12/Nov/2025
Passadas duas semanas após o anúncio do pacto comercial entre Estados Unidos e China, o comportamento do mercado indica que o fator preço continua determinante nas decisões chinesas. As tradings do país asiático seguem comprando soja do Brasil, mesmo com o acordo em vigor, reforçando a competitividade brasileira.
A China adquiriu entre 20 e 25 navios de soja brasileira para embarque em dezembro, ampliando o total recente para cerca de 20 carregamentos adicionais nas últimas 24 horas. A soja do Brasil está US$ 0,50 por bushel mais barata que a norte-americana para embarques de janeiro e chega a custar US$ 1,20 a US$ 1,30 por bushel menos entre março e maio. Com a tarifa chinesa total de 13% sobre a soja dos EUA (sendo 10% extras retaliatórios e 3% básicos), o custo final norte-americano fica cerca de US$ 44 por tonelada (US$ 1,20 por bushel) mais caro. Assim, a soja dos EUA chega à China US$ 2,20 a US$ 2,40 por bushel acima da brasileira.
Em outubro, a China importou 9,482 milhões de toneladas de soja, alta de 17,2% frente a igual mês de 2024 (8,09 milhões). O valor desembolsado somou US$ 4,36 bilhões, aumento de 11,2%. No acumulado de janeiro a outubro, as importações atingiram 95,68 milhões de toneladas (+6,4%) e US$ 42,68 bilhões (-6,2% em valor), reforçando a predominância brasileira nas compras.
O acordo comercial divulgado pelo governo norte-americano prevê que a China compre 12 milhões de toneladas até o fim de 2025 e 25 milhões anuais entre 2026 e 2028. No entanto, o compromisso é apenas em “compra”, não em “embarque”. Parte dos volumes pode se referir a contratos futuros na Bolsa de Chicago, sem movimentação física de grãos, o que dificulta a verificação.
A janela logística também limita o avanço americano: a China precisa de cerca de 6 semanas entre a compra e o embarque, e com novembro e parte de dezembro já comprometidos por compras no Brasil, restaria apenas a segunda metade de dezembro para exportações norte-americanas. Analistas estimam que essa oportunidade se restrinja a 4 a 6 milhões de toneladas, antes da entrada da nova safra brasileira em fevereiro de 2026.
No mercado interno dos EUA, o estoque final é estimado entre 7 e 7,6 milhões de toneladas, com preços projetados em US$ 11,50 a US$ 11,75 por bushel para março, enquanto a média esperada na fazenda deve girar em torno de US$ 9,75 por bushel diante de uma relação estoque/uso superior a 11%. As inspeções até o fim de novembro devem ficar entre 8,2 e 8,7 milhões de toneladas, abaixo do mesmo período do ano anterior.
No lado brasileiro, as exportações continuam firmes. Somente na última semana, o país embarcou 1,5 milhão de toneladas, sinalizando que a safra 2024/2025 pode ter sido maior do que os 169 milhões de toneladas estimados oficialmente. Com condições climáticas favoráveis, a produção atual pode atingir 180 milhões de toneladas ou mais, reforçando a posição do Brasil como principal fornecedor mundial.
Mesmo após o corte pela metade das tarifas chinesas sobre a soja norte-americana — de 20% para 10% —, o produto dos EUA ainda é mais de US$ 1,00 por bushel mais caro que o brasileiro no porto chinês. Assim, apenas as estatais chinesas devem efetuar compras nos EUA, enquanto os esmagadores privados continuarão optando pela soja brasileira, mais competitiva e disponível durante todo o ano-safra.
A combinação de preços mais baixos, logística favorável, oferta abundante e tarifas ainda vigentes mantém o Brasil como origem preferencial da soja chinesa. A vantagem de até US$ 2,40 por bushel e a capacidade de suprir o mercado até julho de 2026 consolidam o país como líder absoluto nas exportações globais de soja, enquanto os Estados Unidos enfrentam custos mais altos, margens reduzidas e uma janela de exportação cada vez mais estreita.
Fonte: Carlos Cogo - Cogo Inteligência em Agronegócio.