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18/Jun/2021

Moinhos têm dificuldade em repassar alta do grão

A forte alta das cotações do trigo traz um desafio à indústria moageira, o de tentar repassar esse custo aos preços da farinha em meio à crise econômica. A maioria dos moinhos está transferindo apenas parte da alta de preços com a matéria-prima. A estimativa é de que, em 2020, a farinha tenha subido, em média, 20% enquanto o custo do trigo aumentou mais de 70%, de acordo com executivos e representantes da indústria. Neste ano, as cotações do cereal acumulam alta de aproximadamente 25%, conforme o Indicador de Preços Cepea/Esalq/USP do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea). A Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo) diz que o repasse ao produto final depende da situação financeira de cada moinho e de sua capacidade em absorver parte dos custos. Outros insumos também aumentaram. Em média, deve haver um pequeno repasse, porque o consumo de farinha está entre estável e caindo, o que dificulta maior reajuste de preços. O trigo em grão representa 70% a 75% do preço de venda da farinha.

Além da valorização do cereal, o dólar mais forte ante o Real pesa sobre a importação, cerca de 50% do grão processado pela indústria nacional vêm de fora. No ano de 2020, houve valorização do trigo de quase 40% e do câmbio de 47%, enquanto foi repassado 20% desse montante para a farinha de trigo. O Moinho Anaconda afirma que neste ano a empresa, que tem plantas em Curitiba (PR) e São Paulo (SP), já fez reajustes e deve realizar outro neste mês. É inevitável repassar parte do aumento do custo para viabilizar os negócios e recompor parcialmente as margens. Na outra ponta do País, o Grande Moinho Cearense, que tem unidades em Fortaleza (CE), Teresina (PI), Recife (PE), Salvador (Ba) e Manaus (AM), em 2020 reajustou a farinha em 24%. Neste ano, ainda não fez ajustes. Está faltando em torno de 10% de repasse para acompanhar a alta dos custos, mas não há clima de mercado para esse reajuste. A empresa tenta elevar entre R$ 1,00 e R$ 2,00 por saco de 50 Kg ao mês. Uma parcela do varejo e da indústria de massas e biscoitos reclama da nova tabela de preços. A empresa trabalha há mais de três meses para poder entrar com ajuste em meados de junho e julho.

A Associação Norte Nordeste da Indústria do Trigo, calcula que, para recuperar a rentabilidade, os moinhos da região teriam de elevar o preço da farinha em cerca de R$ 10,00 por saco 50 Kg. Há defasagem e é inviável o reajuste integral. O perfil socioeconômico da região limita altas de preço ao produto final. O preço médio da farinha varia de R$ 155,00 a R$ 160,00 por saco de 50 Kg na região. O cenário é de que a inflação de custos tende a se manter até o fim do ano, já que a perspectiva é de que os preços sustentados do trigo se estendam no segundo semestre, mesmo com a entrada da safra nacional. É o que indica a comercialização antecipada de lotes da nova safra, que entrará no mercado a partir de meados de setembro. Os preços dos lotes da safra 2021 estão em média 60% superiores aos reportados no início do ciclo passado. O segundo semestre de 2021 deve registrar os maiores preços da história, já que os patamares atuais tendem a não ceder. Fala-se em R$ 1.700,00 por tonelada FOB no interior do Paraná, para retirada em meados de setembro/outubro, ante R$ 1.500,00 por tonelada praticado atualmente. A situação não é exclusiva do cereal nacional.

O trigo argentino é comercializado em média a US$ 245,00 por tonelada para entrega em dezembro, ante a média dos últimos cinco anos de US$ 220,00 por tonelada. Segundo o Grande Moinho Cearense, a estimativa é de que o preço possa ficar entre US$ 270,00 e US$ 280,00 por tonelada até o fim do ano. O arrefecimento das vendas de farinhas, independentemente da região, também limita a alta de preços do produto. No momento, a pergunta-chave no setor é como repassar a alta dos custos para os produtos sem perder volume de vendas. O desafio é encontrar o ponto de equilíbrio nessa equação. O Grande Moinho Cearense optou por buscar uma maior rentabilidade que volume de vendas. Embora não haja dados oficiais sobre a comercialização do produto, as indústrias dizem observar menor demanda de farinha para panificação e para food service, em virtude das medidas de isolamento social, e estabilização na demanda para uso doméstico de pacotes de 1 Kg e 5 Kg. Neste ano, alguns moinhos reduziram a capacidade de moagem de 20% a 40% para se adequar ao menor patamar de demanda.

Nos primeiros meses do ano, principalmente por falta de recursos do consumidor, a queda foi forte. Para 2021 como um todo, a Abitrigo espera volume estável de moagem no País, entre 12,6 milhões de toneladas e 12,7 milhões de toneladas, após avanço de 1% no ano passado. No primeiro trimestre, houve uma retração no consumo de farinha de trigo, mas a demanda por farelo aumentou. Com a queda da renda per capita, se o consumo se mantiver é muito bom, mas é esperada uma pequena recuperação da economia. Em 2020, foram moídas 12,70 milhões de toneladas de trigo, que corresponderam a 9,5 milhões de toneladas de farinha de trigo. O setor aguarda os resultados práticos da retomada do auxílio emergencial, que começou a ser pago pelo governo federal em abril. Espera que o pagamento do benefício possa influenciar no consumo de farinha de trigo, porém em medida menor da observada no ano passado. O Sindicato da Indústria do Trigo no Estado de São Paulo (Sindustrigo/SP) vê um segundo semestre dificilmente igual ao primeiro quanto à demanda.

As empresas vêm administrando quedas expressivas de margens na tentativa de manter volumes mínimos de mercado desde o início da pandemia de Covid-19. Os resultados financeiros do setor não foram bons em 2020 e nesse ano devem piorar. A Associação Norte Nordeste da Indústria do Trigo observa melhora mensal no consumo do produto. Há uma pequena reação, atrelada às novas parcelas do benefício. Junho está sendo melhor que maio, ao menos no varejo. Os supermercados estão fazendo novas compras. Para as indústrias que trabalham com maior participação no food service, caso do moinho Anaconda, o avanço da vacinação contra Covid-19 também pode trazer efeitos no consumo. A percepção é de que, enquanto não houver vacinação em massa, a economia não irá reagir. O índice atual de 11% da população imunizada é pequeno para dar segurança aos negócios. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.