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19/Jun/2020

Triticultores temem a queda dos preços internos

A decisão da Câmara de Comércio Exterior (Camex), ligada ao Ministério da Economia, de liberar uma cota adicional de 450 mil toneladas anuais para importação de trigo sem a Tarifa Externa Comum (TEC) de 10% para países de fora do Mercosul desagradou aos produtores do cereal no Brasil. Lideranças do setor produtivo afirmaram que a medida não foi bem recebida pelos produtores, que temem queda nos preços do cereal da próxima safra, que começa a ser colhida em setembro no Paraná. Segundo a Organização das Cooperativas do Estado do Paraná (Ocepar), o setor produtivo considera que o volume total, de 1,2 milhão de toneladas, é muito grande e vai trabalhar para tentar reduzir essa cota adicional, para voltar ao montante de 750 mil toneladas, na tentativa de minimizar os prejuízos ao produtor.

A entidade está preparando um posicionamento oficial sobre o assunto, junto a suas filiadas, que deve ser encaminhado ao governo federal. A cota adicional poderá ser utilizada pela indústria moageira nacional para importações até 17 de novembro deste ano, caso 85% do volume de 750 mil toneladas por ano permitidas atualmente seja preenchido. A isenção da TEC entra em vigor assim que a resolução for publicada no Diário Oficial da União. A decisão foi tomada no dia 12 de junho pelo colegiado do Comitê-Executivo de Gestão (Gecex), órgão deliberativo da Camex. Anteriormente ao anúncio da medida, entidades já esperavam um aumento na cota isenta de TEC pelas queixas frequentes da indústria de aperto no volume de cereal disponível.

Contudo, esses representantes do setor produtivo acreditavam que a medida seria limitada até meados de setembro a fim de reduzir possíveis impactos na comercialização interna. O receio dos produtores é de que esse volume adicional sem TEC entre no mercado interno junto com a safra nacional 2020 e, com isso, prejudique a comercialização da cultura e pressione os preços locais. Se os embarques ocorressem até o fim de julho não haveria problema, pois é período de entressafra. Mas, dessa forma, a indústria estará com estoque a caminho justamente na colheita nacional. O setor compreende a dificuldade de fornecimento que os moinhos encontram neste momento. É natural que os preços pagos pelo cultivo caiam em meio à entrada de uma nova colheita, mas a cota traria uma pressão adicional a essa baixa, diminuindo ainda mais a competitividade do cereal nacional ante o importado.

Foi em virtude dos preços atraentes no período da semeadura que o produtor destinou maior área às lavouras da cultura neste ano. Agora, esse aumento da cota de importação sem TEC desanima e preocupa os produtores. O Rio Grande do Sul não espera um efeito tão expressivo na produção do Estado, pois, em função de dificuldades logísticas, tem pouco acesso a moinhos das Regiões Norte e Nordeste, que devem ser os principais beneficiários da cota. Entretanto, lideranças produtivas apontam que uma eventual depreciação nos preços domésticos do cereal, em decorrência do incremento na oferta, pode afetar o resultado financeiro dos produtores locais.

Segundo a Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul), é natural que a indústria tenha de buscar no exterior o que não se consegue adquirir no mercado interno, ainda mais na situação atual, em que os estoques internos estão praticamente zerados, desde que não ocorra no pico da comercialização por ocasião da colheita ou pós-colheita. O volume adicional junto ao montante anterior já aprovado deve suprir a demanda dos moinhos até a entrada da colheita nacional, com elas retornando após este período a buscar matéria-prima nos fornecedores locais.

O setor produtivo do Rio Grande do Sul afirma não ser contrário à cota adicional desde que a chegada da commodity não coincida com o pico da comercialização regional. As perspectivas de mercado apontam para uma produção maior do cereal neste ano em relação ao ano anterior, com estimativa de 3,5 milhões de toneladas a serem colhidas no Paraná e 2,1 milhões de toneladas no Rio Grande do Sul. Esse volume tende a perfazer metade do volume que a indústria necessita para moagem. Por isso, o País, tradicionalmente, adquire entre 5,5 milhões e 7 milhões de toneladas por ano no mercado externo. Do volume importado, cerca de 85% são de origem argentina. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.