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05/Ago/2019

Moinhos de trigo avaliam acordo entre Brasil e EUA

A indústria moageira nacional aguarda a divulgação de mais detalhes da negociação para um possível acordo bilateral entre Brasil e Estados Unidos, que incluiria a importação de trigo norte-americano sem Tarifa Externa Comum (TEC). Diretores de moinhos e lideranças do setor afirmam que, apesar de serem favoráveis à medida, consideram que as articulações ainda estão em fase inicial e que, antes de a negociação incluir aspectos comerciais sobre determinados produtos, as partes interessadas deverão ser consultadas pelo governo. Fontes próximas à negociação consideram que o acordo entre os dois países pode ser anunciado em outubro deste ano. O tratado deve incluir maior aquisição de açúcar e etanol brasileiros pelos Estados Unidos e aumento nas compras de trigo norte-americano pelo Brasil. Sobre o trigo adquirido de países de fora do Mercosul incide hoje Tarifa Externa Comum (TEC) de 10%, mais 25% de adicional ao frete para renovação da Marinha Mercante.

O Brasil importa cerca de 60% do trigo processado pela indústria moageira, ou 6,5 milhões a 7 milhões de toneladas por ano. Deste volume, 90% provêm da Argentina. Quanto à possibilidade de isentar de impostos o cereal dos Estados Unidos, os moinhos consideram que se trata ainda de especulação. Segundo a Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), é muito cedo para avaliar os impactos e pontos de cada setor porque ainda não há nenhuma base de negociação em andamento. Para o ex-embaixador do Brasil em Washington (EUA), a articulação entre os dois países é ainda incipiente e um eventual acordo deve ficar para depois da eleição presidencial norte-americana, que será realizada em novembro de 2020. A aproximação do Brasil com Estados Unidos é boa e pode dar resultados, mas há muito para ser debatido. A eventual retirada de impostos sobre o trigo norte-americano daria aos moinhos alternativa ao cereal argentino, e não necessariamente traria redução de custos.

Segundo o Sindicato da Indústria do Trigo do Estado de São Paulo, o interesse da indústria moageira é comprar o melhor grão com o menor preço. Seria mais uma alternativa de abastecimento para o Brasil, porque hoje o frete e a TEC limitam as compras de cereal de fora do bloco por encarecer o produto. Contudo, se medida for adotada, o ideal seria estabelecer um critério para que o cereal importado do Hemisfério Norte só chegasse ao mercado local durante a entressafra nacional, para não prejudicar o produtor brasileiro. Hoje, a maior parte do trigo norte-americano importado é adquirida por moinhos da Região Nordeste, em virtude da proximidade, o que se reflete nos custos de transporte, e das dificuldades de cabotagem para compra do cereal nacional. Os principais produtores brasileiros encontram-se na Região Sul do País, especialmente no Paraná e no Rio Grande do Sul. Os moinhos da Regiões Sul e Sudeste adquirem, principalmente, cereal dos produtores regionais e da Argentina, também pela proximidade.

A flexibilização não mudaria essa configuração de mercado, na opinião de industriais do setor. Essa normativa beneficiaria as fábricas das Regiões Norte, Nordeste e talvez algumas da Região Sudeste em função da regionalização. Segundo o Sindicato da Indústria do Trigo do Estado do Paraná, para os moinhos da Região Sul não é só a questão do preço que impacta, a logística também pesa. O tempo de chegada do produto dos Estados Unidos supera em cinco dias o cereal argentino. O Estado tem a maior produção e o maior parque moageiro nacional, respondendo por 27% da moagem de cereal no País. Por ano, o Paraná, com suas 67 indústrias, processa 3,4 milhões de toneladas em grão. A produção nacional e do Paraguai e da Argentina, suprem a necessidade da indústria moageira do Paraná. Os moinhos da Regiões Sul e Sudeste compram trigo norte-americano para mescla na panificação e para produção de tipos específicos de farinha.

Para essas compras de cereais especiais a isenção de impostos seria vantajosa. No geral, mesmo sem imposto, é difícil o cereal dos Estados Unidos ganhar do preço da Argentina ou local. Na outra ponta, os moinhos da Região Nordeste se animam com as cargas norte-americanas livres de impostos de importação, mas atentam para uma limitação da medida em virtude dos dispositivos do Mercosul e por uma reação contrária da Argentina. Os industriais acreditam que a Argentina possa questionar o acordo bilateral e, especialmente, a isenção de impostos de um produto que é chave para sua balança comercial. Segundo um importador de moinho localizado na Região Nordeste, o fator que limita a aquisição de um volume maior cereal dos Estados Unidos é o valor final do produto com impostos, porque a logística favorece a compra do cereal norte-americano.

Para os moinhos da Região Nordeste, a liberação seria muito bem-vinda. Hoje, para a indústria local já é mais barato comprar cereal dos Estados Unidos pelo custo logístico. O lote norte-americano está saindo em torno de US$ 202,00 por tonelada FOB no Porto do Golfo do México, enquanto o argentino gira em torno de US$ 235,00 por tonelada FOB no Porto de Rosário. Alguns industriais apontam também que a medida poderia reduzir o preço da farinha e seus derivados ao consumidor final, por diminuir a dependência de importação de cereal argentino. No auge da entressafra brasileira, quando a Argentina já escoou o excedente, os produtores elevam os preços, o que obriga a indústria nacional a comprar por um preço mais elevado e, consequentemente, aumenta os preços na gôndola dos supermercados. A produção nacional não estaria prejudicada por já ter mercado cativo. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.