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08/Oct/2025

EUA: possíveis impactos da ajuda aos produtores

O pacote de compensação financeira estimado entre US$ 10 bilhões e US$ 15 bilhões que o governo dos Estados Unidos deve anunciar para produtores de grãos afetados pela guerra tarifária com a China tende a reduzir a pressão de venda de soja no curto prazo e pode adicionar volatilidade aos preços globais da oleaginosa. Analistas divergem sobre os efeitos da medida, mas convergem em um ponto: o impacto é mais político do que comercial, e a solução estrutural para o setor agrícola norte-americano passa por um acordo bilateral entre Estados Unidos e China. O Itaú BBA destacou a pressão sobre os preços provocada pelo pacote de ajuda. O produtor vai receber esse dinheiro e, eventualmente, vai achar que o preço que está hoje no mercado é suficiente para vender a soja dele. Dado que eles estão colhendo a safra, uma safra relativamente boa, com esse estímulo financeiro o produtor pode achar o preço suficiente e começar a vender, e isso trazer uma pressão de baixa para o mercado.

O efeito tende a ser temporário, e as questões comerciais seguem como principal fator de precificação. Para StoneX, injeções de caixa na agricultura costumam postergar a comercialização. Isso mantém o grão fora do mercado e pode atrasar qualquer onda de vendas dos produtores. O anúncio levanta dúvidas sobre a confiança do governo norte-americano em fechar um grande acordo com a China ainda em outubro. Se o presidente Donald Trump estivesse convicto de que fechará um acordo com a China no encontro da Apec no fim do mês, o próprio mercado valorizaria a soja a ponto de tornar desnecessário um socorro desse tamanho. A Brandalizze Consulting acredita que o acordo comercial entre Estados Unidos e China deve ser fechado, mas não nos volumes inicialmente sugeridos por Donald Trump. Provavelmente não vai ser como Trump comentou no início, de triplicar as exportações para a China. A China nem precisa de tanto volume. Mesmo compras entre 15 milhões e 20 milhões de toneladas nos próximos meses já dariam fôlego ao mercado norte-americano, que opera há seis meses sem o principal comprador.

O secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Scott Bessent, afirmou que o governo anunciaria "apoio substancial" aos produtores. A Casa Branca realizou nas últimas semanas reuniões entre os Departamentos de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) e do Tesouro para definir o formato da ajuda. Duas opções estão em discussão: destinar uma percentagem da renda tarifária aos agricultores ou recorrer ao Programa de Assistência Emergencial a Commodities, fundo do USDA utilizado em março deste ano para emitir US$ 10 bilhões em pagamentos diretos aos produtores. Donald Trump afirmou que os agricultores estão sendo prejudicados porque a China deixou de comprar soja "por razões de negociação" e que pretende discutir o tema com o presidente chinês Xi Jinping em reunião prevista para o fim de outubro, à margem da cúpula da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico em Seul (Coreia do Sul). A ausência da China do mercado norte-americano desde maio deixou os produtores sem o principal destino de exportações.

A soja é o maior produto agrícola exportado pelos Estados Unidos, com mais de US$ 24 bilhões em 2024, segundo dados do USDA. No ano passado, cerca de metade dessas exportações foi para a China, mas desde maio o volume caiu para zero devido ao embargo imposto pela China em retaliação às tarifas norte-americanas. A China implementou tarifas de 20% sobre a soja dos Estados Unidos, tornando a safra de outros países mais competitiva. A janela logística para a soja norte-americana é estreita. Mesmo com um acerto em novembro, os processadores chineses começariam a comprar apenas na metade do mês, e o trânsito do Golfo dos Estados Unidos até a China leva de 30 a 32 dias, com entregas em meados de dezembro. O Brasil começa a colher em janeiro; não há muito tempo. Qualquer venda ajudará a demanda norte-americana, que precisa desesperadamente, mas a questão é se haverá compras e em qual volume. A StoneX projetou a safra brasileira de soja 2025/2026 em mais de 178 milhões de toneladas, aproximadamente 10 milhões de toneladas acima do ciclo anterior.

A AgResource avaliou que outubro "já está perdido" como mês de vendas para os Estados Unidos e que a janela de exportações normalmente se encerra no fim de janeiro. É preciso estar preparado para a possibilidade de que nada seja feito em relação à demanda chinesa por soja. A consultoria estima vendas finais de 32,6 milhões de toneladas no ciclo 2025/2026, volume considerado baixo. Para o Itaú BBA, o impacto da compensação financeira é muito mais político para Trump dar uma resposta para os eleitores do Meio Oeste, e o fator determinante para os preços permanece sendo a questão comercial. O Itaú BBA observou que um acordo entre China e Estados Unidos representaria perda de competitividade para o Brasil. O que vai tirar a vantagem competitiva do Brasil é um acordo entre China e Estados Unidos, porque, eventualmente, as tarifas chinesas sobre a soja norte-americana cairão, e isso acontecendo a soja norte-americana ficará muito mais barata que a soja brasileira hoje. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.