08/Oct/2025
A ajuda anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, aos produtores de soja norte-americanos, estimada pela imprensa entre US$ 10 bilhões e US$ 15 bilhões, deve ser efetiva apenas no curto prazo, segundo análise do economista agrícola da Universidade Estadual de Iowa, Chad Hart. “É apenas um tratamento para o sintoma, e não a cura para o problema estrutural que afeta o mercado de soja nos Estados Unidos há anos”, afirma ele. O mercado de soja nos Estados Unidos enfrenta uma crise de altos custos de produção e preços baixos do grão desde meados de 2018, quando Trump, em seu primeiro mandato, anunciou as primeiras tarifas sobre produtos chineses. Essa história começa muito antes das tarifas atuais. A solução, segundo Hart, não se apoia somente na retomada das compras pela China. Para o especialista, a estratégia é expandir mercados. Segue a entrevista:
O valor estimado para os produtores de soja é suficiente à longo prazo?
Chad Hart: Essa é uma estratégia de curto prazo de Trump. A quantia, sem nenhum outro recurso ou medida, não muda em nada a estrutura do mercado de soja no longo prazo. No curto prazo, a medida vai auxiliar produtores a pagar as contas enquanto colhem o grão e a se prepararem para a próxima safra. É um tratamento para alguns dos sintomas, mas não a cura. Trump adotou essa mesma estratégia no seu primeiro mandato quando o setor enfrentava uma crise semelhante.
Qual é a gravidade da situação econômica dos produtores de soja dos Estados Unidos?
Chad Hart: É uma situação difícil. O mercado de soja nos EUA já estava em declínio antes da China suspender as importações. As novas tarifas, a ausência da China e uma safra muito boa sendo colhida agora são fatores ruins para o mercado. Nós atingimos o fundo do poço em termos de preços baixos e custos altos ao mesmo tempo. Isso está realmente apertando os produtores de soja.
O senhor mencionou que essa medida não é a cura. Qual seria a solução?
Chad Hart: Precisamos de uma política comercial consistente. Claro, há a expectativa de que a China retome as importações. No entanto, um país não deve depender unicamente de um mercado. É um ótimo relacionamento, até que haja um problema, como o que vemos agora. A China tem sido nosso mercado dominante há 20 anos e é difícil substituí-lo. Mas é importante equilibrar e diversificar. E esse é um desafio para os EUA e para o Brasil. Os dois precisam construir um portfólio mais amplo.
O senhor acredita que Trump e Xi Jinping devem fazer um novo acordo nas próximas semanas?
Chad Hart: A soja provavelmente será um dos assuntos principais do encontro daqui quatro semanas. Mesmo que um acordo seja alcançado, deve levar tempo até que seja implementado. A janela de exportações de soja acontece entre outubro e fevereiro. Mas é improvável que um acordo seja feito nas próximas semanas e que os embarques para China sejam retomados imediatamente. Por isso, as exportações de soja sul-americana devem seguir dominantes. Mas, certamente, muitos produtores estão esperando que um acordo seja feito para normalizar o comércio no próximo ano.
Quais são outros potenciais mercados consumidores da soja norte-americana?
Chad Hart: Tenho observado um movimento interessante do Vietnã. Não é um país grande, em aspectos populacionais, mas temos visto o aumento de renda por lá. Podemos ver o um crescimento no consumo de proteína de carne, o que impulsiona a demanda por soja. Além disso, temos o México, Taiwan, Japão e outros. Chamo atenção também para a tentativa de aumentar o uso doméstico da nossa soja, como na produção de biodiesel para substituir o combustível convencional e para utilização na aviação. O desafio, porém, é que leva tempo para encontrar novos parceiros comerciais ou para desenvolver essa infraestrutura de biocombustíveis.
Fonte: Broadcast Agro.