04/Nov/2019
A comercialização de trigo no mercado interno segue em passos lentos. Produtores e moinhos agem com cautela, ainda verificando o real tamanho e a qualidade da produção brasileira e, assim, definir o preço e volume das propostas. No Paraná, há registro de negócios pontuais entre R$ 840,00 e R$ 850,00 por tonelada FOB na região de Campos Gerais. Os moinhos parecem estar descrentes na alta das cotações, mas isso deve ocorrer. No Rio Grande do Sul, o preço médio da comercialização continua estável há três semanas no patamar de R$ 750,00 por tonelada colocada em fábrica da região de Porto Alegre. Com esse nível de preço, os produtores privilegiam os trabalhos no campo. A atual colheita, ainda não finalizada, tende a registrar novas quebras, assim como nas temporadas anteriores. No Paraná, já é considerado quase certo um recuo de 37% ante as estimativas iniciais. O Departamento de Economia Rural (Deral/Seab) projeta que o Estado colha 2,177 milhões de toneladas. Até o dia 28 de outubro, 87% da área plantada já havia sido retirada das lavouras.
No Rio Grande do Sul, o cereal está em período crítico de desenvolvimento e as chuvas frequentes nas principais regiões de cultivo preocupam os produtores por acarretar em possíveis perdas de qualidade do cereal ainda plantado. Segundo a Emater-RS, a colheita alcançou 50% da área estimada para o Rio Grande do Sul. Além das dúvidas sobre a safra nacional, o receio aumentou quanto à oferta disponível pela Argentina, que contribui com 85% do volume total importado pelos moinhos brasileiros. A Bolsa de Cereais de Buenos Aires revisou, no dia 31 de outubro, a estimativa de produção do país de 19,8 milhões de toneladas para 18,8 milhões de toneladas, em virtude do estresse hídrico nas lavouras. A projeção inicial era de colheita de 21 milhões de toneladas. Contudo, a Associação Argentina de Trigo (Argentrigo) afirmou que a safra ainda será robusta, embora tenha sido afetada pela seca. Segundo a entidade, não há motivos para preocupação com o fornecimento de trigo.
Outro fator que preocupa a indústria moageira brasileira é uma possível mudança na política agrícola da Argentina, a partir da posse do novo governo federal em 10 de dezembro. Industriais brasileiros temem que a gestão do presidente Alberto Fernández, que tem Cristina Kirchner como vice-presidente, possa retomar a aplicação de retenciones (tarifas de exportação) sobre as vendas externas e que essa medida reflita em retração do volume disponível para exportação. Até o momento, os exportadores argentinos buscam tranquilizar os compradores brasileiros quanto à garantia de abastecimento, mesmo com mudança nas políticas de incentivo ao agronegócio. Pode haver alterações nas retenciones, mas isso afeta apenas o preço que o produtor recebe internamente, não o valor cobrado pelo produto. Além disso, a Argentina precisa vender o cereal para o Brasil, por isso é prioritário que as boas relações entre os dois países continuem. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.