19/Nov/2019
A colheita de trigo avança no Rio Grande do Sul, evidenciando que a qualidade do cereal está inferior à desejada. Os agentes indicam que a disponibilidade de trigo de PH 78 ou maior está baixa. Esse cenário atrelado à valorização do dólar tem elevado os preços domésticos do trigo. Vale lembrar que a moeda norte-americana em alto patamar encarece a importação e acirra a disputa pelo produto brasileiro. Nos últimos sete dias, os preços do trigo no mercado de lotes (negociações entre empresas) registram alta de 1,6% no Rio Grande do Sul, 3,7% no Paraná e 1,1% em São Paulo. Em Santa Catarina, os valores permanecem estáveis. No mercado de balcão (pago ao produtor), os valores estão estáveis no Rio Grande do Sul, mas há alta de 0,2% no Paraná. No Rio Grande do Sul, dados da Emater-RS apontam que, até o dia 14 de novembro, 80% da área havia sido colhida, avanço semanal de 13%. Em relação ao cereal ainda no campo, 18% das lavouras estão em fase de maturação e 2%, em enchimento de grãos.
A perda de qualidade no Estado segue preocupando os produtores, com lavouras apresentando PH abaixo de 70. Na região de Ijuí, a alta umidade do solo e as chuvas seguiram atrapalhando a colheita, fator que está impactando muito a qualidade do cereal. Nas regiões de Santa Rosa, Bagé, Erechim e Soledade, a produtividade tem sido boa, mas a perda de qualidade também preocupa. Na região de Frederico Westphalen e Santa Maria, o clima chuvoso tem atrasado os trabalhos de campo e reduzido a qualidade do cereal. Na região de Caxias do Sul, apesar do excesso de chuva, as lavouras estão em boas condições. Segundo o Departamento de Economia Rural (Deral/Seab), até o dia 11 de novembro, a colheita havia atingido 95% da área no Paraná, avanço semanal de 3%. Quanto ao desenvolvimento das lavouras, 86% estão em condições boas e 14%, médias. Destas, 95% estão em fase de maturação e 5%, em frutificação. Em Santa Catarina, a colheita está no início, mas os produtores ainda não demonstram muito interesse em fixar preços. O clima esteve mais firme na última semana, fator que tem beneficiado os trabalhos de campo.
Aparentemente, o alto índice pluviométrico registrado em semanas anteriores não prejudicou a qualidade e a produtividade do cereal. Em relatório divulgado no dia 13 de novembro, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) apontou nova queda na produtividade, a 2,59 toneladas por hectare, volume 2,7% inferior em relação à safra passada. Quanto à produção nacional, a estimativa é de 5,28 milhões de toneladas, volume 2,8% menor que o da temporada anterior. Essa queda se deve às adversidades climáticas durante o desenvolvimento das lavouras. O Estado com maior redução na produção (-20,5%) foi o Paraná, passando de 2,8 milhões de toneladas na safra passada, para 2,3 milhões de toneladas na atual temporada. Neste caso, foram verificadas quedas de área semeada (-6,8%) e de produtividade (-14,8%). Em relação ao relatório de outubro, entretanto, a produtividade e a produção nacionais foram incrementadas em 2,7% e 2,5%, respectivamente. A previsão é de que o suprimento interno (estoque inicial + produção + importação) some 13,1 milhões de toneladas. O consumo doméstico foi reduzido para 12 milhões de toneladas e as exportações, para 400 mil toneladas, com estoques finais (em julho/2020) estimados em 673,6 mil toneladas.
Em outubro, o Brasil importou 607,1 mil toneladas de trigo, sendo a maioria (63,76%) de origem argentina, seguido dos Estados Unidos (15,19%), Rússia (9,97%), Paraguai (8,9%) e Uruguai (2,15%). O valor médio de US$ 138,6 milhões é 16,5% menor frente ao do mesmo período do ano anterior. O dólar alto pode limitar a aquisição do cereal de outros países, e as importações estão estimadas em 6,8 milhões de toneladas até o final de julho de 2020. Ressalta-se que, o Brasil abriu cota de 750 mil toneladas de importação de trigo por ano com alíquota zero. Este volume representa 6% do consumo do País em 2018. Esse acordo, vale lembrar, foi assumido no início deste mês por prazo indeterminado pelo governo brasileiro junto à Organização Mundial do Comércio (OMC), em reunião do Comitê Executivo de Gestão da Câmara de Comércio Exterior (Gecex/Camex). Essa medida preocupa os produtores argentinos, principais fornecedores do cereal para o Brasil. Nos Estados Unidos, os futuros seguem em queda, pressionados pela melhora no clima no país e pela desvalorização dos futuros do milho.
A maior estimativa de produção na Rússia, Ucrânia e União Europeia, divulgada pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), também pressiona as cotações. Nos últimos sete dias, o primeiro vencimento (dezembro/2019) do trigo Soft Red Winter na Bolsa de Chicago registra queda de 1,5%, a US$ 5,02 por bushel (US$ 184,73 por tonelada). Na Bolsa de Kansas, o mesmo vencimento do trigo Hard Red Winter apresenta recuo de 1,1%, a US$ 4,17 por bushel (US$ 153,22 por tonelada). Quanto às lavouras de inverno nos Estados Unidos, o USDA aponta que, até o dia 10 de novembro, 92% haviam sido semeadas. Deste total, 54% estavam em condições boas a excelentes, 33%, médias e 13%, ruins e muito ruins. Da área semeada, 78% havia emergido até a data. Segundo o Ministério da Agroindústria da Argentina, os preços FOB registram recuo de 0,5% nos últimos sete dias, a US$ 197,00 por tonelada. Nem mesmo a queda na estimativa de produção daquele país sustentou as cotações.
Segundo a Bolsa de Cereais de Buenos Aires, a piora na qualidade das lavouras reduziu a projeção de produção para 18,5 milhões de toneladas. A colheita avança e, embora os resultados obtidos até o momento estejam acima das médias históricas, as expectativas de produtividade são menores nas regiões sul e central. Além das perdas associadas à seca e ao granizo, muitos lotes estão sendo prejudicados por doenças fúngicas. Em relatório divulgado no dia 14 de novembro, a Bolsa de Cereais de Buenos Aires apontou que, até a data, 13,3% da área semeada havia sido colhida, avanço semanal de 6,2%, mas atraso de 2,7% em relação ao mesmo período de 2018. Quanto à qualidade, até o dia 13 de novembro, 46% das lavoras estavam entre normal e excelente, piora de 8,2% em relação à semana anterior. Quanto às condições hídricas adequadas, passaram para 72,9%, piora de 2% no mesmo período. Fonte: Cepea. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.