27/Oct/2025
Ao chegar ao aeroporto de Santa Rosa, capital da província de La Pampa, entende-se por que a região é conhecida como o coração agrícola da Argentina: a poucos metros da pista de pouso, centenas de bois, vacas e bezerros pastam tranquilamente. Ao sobrevoar a região, é possível enxergar a extensão de pastos e cabeças de gado. Estimativas indicam haver quase 10 cabeças de gado para cada habitante da província, onde vivem 361 mil pessoas. Ali, o campo é espinha dorsal da economia. “Se o campo vai bem, a província vai bem”, definiram tanto o diretor da agência de comércio quanto o presidente dos produtores rurais de La Pampa. E a província tem ido bem porque o setor agroexportador é, nos últimos dois anos, o maior beneficiado pelas políticas do presidente Javier Milei. Logo ao assumir o governo, Milei emitiu um decreto que enfureceu os produtores. Ao contrário de tudo o que pregava como libertário na campanha eleitoral, o presidente aumentou os impostos.
Com o tempo, a estabilização do dólar, o controle da inflação e a queda de alguns impostos deixaram os fazendeiros mais aliviados, porque trouxeram um elemento essencial para quem exporta: previsibilidade. A Argentina tem mais de um tipo de cotação do dólar. Tem o dólar para exportador, para turista, para cartão de crédito, entre outros. Antes das políticas de Milei, o dólar do mercado paralelo (popularmente conhecido como dólar blue) chegava a valer o dobro do oficial. Segundo a Associação Agrícola Pecuarista de La Pampa, havia o custo de semeadura em dólar paralelo, por exemplo, e por outro lado, a venda do cereal a um dólar oficial. Então, a inflação controlada e o dólar estabilizado são um alívio para quem produz e significa previsibilidade, mas o setor ainda continua com uma grande carga tributária. Nos primeiros cinco meses deste ano, considerados os mais importantes por ser a época da colheita, a atividade agropecuária cresceu 3,1% na comparação com o mesmo período do ano passado.
É um avanço, mas ainda está 1,2% abaixo de 2022. O ano de 2023 é desconsiderado por causa da enorme seca na região. O crescimento é puxado pelas plantações de grãos, principalmente soja, milho, trigo e girassol. Além da agropecuária, a indústria petroquímica e automotiva, também impulsionaram os números de exportações da Argentina no primeiro semestre deste ano. A produção de carne e couro bovino aparece como sexto nesse ranking. Segundo as Confederações Rurais Argentinas, existe um princípio de melhorar. O governo atual tem uma visão mais pró-mercado do que o anterior, e isso, em princípio, seria o caminho para favorecer a exportação agrícola. A agropecuária e agroindústria são os motores da economia argentina, responsável por cerca de 1/4 do PIB do país. E foi a sua recuperação, em 2024, a responsável por evitar uma queda maior do Produto Interno Bruto naquele ano. Os exportadores estão mais positivos, primeiro por uma questão produtiva, eles vêm há vários anos com um crescimento muito forte, precisamente pela sua produtividade.
O controle do câmbio, a liberação do chamado "cepo", o controle para compra de dólares, e uma leve queda nos impostos, ajudaram o agro a retomar certa competitividade, embora ainda estejam longe de alcançar o mercado brasileiro, por exemplo. Essa combinação de fatores explica por que esses setores vêm mostrando um crescimento sustentado, inclusive desde a gestão anterior. Mas, os produtores dizem ter chegado a um teto, porque a carga de impostos ainda é muito alta. Nos governos de Alberto Fernández e Cristina Kirchner, mais de 70% da renda agrícola ficava com o Estado argentino. Hoje, esse valor está em 63%. Ou seja: de cada 100 pesos, 65 são levados pelo Estado. Fica muito difícil produzir na Argentina, diz a Associação Agrícola Pecuarista de La Pampa. Se por um lado os exportadores de grãos e criadores de gado primário estão felizes, a agroindústria, caso dos frigoríficos, está sofrendo por causa do aumento dos custos internos.
A forte desvalorização do peso promovida por Milei em dezembro de 2023, ao assumir, ajudou a diminuir as enormes disparidades de câmbio entre as diferentes cotações de dólares. No entanto, acelerou um outro fenômeno: a inflação em dólares. Quem lida com serviços internos cotados na moeda norte-americana tem visto um aumento cada vez maior, que não aparece nos informes de inflação regular. Segundo a Agência de Investimentos e Comércio Exterior (I-Comex) de La Pampa, isso significa que os custos da agroindústria em dólares aumentaram, e seus rendimentos em dólares em alguns casos diminuíram ou, se tiveram sorte, permaneceram constantes, principalmente para quem exporta. Com isso, vários frigoríficos do país, mas especialmente da região pampeana, anunciaram demissões, férias coletivas e dívidas. Quase 2 mil empregos estão em risco em La Pampa por causa da crise. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.