23/Oct/2025
Segundo o Itaú BBA, a valorização do Real e a queda das cotações na Bolsa de Chicago podem levar o preço da soja no Brasil para menos de R$ 100,00 por saca de 60 Kg em 2026. Esse cenário é especialmente preocupante, já que os custos de produção foram formados com base em um câmbio mais elevado, entre R$ 5,60 e R$ 6,00 por dólar, e relação de troca desfavorável. Como resultado, há risco de compressão significativa das margens operacionais dos produtores. A comercialização da safra 2025/2026 segue lenta, abaixo da média dos últimos cinco anos, reflexo dos preços baixos e da volatilidade cambial. Até o fim de setembro, apenas 23% da safra foi negociada, contra 32% da média histórica e 28% do mesmo período de 2024. Isso representa cerca de 40 milhões de toneladas de uma safra potencial de pelo menos 175 milhões de toneladas. Caso Brasil e Argentina tenham boas colheitas, o balanço global de oferta e demanda seguirá bem abastecido, e o mundo renovará novamente o recorde de oferta.
Apesar de toda a volatilidade esperada para os componentes de formação do preço da soja no Brasil, diante do cenário-base do banco, que considera um novo recorde de produção de soja e continuação do embate Estados Unidos e China, a menos que haja alguma quebra de safra que não está no radar nesse momento, está mantida a visão de preços pressionados e margens menores para o produtor brasileiro na safra 2025/2026. O plantio no Brasil segue à frente da média de cinco anos, mas desacelerou em relação às máximas observadas até o início de outubro. Cerca de 22% da área projetada foi plantada até o momento, contra 18% do ano passado. Dos principais Estados produtores, Paraná e Mato Grosso estão mais adiantados, com 39% e 40%, respectivamente, das áreas plantadas. O cenário climático no Brasil continua marcado por irregularidades, com chuvas ainda ocorrendo de forma espaçada na região central.
No entanto, espera-se que a chegada de frentes frias nas próximas semanas traga volumes mais expressivos e melhor distribuição das precipitações, especialmente nas Regiões Sudeste e Centro-Oeste. No Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), os acumulados ainda são insuficientes para sustentar o avanço do plantio, com previsão de estabelecimento definitivo do regime de chuvas a partir da primeira semana de novembro. As projeções climáticas indicam a ocorrência de um fenômeno La Niña de fraca intensidade e curta duração, com pico previsto entre novembro e dezembro, seguido por uma transição para a neutralidade no primeiro trimestre de 2026. Esse cenário favorece, de forma geral, a safra de verão (1ª safra 2025/2026) no Brasil, embora haja preocupação com uma possível redução das chuvas no extremo sul do País durante o pico do fenômeno em dezembro. O mercado permanece estável, com perspectivas climáticas positivas para o Brasil e para a Argentina.
A tensão comercial entre Estados Unidos e China deve manter a demanda pela soja da América do Sul, sobretudo o grão do Brasil, bastante aquecida. Em um cenário de zero compras de soja dos Estados Unidos pelos chineses, a chegada de soja na China na virada do ano será menor, o que pode resultar em preços mais altos para o farelo de soja e margens de esmagamento maiores por lá, o que manteria as compras chinesas em grandes volumes, favorecendo os prêmios de exportação no Brasil. Por outro lado, nos Estados Unidos, sem as compras da China, será necessário revisar as exportações ainda mais para baixo, uma vez que os destinos não-China não estão dando conta de absorver os volumes que iriam para o país asiático. O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) tem aumentado a demanda interna norte-americana, elevando o esmagamento, porém esse número está próximo do limite. O governo do país aumentando os incentivos à produção de biocombustíveis para absorver a maior parte da produção doméstica.
Há espaço para a redução da produção de soja nos Estados Unidos, diante de alguns reportes de colheita com áreas performando abaixo da expectativa no Meio Oeste. Entretanto, com a redução dos embarques, há a possibilidade de revisão para cima do estoque final norte-americano. Tudo isso seria baixista para as cotações na Bolsa de Chicago. Há a expectativa de que os presidentes dos Estados Unidos e China se encontrem no final do mês na Coreia do Sul para novas negociações sobre tarifas. Os últimos acontecimentos envolvendo os dois países mantêm boa parte do mercado cético em relação a um acordo sobre a compra de grãos, apesar de isso não estar descartado. Em caso de acordo, a situação para a soja será diferente, com possibilidade de valorização na Bolsa de Chicago, ainda que de forma limitada, e desvalorização dos prêmios no Brasil, se a safra brasileira estiver indo bem. Mas, o mercado segue cético sobre um desfecho positivo. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.