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08/Set/2021

Cadeia do trigo busca política nacional para setor

Durante todo o ano de 2018, a Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo) promoveu debates sobre a formulação de uma política nacional para o trigo, envolvendo governo, agências reguladoras, organismos internacionais, academia, sindicatos, entidades empresariais, parceiros potenciais e mídia. Foram ouvidos diferentes elos da cadeia produtiva (representando a produção, cooperativas, indústria, pesquisa, cerealistas, insumos, tradings e entidades representativas do segmento) do trigo, com o objetivo de preparar uma proposta ao governo brasileiro que torne o Brasil cada vez mais competitivo no negócio trigo, farinha e derivados. A indústria moageira do Brasil é o elo entre o campo e a indústria de transformação. Pela primeira vez, foi elaborada uma proposta de Política Nacional do Trigo que foi submetida à nova ministra da Agricultura, Tereza Costa. A proposta de uma nova política para o setor levou em conta, em especial, as seguintes condições internas:

- Produção estagnada nas regiões tradicionais, plantio em novas áreas (norte do Cerrado, Bahia, São Paulo e Minas Gerais, Mato Grosso do Sul);

- Consumo estagnado de farinha, que, com a recuperação da economia, tenderá a crescer;

- Viabilização de novas variedades de sementes para novos produtos (a exemplo dos EUA);

- Desenvolvimento de variedades resistentes ao fungo brusone e giberela, pela Embrapa e outros obtentores;

- Ênfase no aumento do fluxo de comércio exterior, sobretudo, no médio e longo prazo, no aumento das exportações e na redução da dependência externa.

Os alimentos à base de trigo, como pães, macarrão, biscoitos e bolos, estão presentes em 100% dos lares brasileiros e são fundamentais para a composição da cesta básica da população. A cadeia produtiva do setor gerou um volume de renda (PIB) para a sociedade brasileira de R$ 25,3 bilhões (dados de 2016 da Fundação Getúlio Vargas – FGV) e cerca de 350 mil empregos em 2017 (Pnad contínua do segundo trimestre). Isso mostra que as questões que envolvem o cereal, como inovação, importação, consumo, produção, saudabilidade e sustentabilidade, por exemplo, merecem ser tratadas de uma forma diferente e prioritária e que precisamos aproveitar esse momento de mudança no cenário político nacional para propor caminhos que gerem valor para o setor e para toda a sociedade. Em 2017, os moinhos brasileiros processaram 10,6 milhões de toneladas de trigo, dos quais 50% de origem importada, e colocaram um total de 8 milhões de toneladas de farinha de trigo no mercado, atingindo um consumo per capita de 40,6 kg, um índice baixo em comparação com outros países.

O trigo é o único grão em que a produção nacional não é suficiente para o abastecimento doméstico. A importação do produto está concentrada (cerca de 85%) no fornecimento da Argentina. Estados Unidos, Paraguai, Canadá, Uruguai e, mais recentemente, Rússia completam o quadro de exportadores. O Brasil exporta pequena quantidade do produto (de baixa qualidade) para alguns mercados asiáticos. Do ponto de vista da indústria, quanto mais oferta de trigo o mercado puder absorver, melhor. A competição deve ser estimulada. O principal entrave para o crescimento do setor é a falta de políticas estratégicas para o desenvolvimento da cadeia produtiva do trigo, que se inicia com o fornecimento de insumos, passa pela produção agrícola nacional, pelos moinhos e pela indústria de transformação. O objetivo central da proposta de uma Política Nacional do Trigo é o de aumentar a produção interna, reduzir a dependência do Brasil em área tão estratégica, possibilitar uma variedade maior de sementes, preservando o livre mercado.

A eventual autossuficiência não deve ser utilizada para fechamento do mercado, mas sim um fator para estimular a competição interna e aumentar a exportação do produto para o mercado internacional. As sugestões seguem uma linha moderna sintonizada com as mudanças que os mercados nacional e internacional vêm sofrendo. Tem foco na inovação, no crescimento da competitividade das empresas nacionais e na qualidade dos produtos entregues a um consumidor cada vez mais exigente. O documento está baseado em eixos estratégicos (ambiental legal, produção, ambiente de negócios, incentivos fiscais, comércio internacional, logística e infraestrutura), discutidos e aprovados nas duas últimas edições (2017 e 2018) do Congresso Internacional do Trigo, promovido pela Associação Brasileira Indústria Trigo (Abitrigo). Os referidos eixos são acompanhados de sugestões de políticas e medidas concretas discutidas nos encontros com a cadeia produtivos e órgãos técnicos, como a Embrapa.

Em um cenário econômico onde os investimentos do setor público e privado diminuem em decorrência do alto déficit nas contas públicas e do baixo crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) nos últimos anos, aliado ao alto nível de desemprego, torna-se fundamental o desenvolvimento de ações que tragam um crescimento sustentável de nosso mercado e proponham políticas estratégicas que valorizem nossos produtos e fortaleçam a agroindústria. A Embrapa, por outro lado, desenvolveu junto com o Ministério da Agricultura (Mapa), estudos e propostas para a expansão da produção do trigo no norte do Cerrado. Ao longo do ano de 2020, a Abitrigo empenhou-se em contribuir com a Embrapa para a elaboração de uma proposta para expansão do trigo para a região do Cerrado brasileiro. A Associação foi informada de que o Mapa apoiava e sinalizava dar prioridade ao projeto. Mas, recentemente, chegou ao conhecimento da Abitrigo, com surpresa, que o Mapa não priorizou o projeto e ele não foi aprovado.

Como uma entidade das mais conceituadas em nível mundial, a Embrapa domina os caminhos da expansão agrícola e sua atividade tem respaldado de forma inequívoca o sucesso da agricultura nacional. Este projeto para o trigo, apesar de extremamente detalhado, representou um custo irrisório dentro do orçamento da União. A Abitrigo lamentou a decisão do Ministério, sem conseguir entender a razão do "mais importante componente da alimentação dos brasileiros" não tomar a vanguarda dos projetos de expansão da política agrícola nacional. Nesse sentido, foi encaminhada comunicação formal ao Mapa solicitando, em nome do interesse nacional, a revisão das prioridades dos projetos, recentemente apresentados pela Embrapa. Seria importante que esse assunto volte a ser prioridade, visando a expansão do trigo no Cerrado brasileiro. Essa decisão, na perspectiva da Abitrigo, é imprescindível para reduzir a vulnerabilidade nacional, representada pela dependência do País do trigo internacional para abastecer o mercado interno. Fonte: Rubens Barbosa. Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo). Fonte: Agência Estado.