22/Oct/2025
Os donos do Grupo Safras pediram à Justiça de Mato Grosso a substituição do interventor judicial que comanda a empresa desde setembro. Em petição protocolada na segunda-feira (20/10), os fundadores Dilceu Rossato e Pedro de Moraes Filho alegam que o advogado Emmanoel Alexandre de Oliveira age de forma autoritária, não presta contas e tomou decisões que prejudicaram a defesa do principal ativo do grupo: uma fábrica de processamento de soja em Cuiabá (MT). O caso mais grave, segundo o documento assinado pelo advogado Felipe Iglesias, ocorreu em 7 de outubro. Naquela data, o interventor destituiu às pressas o advogado Saulo Gahyva, que cuidava do recurso sobre a fábrica de Cuiabá, um dia antes do prazo final para recorrer ao Superior Tribunal de Justiça.
O novo advogado nomeado apresentou, em 8 de outubro, um recurso de apenas 8 páginas, em comparação com 27 páginas da peça que já estava pronta e à disposição do interventor. Segundo os fundadores, a troca precipitada pode levar à rejeição do recurso por problemas técnicos, como falta de pagamento das custas processuais no prazo. A fábrica de Cuiabá responde por dois terços da receita do Grupo Safras e foi retomada pela Carbon Participações em julho, depois que a recuperação judicial foi suspensa. O ativo está arrendado para a Paranapec. Os fundadores tentam reverter a perda na Justiça. O Grupo Safras é um conglomerado de armazenagem e processamento de grãos em Mato Grosso comandado por Dilceu Rossato, ex-prefeito de Sorriso, e Pedro de Moraes Filho.
A empresa entrou em recuperação judicial em maio com dívidas de R$ 1,78 bilhão e cerca de 900 credores, entre eles Banco do Brasil (R$ 303,6 milhões), Sicoob Credisul (R$ 92,7 milhões), cooperativas de crédito e centenas de produtores rurais que entregaram soja ou venderam insumos ao grupo. A recuperação foi deferida em 20 de maio pela juíza Giovana Pasqual de Mello, da 4ª Vara Cível de Sinop. Dez dias depois, porém, a Justiça suspendeu o processo ao identificar indícios de irregularidades. A principal foi a participação dos donos em um fundo de investimento que, ao mesmo tempo, era credor do grupo em R$ 299 milhões. Segundo a desembargadora Marilsen Andrade Addario, do Tribunal de Justiça de Mato Grosso, isso caracterizou conflito de interesses.
A desembargadora citou em sua decisão que Rossato e Moraes declararam à Receita Federal participações de R$ 25 milhões cada no Bravano FIDC, fundo de recebíveis estruturado pela Flow Gestora de Crédito. Ela também mencionou operação em que a Safras vendeu um título de R$ 2 milhões ao fundo por apenas R$ 160,6 mil, com recompra prevista em 113 dias pelo valor integral. "Os bens usados como palco do litígio passam, de forma direta, para as mãos dos cotistas, exatamente os mesmos que controlam, ao mesmo tempo, o credor e a devedora", escreveu a magistrada. Sem a proteção da recuperação judicial, o Grupo Safras começou a perder bens para credores: a fábrica de Cuiabá, cinco colheitadeiras avaliadas em R$ 14 milhões arrestadas pela Agropecuária Locks, e armazéns em Porto dos Gaúchos que voltaram aos arrendadores.
Em setembro, a desembargadora nomeou o interventor judicial, um profissional que assume temporariamente a gestão da empresa para organizar a situação financeira e evitar mais perdas. Na mesma decisão, ela suspendeu execuções contra o grupo por 180 dias, período conhecido como "stay period". A medida deveria dar fôlego para que o interventor apresentasse um plano de reorganização. Paralelamente, há uma disputa pelo controle do Grupo Safras. Em julho, o fundo de investimento Agri Brazil Special Situations (ligado à AM Agro e gerido pela Yards Capital) assumiu 60% da empresa pagando R$ 100 mil, com base em um contrato de opção assinado em 2024 com os fundos Axioma e Alcateia. Os fundadores alegam que foram forçados a aceitar o acordo e pedem a anulação na Justiça, argumentando que o contrato previa aporte de R$ 400 milhões que nunca foi realizado.
Essa disputa será decidida por um tribunal arbitral privado, conforme cláusula prevista no contrato. Na petição de segunda-feira (20/10), os fundadores pedem que a desembargadora devolva o comando da empresa a eles, mantendo um fiscal nomeado pela Justiça para supervisionar a gestão. Se isso não for possível, pedem a troca do interventor. No mínimo, querem que ele apresente um plano de trabalho detalhado em 48 horas, sob pena de destituição, e que os sócios minoritários passem a ser convocados para participar das decisões estratégicas, com aviso prévio de 72 horas. "Nenhuma reunião foi convocada para ouvir os sócios ou traçar estratégias conjuntas. O que não se pode admitir é que a intervenção judicial, criada para preservar a empresa, se torne ela própria um fator de risco e desestabilização", afirma o documento. Fonte: Broadcast Agro.