eventuais prejuízos comerciais. A CTNBio deliberou com foco técnico na saúde. A comissão não avalia questões comerciais. Não há barateamento de custos e nem vantagem competitiva, enquanto pode prejudicar as exportações brasileiras. Deveria haver mudanças nos rótulos das embalagens dos produtos industrializados, o que é inviável de ser adequado em um mês. Há estoque de embalagens para meses. Dependendo do produto, a indústria adquire embalagem para até um ano. As embalagens atuais não poderão ser utilizadas com a farinha transgênica. Caso a decisão seja levada adiante, será necessária uma revisão na legislação que regula o nível de resíduos de transgênicos permitidos nos derivados de trigo.

Também há necessidade de fiscalização e controle por parte do governo para evitar entrada ilegal de trigo transgênico no País. O problema é se haverá introdução ilícita deste trigo OGM no Brasil, porque a Argentina está colhendo 55 mil hectares de cereal OGM, cerca de 200 mil toneladas. A principal preocupação das indústrias é com a aceitação do consumidor em relação à farinha do cereal transgênico. Os moinhos não irão importar, mas tradings ou padarias podem internalizar esse cereal. Os consumidores estão buscando, cada vez mais, produtos mais saudáveis (orgânicos, naturais, sem glúten), ao contrário da farinha transgênica. É um movimento que vai na contramão do mercado e da maior saudabilidade demandada pelo consumidor. Mesmo que alguns itens como tipos de biscoitos já contenham traços de transgenia por uso de óleos, como o óleo de soja, estes são em menor quantidade na composição dos produtos, diferentemente da farinha.

O receio dos fabricantes de massas e biscoitos também está relacionado com o mercado externo. Os fabricantes estão preocupados com a reação dos exigentes consumidores internacionais e possíveis embargos internacionais. Um dos mercados mais sensíveis à mudança tende a ser o europeu. As exportações destes produtos provavelmente não serão aceitas. E a indústria brasileira terá de reforçar medidas de garantia ao comprador externo de que não utiliza farinha transgênica e que sua farinha importada não está contaminada. Parte da cautela advém do ineditismo da medida. O País foi o primeiro do mundo a permitir concessões na transgenia do trigo. Não há justificativa plausível para essa medida agora. O Brasil não precisa ser o primeiro país do mundo a liberar produto transgênico e perder acesso a mercados que interessam. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.