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18/Jun/2021

Indústrias de trigo elevarão preços no 2º semestre

A Associação Brasileira das Indústrias de Biscoitos, Massas Alimentícias e Pães & Bolos Industrializados (Abimapi) estima que o setor já tenha ajustado o portfólio entre 15% e 20% entre janeiro e maio deste ano e novos incrementos serão feitos no segundo semestre. A indústria está tentando repassar de 2% a 3% por mês. A estratégia é escalonar o reajuste. A variação e o momento do repasse dependerão da estratégia de cada empresa. Em média, a indústria de alimentos mantém estoque de farinha para dois a três meses. O setor é responsável por um terço do consumo nacional do produto. A farinha de trigo representa, em média, 70% do custo de fabricação de massas, 60% do custo de produção de pães e bolos industrializados, e de 30% a 40% do custo de biscoitos. Os quatro derivados têm a cadeia dolarizada e são dependentes do preço do cereal. Por isso, o repasse se faz necessário. Não há espaço para elevação abrupta de preços, diante do menor poder aquisitivo das famílias, que buscam ajustar o orçamento apertado às necessidades básicas dos lares.

Dificilmente a alta do custo será repassada integralmente. Parte tende a ser absorvida, como foi no primeiro semestre. Para o Itaú BBA, o atual momento da indústria de alimentos é crítico, com valorização das commodities em dólar e Real fraco ante o dólar. É uma janela única. Juntos, os dois fatores se traduzem em uma inflação de custos muito grande para as indústrias, que acabam pressionadas a fazer repasse de custos. Mesmo companhias verticalizadas, que fabricam sua própria farinha, reclamam do quadro. A M. Dias Branco, líder nacional em massas e biscoitos, elevou o preço médio de seus produtos em 10% em janeiro e segurou novos ajustes, ainda que projete aplicar novos aumentos. Vai depender do comportamento do dólar e do preço das commodities. Segundo a empresa, o aumento foi necessário para recompor as margens de rentabilidade. A companhia fabrica 99,7% da farinha que utiliza e é a maior importadora nacional de trigo. O cereal responde por cerca de 40% dos seus custos de produção.

Além do aumento na despesa para adquirir trigo, o óleo de palma, outro insumo importante para a indústria de alimentos, subiu cerca de 72% em 12 meses encerrados em março. O maior vilão tem sido o fortalecimento do dólar ante o Real. Após o ajuste de preços feito no início do ano, a M. Dias Branco viu o volume vendido de seus produtos recuar 25,2% e seu lucro líquido cair 89% no primeiro trimestre. Historicamente, há impacto negativo sobre as vendas após ajustes de preço. Quando se lança mão dessa estratégia, já se espera que traga efeito substancial nas vendas, mas é necessário para ter sinal de melhora de margem no curto prazo. Esse é um dos maiores desafios do setor no momento: conciliar o aumento dos custos com a manutenção das vendas em um cenário de recessão econômica. Cada fabricante tem seu resultado e sua estratégia própria, pode ser segurar preços e vender mais ou manter as margens com menor volume. Outra dificuldade é a negociação das tabelas reajustadas de preços com os varejistas, que preferem o maior giro de produtos.

O maior preço tende a não ser sentido imediatamente pelo consumidor final, já que o varejo pode retardar ou arcar com parte do aumento. Apesar dos preços mais elevados, a companhia não acredita que possa haver uma diminuição brusca no consumo dos produtos da categoria. Espera-se que consumidores intensifiquem o trade down (troca de produtos de maior valor agregado por produtos de tíquete médio menor), mas não deixam de adquirir os derivados de trigo. Já é possível observar a migração para produtos substitutos de massas e biscoitos ou outras categorias. Para alcançar esse consumidor com menor poder de compra, outras medidas vêm sendo adotadas pela empresa como promoções e criação de pacotes tamanho família para itens de menor preço médio e lançamento de embalagens pequenas para itens de maior valor agregado. A Abimapi projeta avanço de 2% a 3% em volume e entre 3% e 5% em faturamento para o setor até o fim do ano na comparação com o ano passado, quando cresceu 6% em volume vendido e 9% em receita.

O ano de 2020 foi atípico para a indústria porque os três principais itens da cesta foram privilegiados por um maior consumo feito em casa. Neste ano, deve haver desaceleração em virtude do menor auxílio emergencial e questões ligadas a emprego e renda. Na visão da Abimapi, a extensão ou não do benefício emergencial pago pelo governo federal e o avanço da vacinação contra Covid-19 no País serão determinantes para o crescimento contínuo das vendas de derivados de trigo. O auxílio emergencial foi fundamental para aquisição destes produtos. Assim que os pagamentos encerraram, o setor sofreu com diminuição nos volumes. Quando o auxílio emergencial voltou, as vendas não chegaram ao mesmo nível do ano passado. O Itaú BBA também vê um impacto mais brando do benefício sobre o consumo de derivados de trigo neste ano. Ao segurarem parte do incremento dos custos, as indústrias abrem mão de margens maiores de lucro. Essa foi a tônica do setor nos primeiros cinco meses do ano e tende a se repetir no segundo semestre. A redução dos lucros é uma questão inerente a todas as empresas.

Contudo, as indústrias ligadas ao food service talvez tenham uma situação mais delicada de caixa. Esse cenário mais adverso pode gerar efeitos mais drásticos como o fechamento de plantas de fabris e até mesmo de empresas. A Abimapi afirma que entre os industrializados de trigo o movimento pode ocorrer com mais força nas categorias de massas e biscoitos, nas quais predominam empresas regionais, de pequeno e médio porte. Dificilmente, o setor vai escapar do que ocorreu com a maioria das indústrias, que é perder algumas fábricas, menores, e de situação financeira menos elástica. O Itaú BBA comenta que o impacto pode ser maior em empresas com maior exposição de vendas nas Regiões Norte e Nordeste, que são mais dependentes a programas de renda e nas quais o consumo de alimentos está mais atrelado a programas sociais. São mercados que tiveram um ano de 2020 muito auxiliado pelo pagamento de benefício emergencial. Neste ano, o efeito está sendo mais brando e tende a ser um ano mais difícil. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.