03/Nov/2025
Segundo o BTG Pactual, o acordo comercial entre Estados Unidos e China sobre compras de soja é "mais simbólico do que efetivo", sem garantias de execução imediata, e a soja brasileira deve manter vantagem competitiva até o segundo trimestre de 2026, quando chegam aos portos os grãos da nova safra. A recomendação é de que os produtores vendam nas altas, pois o mercado se aproxima de um topo e a continuidade do rali depende de demanda física que ainda não se materializou. As supostas compras de soja anunciadas após o encontro entre Donald Trump e Xi Jinping geraram forte oscilação nos mercados, mas permanecem envoltas em incerteza. Embora autoridades norte-americanas tenham sugerido que a China se comprometeria a adquirir até 12 milhões de toneladas no curto prazo e 25 milhões de toneladas por ano pelos próximos três anos, não houve clareza sobre prazos, cronogramas de embarque ou sequer se o acordo se refere ao ano comercial ou ao ano civil.
A falta de detalhes concretos, somada à ausência de tratado formal e vinculante, leva o BTG a julgar o anúncio como mais simbólico do que efetivo, um gesto político sem garantias de execução imediata. No curto prazo, o impacto depende da interpretação: se o volume for adicional, os estoques norte-americanos caem para menos de 9 milhões de toneladas (altista); se não for adicional, sobem acima de 14 milhões de toneladas (baixista). Além disso, o cenário logístico chinês torna a concretização dessas compras ainda mais duvidosa, já que o país adquiriu grandes volumes de soja da Argentina e do Brasil semanas antes, o que limitaria fisicamente a capacidade de absorção de novos embarques norte-americanos no curto prazo. A ausência de redução clara das tarifas sobre a soja dos Estados Unidos, estimadas entre 13% e 17%, mantém o produto norte-americano pouco competitivo frente à América do Sul.
No acordo "Fase 1" de 2020, a China cumpriu apenas 58% do prometido. O novo pacto é mais transparente (definido em volume, não em dólares), mas ainda suscita dúvidas quanto ao seu cumprimento efetivo. Igualmente, em 2018, durante encontro do G20 na Argentina, a China se comprometeu a retomar as compras de soja norte-americana, mas quando os dados voltaram a ser divulgados, a realidade descortinada foi de um volume ínfimo de compras por parte da China. As esmagadoras chinesas enfrentam prejuízos após adquirirem volumes recordes de soja brasileira a preços elevados. Com margens comprimidas, os compradores reduziram novas aquisições para os embarques de dezembro e janeiro, apostando em possíveis quedas de preço, liberação de estoques governamentais ou reabertura para soja norte-americana. A relação comercial Brasil-China, até então estável, mostra sinais de desgaste.
Os compradores chineses teriam se unido para exigir preços menores no Brasil e até pressionado o governo argentino a suspender temporariamente o imposto de exportação para ganhar poder de barganha. Nas redes sociais chinesas, o tom foi de forte crítica ao Brasil, considerado "ingrato", "traidor" e "míope" ao elevar preços. No Brasil, margens industriais enfraquecidas e estoques baixos ampliam a dependência da próxima safra. O clima segue crucial para a definição do tamanho da safra brasileira 2025/2026 e timing de envio à China. Embora o Brasil deva colher outra safra recorde a partir de janeiro, o fluxo efetivo de exportações para a China tende a se concentrar apenas a partir do segundo trimestre, quando os novos grãos chegam aos portos. Até lá, o mercado deve continuar volátil, com foco nas margens de esmagamento e na competitividade entre as origens. O momento é propício para a realização de lucros e venda nas altas, pois o mercado se aproxima de um topo. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.