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28/Set/2021

Cadeia contra comercialização de trigo transgênico

As associações que representam a indústria do trigo e de derivados do cereal, a Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), a Associação Brasileira das Indústrias de Biscoitos, Massas Alimentícias e Pães & Bolos Industrializados (Abimapi) e a Associação Brasileira da Indústria de Panificação e Confeitaria (Abip), se manifestaram contrárias à importação e à comercialização de trigo geneticamente modificado (OGM) e da farinha dele proveniente no Brasil. As associações rejeitaram a possível aprovação do cereal. O posicionamento da indústria do trigo é unânime e contrário ao trigo transgênico. No País, liberação comercial de trigo e farinha transgênicos para consumo humano e animal é discutida pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio).

A Comissão está em processo confidencial de avaliação da permissão da comercialização do trigo OGM da variedade HB4 para aumento de produtividade em situações e ambientes de baixa disponibilidade hídrica e resistente ao herbicida glufosinato, para uso exclusivo em alimentos, rações ou produtos derivados ou processados. O pedido foi feito pela Tropical Melhoramento & Genética (TMG), que representa neste processo a empresa argentina de biotecnologia Bioceres, detentora do cultivar. O parecer final da comissão sobre o assunto deve ser conhecido no início de outubro. A indústria não possui novos detalhes, além dos públicos, sobre o processo que tramita na CTNBio e aguarda manifestação sobre aprovação de trigo geneticamente modificado no Brasil.

A preocupação é pela incerteza do que possa significar eventual trigo transgênico no Brasil. na avaliação da Abitrigo, a transgenia do trigo é um tema mais delicado e sensível do que de outras commodities agrícolas, pelo fato de o cereal ser usado majoritariamente para alimentação humana. O trigo transgênico é um tema sensível porque, junto com o arroz, é um dos alimentos mais presentes na mesa dos brasileiros. No passado, houve resistência da opinião pública para aprovação de soja e milho transgênicos. Soja e milho OGM são usados para consumo animal, enquanto trigo é 99,9% destinado a consumo humano. A Abimapi reiterou o posicionamento contrário da indústria ao trigo geneticamente modificado. O trigo transgênico não aumenta produtividade e nem a segurança alimentar ao consumidor. Não há necessidade de trigo OGM no Brasil. Nenhum país adotou a comercialização deste tipo de cereal até então.

A indústria brasileira quer continuar com os produtos livres de possibilidade de transgenia. O trigo transgênico pode causar sérios problemas no mercado interno e externo. A Abip destacou que o cereal transgênico é mais uma preocupação para o setor de panificação, que foi prejudicado pela pandemia de Covid-19. O setor já perdeu receita com a pandemia e não precisa de mais uma preocupação com trigo OGM. Não há espaço de perda de faturamento e de preocupação a mais, além dos custos com energia, água e perdas com a pandemia. Se o trigo OGM avançar, o setor de panificação não comprará trigo vindo da Argentina. Na Argentina, o plantio da variedade HB4 é permitido desde outubro do ano passado. Segundo informações da Embaixada do Brasil na Argentina, o cultivo do cereal transgênico atingiu cerca de 50 mil hectares na safra 2021/2022 no país vizinho.

A colheita do trigo OGM deve somar entre 200 mil e 250 mil toneladas. É uma produção pequena, mas será comercializada. O ano comercial para as exportações do cereal argentino se inicia em 1º de dezembro. Segundo informações da Abitrigo, o governo argentino estabeleceu medida regulamentar firmando que a comercialização de trigo transgênico local precisaria de autorização do Brasil para importação. Eles não querem produzir na Argentina sem poder exportar para o Brasil. O Brasil importa entre 55% e 60% do trigo consumido anualmente. Deste volume, cerca de 85% provêm da Argentina. A Argentina é o principal fornecedor de trigo ao Brasil. Por isso a preocupação.

De acordo com a Abitrigo, se a CTNBio aprovar a liberação comercial de trigo e farinha transgênicos para consumo humano e animal no Brasil, as entidades que representam a indústria do cereal e de derivados acionarão o Conselho Nacional de Biossegurança para rever a decisão. O decreto de criação da CTNBio embasa esse possível posicionamento da indústria. Depois de 90 dias da decisão da Comissão, pode ser chamada uma reunião do Conselho Nacional de Biossegurança (órgão acima da CTNbio) para assegurar a conveniência da decisão do colegiado. A entidade está em contato com os Ministérios da Agricultura, Ciência e Tecnologia e das Relações Exteriores para discutir o assunto.

Entre as medidas sugeridas pela indústria moageira, no âmbito do processo, consta a realização de uma pesquisa de opinião junto com consumidores antes de decisão pela aprovação do trigo OGM. A indústria também pede ao governo federal um mecanismo de controle para certificação da entrada de cereal natural, livre de transgenia, no Brasil. O setor sugere a criação de um certificado para atestar que a carga está livre da presença de transgênicos, pois a indústria tem receio quanto à entrada ilegal de cereal transgênico no Brasil. Outra preocupação é com presença de trigo OGM nas massas e biscoitos. É preciso haver ajuste na regulamentação antes de uma decisão para a indústria não ser punida com multas. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.