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07/Oct/2025

EUA: ajuda do governo pode atrasar vendas de soja

A StoneX avaliou que o pacote de ajuda aos produtores dos Estados Unidos, estimado entre US$ 10 bilhões e US$ 14 bilhões e aguardado para esta terça-feira (07/10) tende a postergar a comercialização de grãos no país e a firmar a base (diferença entre os preços futuros na Bolsa de Chicago e o mercado físico). O anúncio também levanta a dúvida se o governo norte-americano confia pouco na chance de um grande acordo de commodities com a China ainda em outubro. Injeções de caixa na agricultura costumam reduzir a pressão de venda no curto prazo. Isso mantém o grão fora do mercado e pode atrasar qualquer onda de vendas dos produtores. Se o presidente Donald Trump estivesse convicto de que fechará um acordo com a china no encontro da Apec (cúpula Ásia-Pacífico) no fim do mês, o próprio mercado valorizaria a soja a ponto de tornar-se desnecessário um socorro desse tamanho.

A janela logística para a soja norte-americana é curta: mesmo com um acerto em novembro, os processadores chineses começariam a comprar na metade do mês, e o trânsito do Golfo dos Estados Unidos até a China leva 30 a 32 dias, com entregas em meados de dezembro. O Brasil começa a colher em janeiro; não há muito tempo. Qualquer venda ajudará a demanda norte-americana, mas a questão é se haverá compras e em qual volume. A safra brasileira de soja 2025/2026 está projetada em mais de 178 milhões de toneladas, aproximadamente 10 milhões acima do ciclo anterior. O plantio continua em ritmo normal, com cerca de 10% da área nacional semeada e entre 17% e 18% em Mato Grosso.

Com uma safra dentro da normalidade e área maior, os portos chineses devem estar abastecidos com cargas brasileiras na primeira metade e possivelmente em dois terços de 2026. No cenário doméstico dos Estados Unidos, há forte demanda interna prevista por biocombustíveis, mas ainda sem regras finais. A EPA, agência ambiental norte-americana, precisa definir a RVO, que estabelece a obrigação de mistura de combustíveis renováveis, e o crédito de 50% para importação de insumos usados por usinas misturadoras. O fechamento parcial do governo, que chegou ao sexto dia, deve atrasar essas decisões. Mesmo com a demanda firme, isso não compensa a ausência da China. A StoneX questionou a narrativa de um "acordo blockbuster" em outubro. A Suprema Corte ouvirá argumentos em 5 de novembro sobre a legalidade das tarifas impostas por Trump, com decisão acelerada nas semanas seguintes. Se o veredicto for desfavorável a Trump, Xi tem menos incentivo a assinar.

Se for favorável, Xi pode esperar as eleições de meio de mandato para ver se Trump perde apoio no Congresso. Em termos de fundamentos, se as exportações de soja dos Estados Unidos subirem para o equivalente a 47,5 milhões de toneladas no ano comercial iniciado em 1º de setembro, os estoques finais cairiam para cerca de 6,8 milhões de toneladas, o que representaria uma relação estoque/uso próxima de 5,7%. Isso justificaria um preço médio nacional acima de US$ 12,00 por bushel. Nesta hipótese, o milho também teria suporte. Fica a questão: precisaria do socorro de US$ 10 a US$ 14 bilhões? Os agricultores preferem ganhar no mercado a receber ajuda? Há ainda o pano de fundo macroeconômico.

O fechamento mais longo do governo norte-americano durou 35 dias, entre dezembro de 2018 e janeiro de 2019, e custou cerca de US$ 3 bilhões, o equivalente a 0,02% do PIB. Agora, o bloqueio das atividades públicas interrompe a divulgação de estatísticas oficiais, enquanto o mercado financeiro aposta em cortes de juros pelo Federal Reserve. Essa percepção é reforçada pelo último relatório privado de emprego, o ADP, que apontou contração em setembro. O entusiasmo pode estar exagerado, mas percepção é realidade. O relatório de oferta e demanda elaborado pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) pode ser cancelado se o governo permanecer fechado, como ocorreu em 2013. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.