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23/Set/2020

BA promove a tropicalização da produção de trigo

Com potencial de expansão da área plantada para pelo menos 20 mil hectares nos próximos anos com o uso de tecnologias de manejo e de variedades atuais, a triticultura na região oeste da Bahia pode contribuir na busca pela autossuficiência do Brasil no cereal. Das cerca de 12,5 milhões de toneladas consumidas internamente, apenas 6,81 milhões de toneladas deverão ser produzidas no país em 2020, segundo estimativa da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). A região faz parte do MATOPIBA, grande fronteira agrícola nacional da atualidade que integra o Cerrado do Maranhão, do Tocantins, do Piauí e da Bahia, sendo responsável por grande parte da produção nacional de grãos como soja e milho, e de fibras como o algodão. Na região, o trigo é plantado em sistema irrigado, em rotação com a soja, o milho ou o algodão sob pivô, cultivos voltados à produção de sementes ou plumas, respectivamente. Nesses sistemas, o trigo atua quebrando ciclos de pragas e doenças, além de reduzir a infestação de plantas daninhas e de deixar, após a colheita, uma palhada de boa qualidade.

Já o trigo em sistema de sequeiro, apesar de ser pontualmente testado por alguns produtores, praticamente não é cultivado devido ao maior risco representado pelos solos arenosos da região, que têm menor capacidade de retenção de água. Estimativas da Conab apontam que a área plantada com trigo na Bahia neste ano (quase a totalidade na região oeste) ainda é pequena, de cerca de 3 mil hectares, mas os pesquisadores acreditam que possa alcançar rapidamente 20 mil hectares nos próximos anos. A produção estimada para 2020 é de cerca de 17 mil toneladas, o equivalente a uma produtividade média de 5,66 toneladas por hectare (ou 94,4 sacas de 60 Kg por hectare), bem superior à média nacional de 2,9 toneladas por hectare (ou 48,3 sacas de 60 Kg por hectare) projetada para o ano. Mas, há produtores que chegam a produzir 7 toneladas por hectare (116,6 sacas de 60 Kg por hectare) seguindo as recomendações de manejo e plantando variedades mais modernas. A Embrapa Cerrados atua com o trigo na região desde meados da década de 1980, com o plantio de ensaios de valor de cultivo e uso (VCU) em áreas de produtores.

Exigidos pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), os ensaios de VCU são realizados para comprovar, em condições de cultivo, o valor agronômico de linhagens candidatas a cultivares, segundo normas elaboradas pelo próprio ministério. A Embrapa tem atualmente conduzido e avaliado experimentos com novas variedades e linhagens de trigo na região. As variedades também são avaliadas pelos produtores em campos experimentais e lavouras comerciais, observando as recomendações de manejo prescritas pela pesquisa científica. Na medida em que foram sendo lançadas novas variedades, a área cultivada foi aumentando, sobretudo de 2005 para cá. As condições climáticas e geográficas favoráveis ao cultivo do trigo irrigado no oeste baiano são semelhantes às do Brasil Central (Distrito Federal, Goiás e Minas Gerais), local onde foram selecionadas as cultivares da Embrapa para o Bioma Cerrado. Temperaturas elevadas durante o dia e amenas à noite, dias com alta luminosidade e altitudes que variam de 600 a 1.000 metros são fatores que influenciam positivamente na produtividade e na qualidade industrial dos grãos, considerada uma das melhores do mundo.

As recomendações de plantio, de manejo e de controle de pragas e doenças da cultura para a região se assemelham às preconizadas para o Brasil Central, sendo também a brusone a doença mais recorrente. Com os mesmos cuidados preventivos e recomendações, os produtores têm conseguido escapar da doença ou minimizar os seus efeitos. Segundo o Ministério da Agricultura, a tropicalização do trigo, por meio do processo de inovação, é um exemplo claro da importância da pesquisa e da inovação na agropecuária. O trigo, que é uma cultura originalmente de clima temperado, que há décadas passadas era produzido quase exclusivamente na Região Sul do Brasil. Hoje, graças à inovação agropecuária brasileira, é possível cultivar no Cerrado brasileiro, inclusive na Região Nordeste e em parte da região da caatinga. Isso mostra, a exemplo de outras culturas como a soja, que com inovação é possível expandir a produção agropecuária e, sobretudo, ofertar mais alimento na mesa do consumidor brasileiro. A expansão do cultivo poderá tornar o Brasil um grande produtor mundial de trigo.

A perspectiva é de que, com o avanço do trigo tropical na região do Cerrado e na Região Nordeste, em um horizonte de tempo de curto prazo, o Brasil poderá até deixar de importar trigo e, por que não, pensar em exportar trigo para o mundo. A Embrapa afirmou que, depois de "tropicalizar" diversos tipos de plantas e animais nas últimas décadas, o Brasil agora trabalha para a "tropicalização" do trigo. No entorno do Distrito Federal, já há trigo de alta qualidade e houve a primeira colheita no Ceará. A expectativa é de aumento da área plantada de trigo na região oeste da Bahia nos próximos anos porque a área com agricultura irrigada está aumentando e o trigo é uma opção para a rotação de culturas. Não é a cultura mais rentável, mas é rápida e tranquila. É destaque a qualidade do grão colhido na região, que tem peso do hectolitro (PH)* variando de 82 a 85, o que indica boa qualidade. O maior estímulo não é o financeiro. Geralmente, são grandes produtores com algum problema agronômico, já que o trigo, no mínimo, aumenta a diversidade de plantas na área. E outros ainda não o cultivam porque ainda não há moinhos em operação na região.

Nem todos os produtores foram bem sucedidos com a cultura, por terem tomado decisões de manejo de forma reativa, sem planejamento. Por isso, há necessidade de compreensão das especificidades de manejo da cultura para o Cerrado baiano. Muitos produtores conhecem o trigo da Região Sul, mas ainda não entenderam que na Bahia tanto a estratégia de manejo como as ameaças são diferentes. É outra adubação, outra população de plantas, regulador de crescimento etc. Ao longo dos últimos 10 anos observa-se que, se por um lado há uma sazonalidade de produtividade na região, por outro há a segurança de se produzir um trigo de qualidade pão ou melhorador. A região pode colher, na média, o mesmo que na Região Sul do País, mas tudo de grãos melhoradores. Ressalta-se a quebra do paradigma de que o trigo seria uma cultura exclusiva de clima frio. A cultivar de trigo BRS 264 da Embrapa é a mais plantada pelos produtores da região, que também têm testado a cultivar BRS 394. Enquanto alguns produtores avaliam esses e outros materiais em parcelas piloto, outros já realizam plantios em escala comercial.

A BRS 264 se sobressai pela precocidade, pela qualidade e pela produtividade, com lavouras comerciais produzindo 6 toneladas por hectare (ou 100 sacas de 60 Kg por hectare). Além disso, é a mais demandada pelos próprios moinhos. O principal limitante à produção do trigo no Oeste baiano é a comercialização, já que os moinhos mais próximos de Luís Eduardo Magalhães, um dos municípios produtores do cereal na região, estão no Distrito Federal, a 550 Km, e em Salvador, a 960 Km, o que encarece o frete. Por isso, os grãos são comercializados para moinhos do Distrito Federal, de Anápolis e Goiânia (GO) e de estados da Região Nordeste. Mas, a situação pode melhorar em breve. Um moinho está em construção em Luís Eduardo Magalhães e há empresas moageiras do Paraná, de São Paulo e de Salvador (BA) interessadas em atuar na região, uma vez que o preço do trigo importado tem aumentado em consequência a alta do dólar.

Atualmente, o trigo FOB tem sido cotado a R$ 1.100,00 por tonelada, em média. O estabelecimento do moinho pode estimular a cadeia do trigo na região. E como há uma previsão da redução da área plantada de algodão em pivô no ano que vem, abre-se espaço para culturas como milho, feijão e para o próprio trigo. A localização dos grandes moinhos de trigo nos portos faz com que a logística de transporte seja mais onerosa que as importações, que entram no País de navio. Sem dúvida equacionando esses entraves, não só oeste da Bahia, como os estados de Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e o Distrito Federal têm um grande potencial de produção. Porém, como existem poucas unidades de moinhos, há dificuldade de comercialização pelo produtor, sobretudo se a produção se elevar muito. Uma alternativa é a produção em contrato com os moinhos da região. Fonte: Ministério da Agricultura. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.