21/Ago/2019
Os preços de trigo seguem em queda no mercado internacional. Nos Estados Unidos, nem mesmo a demanda mais firme pelo cereal do país e expectativa de estoque menor na temporada 2019/2020 conseguem dar sustentação aos valores. A pressão vem das menores cotações praticadas em países concorrentes, como Argentina, Austrália e União Europeia. No Brasil, o cenário é o oposto. Os valores internos têm subido com certa força em algumas regiões, influenciados pela possível menor oferta nesta safra. Na Região Sul do País, agentes já confirmam quebra de produção. Esse contexto somado à recente valorização do dólar e a indefinições políticas na Argentina deixam demandantes nacionais cautelosos. Por enquanto, acredita-se que estes compradores direcionem as aquisições no mercado doméstico. Segundo dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, a produção mundial de trigo da safra 2019/2020 é a maior já registrada, com 768 milhões de toneladas, 5,1% superior à da temporada anterior.
O aumento é resultado dos maiores volumes produzidos em quase todos os países, com exceção do Brasil e Cazaquistão, que devem reduzir suas ofertas em 2,4% e 6,8%, respectivamente. O consumo mundial do cereal deve ser maior na safra 2019/2020, a 758,1 milhões de toneladas, 3% acima da campanha anterior. A maior demanda é registrada, principalmente, por parte da Ucrânia e de países do Oriente Médio e China. Especificamente para os Estados Unidos, a procura pelo trigo também aumentou nos últimos meses, devido ao maior interesse dos países da América do Sul, como o Brasil. Neste contexto, as transações mundiais devem ficar acima das 182 milhões de toneladas na atual temporada. Do lado exportador, destacam-se Ucrânia, Argentina e Austrália com vendas externas 20,4%, 16% e 20% maiores. Do lado demandante, pode haver maiores importações por parte de Bangladesh, Indonésia e China. Quanto ao Brasil, por enquanto, deve adquirir volume levemente maior (+0,8%), a 7,5 milhões de toneladas.
Apesar da maior demanda, as cotações do trigo nas bolsas dos Estados Unidos estão mais fracas no correr deste ano, em consequência do aumento na produção do cereal e preços competitivos do milho daquele país, ambos os produtos são substitutos na formulação da ração animal e podem apresentar movimentos de preços parecidos. Entre 31 de dezembro de 2018 e 16 de agosto de 2019, por exemplo, o primeiro vencimento do trigo Soft Red Winter negociado na Bolsa de Chicago acumula queda de 6,5%. Na parcial de agosto, a baixa é de 3,4%. Na Bolsa de Kansas, o trigo Hard Red Winter, no mesmo comparativo, registra expressivas desvalorizações de 19,3% e de 6,7%, respectivamente. Com a disponibilidade de trigo no mercado spot bastante restrita, os moinhos estão atentos ao início da colheita da safra 2019/2020 e às ofertas pontuais de lotes remanescentes da 2018/2019. Desta forma, os preços no Paraná apresentam movimento rápido de recuperação e refletem, também, a posição firme de vendedores, que não cedem às propostas de compradores no mercado disponível.
Nos últimos sete dias, as cotações no mercado de balcão (preço pago ao produtor) registram recuo de 0,7% no Paraná e alta de 0,2% no Rio Grande do Sul. No mercado de lotes (negociações entre empresas), há elevação de 5,7% no Paraná e queda de 0,9% no Rio Grande do Sul. Segundo a Bolsa de Cereais de Buenos Aires, na Argentina, os importadores têm interesse em pagar, no Porto de Buenos Aires, US$ 210,90 por tonelada pelo grão, para entrega e pagamento em setembro/2019, contra US$ 212,68 por tonelada em agosto/2019. Segundo o Ministério da Agroindústria da Argentina, os preços FOB no Porto de Buenos Aires registram queda de 2,5% nos últimos sete dias, a US$ 237,00 por tonelada. Nos campos brasileiros, os produtores seguem atentos às condições das lavouras e, pontualmente, há relatos vindos do Paraná que reportam recebimento de pequenos volumes do cereal da nova temporada. No entanto, a qualidade destes primeiros lotes que é inferior, sendo as lavouras iniciais as mais afetadas pelas geadas.
Segundo o Departamento de Economia Rural (Deral/Seab), 60% das lavouras do Paraná apresentavam condições boas, 31%, médias e 9%, ruins até o dia 12 de agosto. Do total, 17% estão na fase de maturação, 41%, de frutificação, 18% floração e 24%, em desenvolvimento vegetativo. Segundo a Emater-RS, no Rio Grande do Sul, 94% das lavouras estão em fase de desenvolvimento vegetativo e 6%, em floração. Novamente, há destaque para a região de Ijuí, em que os cultivares apresentam excelente desenvolvimento, com lavouras uniformes e bom perfilhamento. Nos Estados Unidos, a colheita do cereal de inverno apresentou avanço de 7% frente à semana anterior e alcançou 89% da área total. Apesar do bom avanço, está 4% atrasado em relação ao mesmo período de 2018. Quanto às lavouras de primavera, apenas 8% foram colhidos. Na Argentina, o trigo se desenvolve bem, com condições hídricas favoráveis de acordo com as etapas de desenvolvimento das lavouras. No entanto, a falta de chuva, em alguns casos, começa a restringir a aplicação de fertilizantes. Fonte: Cepea. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.