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31/Ago/2020

Preços do trigo sustentados pelo câmbio e oferta

Os preços do trigo nacional podem ceder um pouco com a entrada da safra, mas tendem a se manter em patamares superiores aos de 2019. Hoje, a oferta do cereal segue pontual no mercado de lotes, e as cotações continuam firmes. Na semana passada, antes das geadas nas lavouras, o valor era de R$ 1.100,00 por tonelada, para entrega em setembro; R$ 1.000,00 por tonelada para entrega em outubro e R$ 950,00 por tonelada para novembro, FOB Paraná. Agora, já se cogita cerca de R$ 100,00 por tonelada a mais para estes contratos. No Rio Grande do Sul, os lotes permanecem estáveis há duas semanas a R$ 1.000,00 por tonelada colocada no Porto de Rio Grande e R$ 920,00 por tonelada FOB na região da Serra Gaúcha, para retirada em dezembro.

O patamar atual tende a ser mantido até outubro, quando a colheita começa no Rio Grande do Sul. Pode haver uma pressão pontual com o andamento da colheita, mas as cotações vão se manter próximas aos recordes registrados nos primeiros três meses deste ano e bem superiores aos pagos na safra 2019. O cenário aponta para cotações remuneradoras também no último trimestre do ano. Na comparação com igual período do ano passado, os preços do cereal são cerca de 30% superiores no Paraná e 50% maiores no Rio Grande do Sul, conforme o indicador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea-Esalq). De partida, o ciclo inicia com lotes a R$ 1.000,00 por tonelada. Sem dúvidas, será uma safra de preços remuneradores e bem acima das temporadas anteriores.

Parte da sustentação dos preços vem das incertezas com a safra. Até a semana passada, produtores, moinhos e agrônomos falavam em safra recorde, com perspectiva de produção nacional de 6,8 milhões de toneladas do cultivo neste ano, conforme a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). O cenário passou de favorável para adverso com a chegada da massa polar sobre a Região Sul, que trouxe geadas para as lavouras em desenvolvimento. Há certeza de que a safra será menor do que o inicialmente esperado e os preços terão de se adequar a isso. No Paraná, um terço da área plantada está em fase suscetível. O Departamento de Economia Rural (Deral/Seab) estimou recentemente perda de 211 mil toneladas.

No Rio Grande do Sul, prejuízos também são esperados. Pode ser de 500 mil toneladas a 1 milhão de toneladas. Se considerar que cerca de 1 milhão de toneladas estejam reservadas para exportação, a safra que pode ser menor ou igual ao do ano passado, o que tende a sustentar os preços até o fim do ano. Além da dúvida quanto ao volume a ser realmente colhido e à qualidade, há o atraso na retirada do cereal. No Paraná, os trabalhos de campo estão cerca de quinze dias atrasados. Com isso, produtores seguram a oferta de lotes, com receio de se comprometerem com determinado volume ou característica do cereal e não conseguir entregar.

Por outro lado, o estoque dos moinhos não é amplo e o apetite por novos lotes impulsiona os preços. O baixo volume disponível está estocado com os moinhos. Não há reservas alongadas na indústria. O dólar forte ante o Real também contribui para segurar as cotações, visto que o Brasil importa cerca de 50% do trigo que processa internamente. O único driver que pode arrefecer os preços é o câmbio, por causa da paridade entre o trigo local e o importado. Entretanto, a perspectiva é de que a moeda norte-americana continue valorizada, o que contribui para que o cereal nacional se mantenha competitivo.

O trigo argentino chega hoje no Rio Grande do Sul a US$ 190,00 por tonelada, o equivalente a R$ 1.200,00 por tonelada, o que mantém o preço local firme. Com a matéria-prima em alta, a tendência é de a farinha de trigo ser reajustada. Mas, o repasse tende a ser moderado e gradual, com a retração da economia e do aperto no orçamento doméstico. Não há espaço para reajuste integral ou único ao preço dos produtos, porém os moinhos não conseguem absorver sozinhos. A conta terá de ser dividida entre produtor, moinho e consumidor final. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.