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30/Mar/2020

Moinhos preocupados com a logística na Argentina

A negociação de trigo no mercado interno ainda é lenta, mesmo em um cenário de aumento da procura por produtos à base de trigo em meio ao avanço do novo coronavírus no País. Enquanto os vendedores se concentram na comercialização de soja e milho, cujos preços são mais atraentes, os moinhos já estão bem abastecidos. Ainda assim, no Paraná e do Rio Grande do Sul, a indústria faria novas compras se a oferta cedesse a preços mais baixos. A ponta compradora também se mantém atenta à situação da logística nos portos e rodovias da Argentina, em que possíveis bloqueios podem atrasar o recebimento do cereal importado negociado antecipadamente. Segundo a Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), o abastecimento em alguns Estados brasileiros já está sendo afetado pela dificuldade de liberação do fluxo de mercadorias por causa do coronavírus.

Entre 30% a 35% das farinhas não estão sendo entregues por causa do problema de descoordenação entre as ações federais, estaduais e municipais. No Paraná, na região de Ponta Grossa, a indicação de compra é de R$ 1.100,00 por tonelada FOB, para retirada imediata e pagamento em 30 dias, mas os vendedores continuam focados na comercialização de soja e milho. Os armazéns não têm capacidade para movimentar três produtos ao mesmo tempo. Nos últimos dias, houve um aumento na demanda pelo cereal em decorrência do movimento de estocagem de produtos básicos por causa das medidas de contenção ao coronavírus. Nem com o incremento da procura, entretanto, a movimentação ou os preços se alteraram, já que a baixa disponibilidade do cereal no Estado também contribui para travar o mercado. A perspectiva é de que os negócios voltem a andar em cerca de 15 dias, quando a colheita de soja chegar ao fim.

No Rio Grande do Sul, o ritmo lento se repete, mas a retração é da ponta compradora. Com os moinhos abastecidos e produtores sem ceder nos preços em virtude dos estoques limitados, no mercado está parado. A indicação de compra é de R$ 1.000,00 por tonelada FOB, para retirada imediata e pagamento em 30 dias. Os vendedores indicam entre R$ 1.100,00 e R$ 1.150,00 por tonelada, preços cerca de R$ 20,00 por tonelada mais altos em relação à semana anterior. A possibilidade de restrições logísticas na Argentina vem preocupando os moinhos brasileiros que fecharam contratos antecipadamente para entrega do cereal importado. No dia 20 de março, os portos de Timbúes, na região de Santa Fé, chegaram a interromper o fluxo de veículos, mas retornaram às atividades no dia 23 de março, após decisão do governo local.

Novas paralisações, entretanto, não são descartadas e estão no radar dos moinhos. Além dos portos, a atenção está voltada para os bloqueios municipais, que podem atrasar a entrega do cereal no Brasil. Na semana passada, ao longo da quarentena decretada pelo governo argentino, a entrada de caminhões nos terminais portuários de grãos da Gran Rosario caiu quase 60%. Nesse cenário, a entrada de trigo importado nos portos brasileiros não vem sendo significativa. Entretanto, nesta época do ano, as compras já costumam ser mais fracas porque os moinhos tendem a se planejar para ficarem abastecidos até maio ou junho, quando a pressão da safra norte-americana torna os preços mais competitivos para novas compras. Os moinhos não estão tão agressivos nas compras agora porque o foco é conseguir receber o trigo que foi negociado antecipadamente.

Caso novos bloqueios sejam realizados na Argentina, o último recurso seria importar de outros países, como os Estados Unidos. Essa alternativa, porém, não deve funcionar para sanar o abastecimento no curto prazo, já que além de os preços serem mais altos em função da tarifa de importação, o tempo de negociação, embarque e chegada nos portos brasileiros poderia chegar a 30 dias, tempo máximo em que os estoques da maioria dos moinhos durariam. A média de preços para o cereal argentino com entrega em maio no Porto de Santos (SP) é de R$ 1.450,00 por tonelada. Se fosse necessário recorrer ao trigo norte-americano, os moinhos teriam que desembolsar cerca de R$ 1.700,00 por tonelada. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.