22/Dec/2025
A indústria da soja e biodiesel, abrangendo desde os insumos e a produção rural até a industrialização, responde por cerca de 7% do PIB brasileiro. Suas perspectivas e desempenho, portanto, devem ser do interesse de toda a sociedade. Para 2026, os temas mais relevantes são: a situação econômica do produtor rural, os riscos da recuperação judicial, a progressão do teor de biodiesel no diesel e suas relações com o esmagamento de soja, a tributação (revisão de incentivos fiscais e reforma tributária) e questões de logística. Há um consenso de que as margens da soja, do milho e do algodão estão em patamares baixos. Com base em eventos e relatórios setoriais, conclui-se que produtores que combinam elevada proporção de arrendamento com alto nível de alavancagem deverão sair do negócio.
Aqueles com menor custo de arrendamento e menor alavancagem conseguem atravessar este período de baixas margens por meio de reestruturação, enquanto os produtores com baixos custos e baixo endividamento estão prontos para crescer. Alguns analistas afirmam que haverá uma consolidação na produção rural, fruto das margens apertadas em 2026 e da provável continuidade desse cenário em 2027. Essa situação, combinada com altas taxas de juros no Brasil, torna o mercado de crédito bancário e o mercado de capitais, hoje fundamentais para o financiamento rural, mais seletivos. Esse movimento indica que deverá ocorrer uma reestruturação combinada com consolidação no setor. O mercado de commodities agropecuárias é volátil: se hoje está ofertado e em baixa, esteve demandado e em alta entre 2021 e 2023.
O patamar atual de preços, somado ao câmbio e aos juros, lembra o ano de 2015. Naquela ocasião, os preços e as margens já apresentaram melhoria em 2016. Atualmente, porém, a ponte para preços melhores parece mais longa. Ainda que os preços devam subir quando o mercado voltar a ficar demandado, é preciso atravessar o momento de margens baixas com disciplina financeira, controle de custos, desmobilização e apoio de parceiros financeiros. O assunto dominará os debates em 2026. Embora surjam propostas tentadoras e cobranças sobre o governo, a verdade é que, na soja, no milho e no algodão, é o capital privado que tem maior relevância no financiamento. A saída será fazer o “básico bem-feito”. Renegociações são necessárias, e os parceiros comerciais e financeiros colaborarão com quem demonstrar disciplina e controles.
O segundo tema central será o das recuperações judiciais (RJs), sobretudo na etapa de produção agropecuária. As margens baixas podem estimular advogados a captar produtores rurais para esses processos, e os juízes podem estar politicamente mais inclinados a acatar os pedidos. Em momentos difíceis, cresce a tendência de flexibilidade com o devedor. No entanto, as RJs geram um efeito de contração econômica, pois tornam os credores mais conservadores e exigentes. Ou seja, o sistema financeiro e os parceiros comerciais ficarão ainda mais seletivos justamente quando o produtor mais precisa de apoio. Quanto ao crescimento do processamento de soja e a consequente produção de farelo, óleo e biodiesel, a demanda pelo biocombustível é o principal motor.
A recuperação do teor de mistura no governo Lula, que subiu de 10% para 15% em agosto deste ano, provocou um ciclo virtuoso de novos investimentos em esmagadoras. Com isso, crescem o volume processado e a capacidade instalada. A Lei do Combustível do Futuro autorizou metas de até 25% de mistura, condicionadas a ensaios de viabilidade técnica. Para elevar o teor para 16% em 2026, mantendo a trajetória atual, é preciso realizar esses ensaios no próximo ano. Após os testes, o Ministério de Minas e Energia (MME) poderá recomendar o aumento ao Governo Federal. A criação de um comitê amplo com diversos stakeholders para definir os ensaios dá credibilidade à aprovação de teores acima de 15%, mas impõe um desafio de calendário.
Como representante dos produtores de biodiesel, vejo benefícios claros na substituição de fósseis e na maior produção de farelo de soja para o mercado de alimentos, mas o cronograma me preocupa. Nosso papel em 2026 será apoiar o governo para que os ensaios sejam feitos com qualidade e eficiência, garantindo segurança para o novo aumento. Na área tributária, 2026 marca o início da transição para a CBS, imposto que substituirá o PIS e Cofins. Atualmente, a agroindústria utiliza um sistema de crédito presumido de PIS/Cofins para compensar créditos que o produtor rural não consegue monetizar. Esse mecanismo promove a adição de valor ao produto agropecuário. Com a CBS, esse crédito presumido deixa de existir de forma ampla a partir de 2028. Contudo, um projeto de lei votado no Congresso vai reduzir os incentivos fiscais em 10% já em 2026.
A discussão sobre eliminação de incentivos é antiga no Brasil. A antecipação desse processo, ignorando o cronograma definido na Reforma Tributária, é muito negativo para as margens da agroindústria e da indústria de insumos. Por fim, destaca-se a discussão sobre a Ferrogrão. A ANTT finalizou os estudos e enviará o projeto de concessão ao TCU. Após a análise do tribunal, o projeto estará pronto para ser colocado em concessão. É necessário, contudo, concluir o debate no STF sobre os limites do Parque Nacional do Jamanxim para garantir a construção na faixa de domínio da BR163. O ano de 2026 traz um desafio adicional: é ano de eleições. Já entraremos no ano trabalhando para que nosso setor seja conhecido e tenha sua importância valorizada por todos os candidatos. Fonte: André Meloni Nassar. Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove). Broadcast Agro.