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29/Oct/2025

Preços da soja estão travados no mercado interno

O desafio de interpretar altas que não se convertem em preço. Em apenas dois dias, a soja acumulou alta de US$ 0,45 por bushel na Bolsa de Chicago, um salto expressivo alimentado pela euforia em torno de um possível acordo comercial entre Estados Unidos e China. O movimento, porém, tem mais de expectativa do que de fundamento. O mercado reagiu às declarações de Donald Trump, que falou em uma “boa chance” de entendimento com Pequim, mas até agora as principais tradings chinesas não externaram interesse em comprar soja norte-americana, o que revela um otimismo sem lastro na demanda real. Nos bastidores, há um movimento crescente de cotação de afretamento e contratação de seguro de carga, antecipando possíveis embarques. É o típico comportamento de momentos de incerteza, quando o sentimento fala mais alto que os fundamentos.

O mercado se adianta, mas ainda não há confirmação efetiva de compra, até porque não existe garantia de acordo. E precisamos lembrar de uma das premissas mais antigas e verdadeiras do mercado: compre rumores e venda fatos. Mesmo que o entendimento avance, tudo indica que a China poderia adquirir entre 10 e 12 milhões de toneladas de soja norte-americana, volume suficiente apenas para cobrir necessidades imediatas, até fevereiro, quando a nova safra brasileira entra em cena e volta a ocupar os portos asiáticos. Esse movimento, portanto, por si só não mudaria o jogo estrutural, apenas antecipa parte de uma demanda que naturalmente retornará ao Brasil no início do próximo ano, com prêmios ainda mais pressionados, especialmente após a retirada de muitas tradings das posições de safra velha e nova. Enquanto isso, o mercado interno observa a alta externa sem reação proporcional. O indicador nacional da soja subiu apenas 0,24%, e o do milho 0,08%.

O câmbio recuou para R$ 5,37, neutralizando parte do impulso de Chicago. A formação de preço no Brasil segue travada por fatores internos: prêmios comprimidos, volatilidade cambial, custos logísticos crescentes e pouca disposição de venda nas indústrias. Esse contraste entre o entusiasmo especulativo americano e a cautela brasileira reforça uma verdade essencial: alta em Chicago não significa automaticamente alta no bolso das famílias produtoras. Nos Estados Unidos, a colheita está em ritmo avançado, mas ainda sem dados oficiais do USDA, que permanece em shutdown. Mesmo assim, eu observo que casas privadas estimam cerca de 84% da soja e 73% do milho já colhidos, números levemente abaixo do ritmo do ano passado. É um cenário que exige atenção, pois a ausência de relatórios oficiais obriga o mercado a se apoiar em informações de consultorias e levantamentos independentes, o que naturalmente adiciona ruído e incerteza à precificação.

No Brasil, o plantio da safra 2025/2026 segue em avanço, com aproximadamente um terço da área de soja já semeada e o milho verão se aproximando da metade da área estimada no Centro-Sul. As condições climáticas, embora favoráveis em boa parte das regiões, ainda trazem pontos de atenção no Centro-Oeste, onde a irregularidade das chuvas e o calor exigem cautela. Esse contraste entre o avanço do plantio no Brasil e a colheita nos Estados Unidos mostra como o mercado global opera em ciclos opostos, mas interligados, influenciando diretamente o humor das cotações. A leitura é clara: nem toda alta é real e concreta, muitas são apenas oportunidades disfarçadas. O mercado se move por expectativas, mas o resultado financeiro depende de quem sabe separar o ruído da tendência, interpretar o tempo de decisão e agir com estratégia.

Mitigar risco não é custo, é proteção de margem. No agro, o risco não é somente sobre o clima, é sobre a leitura errada dos sinais que estão dentro e fora do radar. E, como sempre digo, dinheiro não aceita desaforo. As famílias produtoras e as empresas do agronegócio que internalizam esse conceito compreendem que gestão de risco é o que separa quem reage de quem antecipa. O mesmo vale para cooperativas, tradings, agroindústrias e todos os elos da cadeia: o desafio não é apenas produzir ou comercializar, mas decidir com clareza em meio à incerteza. A excelência no agro está nos detalhes, e é nesses detalhes que mora a rentabilidade, a sustentabilidade e a longevidade de cada negócio. O mercado recompensa quem lê antes, age com método e mantém coerência entre estratégia e execução. No fim, o resultado não vem do acaso, mas da inteligência aplicada à gestão. Fonte: Andrea Cordeiro. Fonte: Broadcast Agro.