09/Dec/2025
Segundo a consultoria NoBullAg, cinco semanas depois de Estados Unidos e China anunciarem publicamente um acordo para a China comprar soja dos Estados Unidos, nenhuma confirmação oficial foi divulgada pelo governo chinês e não há clareza sobre quando, ou mesmo se, o compromisso será formalizado. O mercado perdeu a paciência com as declarações imprecisas vindas de autoridades norte-americanas. Há um descompasso entre o discurso político e os números efetivos de vendas. A controvérsia ganhou força na semana passada, após a participação do secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Scott Bessent, em uma entrevista ao New York Times. Questionado sobre o volume de soja efetivamente vendido à China, Bessent citou que o país estaria "no caminho" para cumprir a meta de 12 milhões de toneladas até fevereiro, dois meses após o prazo original divulgado no fim de outubro.
A fala, porém, teria ignorado o ponto central: não há vendas suficientes para sustentar essa projeção. A falta de clareza pesou sobre a Bolsa de Chicago. A soja encerrou a semana passada com a pior perda semanal em três meses, pressionada pelo recuo do farelo de soja, pela volatilidade cambial e pela ausência da China no mercado norte-americano. As expectativas criadas pelo anúncio de outubro já não encontram suporte em números concretos. O câmbio teve impacto direto no mercado. O Real caiu 2,3% na sexta-feira (05/12), e isso barateou a soja brasileira em dólares, deixando o produto do Brasil mais atrativo para o comprador internacional. Quando isso acontece, os Estados Unidos perdem espaço, porque sua soja fica relativamente mais cara.
Mesmo com a queda de US$ 0,14 por bushel na Bolsa de Chicago, o preço para o produtor brasileiro subiu em Reais no dia. Isso ocorreu porque a desvalorização do Real foi mais forte do que a queda na Bolsa de Chicago. Flutuações dessa magnitude mudam fluxos comerciais. Com o câmbio ajudando, o produtor brasileiro tende a vender mais, aumentando a oferta para exportação e pressionando os prêmios nos portos. No acumulado de 2025, porém, o Real ainda está 13,7% mais forte contra o dólar. Esse movimento anulou, em Reais, os ganhos de cerca de 9% dos futuros de soja na Bolsa de Chicago desde meados de outubro. Na prática, o preço interno da soja ficou equivalente a US$ 0,40 por bushel mais baixo nas regiões produtoras, mantendo a margem do produtor brasileiro relativamente estável ao longo do ano.
O dólar também vive fase de fraqueza. O índice da moeda norte-americana caminha para a maior queda anual desde 2003, recuando perto de 9,5%. A expectativa de cortes de juros nos Estados Unidos, o crescimento mais lento da economia e incertezas fiscais reduziram o apetite de investidores pelo dólar. O comportamento do câmbio no segundo mandato de Donald Trump é praticamente igual ao observado no primeiro, com queda acumulada de cerca de 8% desde a posse. A soja continua procurando compradores e o mercado está cada vez menos disposto a sustentar altas sem evidências concretas de que a China voltará ao mercado norte-americano. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.